Gustavo Machado é engenheiro agrônomo e consultor de mercado pela Agrifatto

Resumo da semana:

Os preços de balcão do milho foram regionalizados nesta semana. As referências caíram em SP, MS e no MT, mas mantiveram-se firmes em GO.

Já os preços futuros do cereal iniciaram a última semana com ajustes para baixo (dando continuidade ao movimento da semana anterior), mas recuperaram parte dos patamares perdidos ao longo da semana.

E, assim como o milho, o câmbio também reagiu, escalado em movimento de aversão ao risco devido ao clima quente na esfera política brasileira.

As exportações seguiram a tendência sazonal já registrada nos últimos dias, ou seja, com avanço dos embarques de soja e recuo dos volumes enviados de milho.

Para a semana presente, a atenção fica por conta da movimentação dos preços futuros de milho, além de novidades sobre a safra 2019/20 nos Estados Unidos.

  1. Mercado futuro na tela

Relembrando, a segunda semana de março foi marcada por cotações futuras de milho em direção a preços menores. Já na última semana, as cotações iniciaram com novas quedas, mas recuperaram parte das perdas ao longo dos dias seguintes devido ao clima quente do mercado cambial e um movimento técnico de realização de lucros após a forte variação.

A gradual consolidação de safrinha cheia direciona os preços futuros para patamares menores, à medida em que os riscos climáticos se afastam do radar pelo avanço do desenvolvimento da safra.

Vale destacar que os contratos para o segundo semestre (julho e setembro) mostram resistência abaixo de R$ 34,00/sc – também indicado quando as cotações dos últimos anos são trazidas para valores reais (correção pelo IGP-DI).

Por isso, as quedas dos vencimentos mais longos abrem oportunidade de proteção para a necessidade nesses meses.

Já a soja em Chicago subiu no início deste mês, respondendo a notícias mais otimistas sobre a disputa comercial, embora as incertezas sobre o tema continuem limitando variações positivas.

  1. Enquanto isso, no físico…

Nesta semana, o indicador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) caiu pela  2ª semana consecutiva, e fechou a última semana cotado em R$ 38,41/sc, acumulando perdas de 7,67% desde o início deste mês. Trata-se do menor valor desde o final de janeiro.

A chegada de milho de outros estados colaborou para a pressão negativa, especialmente vindo do Mato Grosso do Sul. Em Dourados, por exemplo, o insumo caiu 8,7% neste mês, com a referência caindo de R$ 31,15 para R$ 28,50/sc.

No Mato Grosso, as quedas em bolsa e o dólar mais fraco acomodaram os valores 1,46% abaixo da referência da semana anterior, o que levou a média aos atuais R$ 23,47/sc.

Por outro lado, as referências se mostram mais sustentadas em Goiás, dada a menor disponibilidade do cereal no estado. E desde o início de março, o milho manteve os preços ao redor de R$ 33,00/sc.

Trata-se dos maiores patamares para Rio Verde em mais de 9 meses – em junho/18 o insumo tinha equilíbrio nesses níveis de preços.

  1. No mercado externo

As exportações da última semana mantiveram a tendência recente. E na comparação com o mês anterior, o país registrou avanço para os embarques com a soja, mas retração com as exportações com o milho (durante os primeiros 9 dias úteis de março).

O movimento é sazonal, embora desdobramentos da relação comercial entre EUA e China possam alterar o quadro atual por redirecionar a demanda asiática para a matéria-prima dos EUA.

O fato é que o país embarcou 4,79 milhões de toneladas de soja até a terceira semana de março, com o ritmo diário subindo 74,80% ante o mês anterior, além de avanço de 26,86% frente o mesmo período do ano passado.

Já o ritmo de embarque com o milho caiu 48,31% na comparação mensal, enviando 407,41 mil toneladas de milho, mas mantém proporção 57% superior na comparação com o mesmo período do ano passado.

A competição com o milho argentino se mostra acirrada, com o país vizinho acelerando as negociações de exportação direcionando-as aos maiores patamares das últimas 5 temporadas.

  1. O destaque da semana:

O destaque fica por conta do impacto climático sobre o setor.

Nos Estados Unidos, as enchentes ligam novamente o sinal de alerta pelo risco de comprometimento de milhares de toneladas de grãos.

A janela ideal de plantio começou agora. Se o tempo melhorar ainda há tempo hábil para desenvolvimento com condições positivas. Quando a janela se abre, os americanos são máquinas de plantar, muito rápidos e ágeis.

Nesse contexto, as previsões mais longas – nos períodos de 6 a 10 e 8 a 14 dias – mostram que no centro do Corn Belt a situação não é tranquila: a umidade é ligeiramente menor neste momento e as as áreas mais ao sul seguem bastante úmidas ainda.

É um foco de preocupação certamente, mas nada certo por enquanto.

No Brasil, a colheita da soja alcança 63% da área total. E, embora a média nacional esteja acima do registrado dos últimos anos, as operações em campo sofrem impacto pela presença constante das chuvas.

  1. E o que está no radar…

Na próxima semana, os estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná podem encerrar o plantio da safrinha.

O MT praticamente já finalizou os trabalhos, com 99,83% já semeado. O PR tem média em 94% e o MS semeou em torno de 90% da área prevista. Juntos, os três estados respondem por 75% da produção da safrinha.

E o mercado continuará acompanhando a disputa comercial entre EUA e China. Muitas especulações seguem em torno do tema, incluindo um possível acordo no curto prazo.

E a pauta política deverá continuar direcionando o dólar, após subir quase 3% na última sexta-feira (22/mar), mas com dificuldades em superar a resistência gráfica em R$ 3,90.