Gustavo Machado é engenheiro agrônomo e consultor de mercado pela Agrifatto

Resumo da semana:

Na última semana, os preços do milho mantiveram-se firme em Goiás e no Mato Grosso, mas com desvalorizações registradas em São Paulo.

Consequentemente, as cotações em bolsa para o cereal também esfriaram, com predomínio dos contratos operando em campo negativo. O ajuste acontece após resistência em buscar patamares mais altos, enquanto a expectativa de 2º safra cheia pressiona para baixo as referências futuras.

Na comparação semanal, as variações para a soja no mercado físico também foram regionalizadas. Subindo no Mato Grosso com maior intensidade, mas caindo no porto de Paranaguá.

Além disso, valorizações para o câmbio e em Chicago ofereceram oportunidades de negociações com o grão, mas o mercado de câmbio inicia esta semana se ajustando à queda predominante do dólar no exterior em meio a expectativas de que o Federal Reserve mantenha seus juros básicos inalterados.

As exportações seguem a sazonalidade e mantêm desempenho positivo. Além disso, a competição pelo mercado mundial deve ficar mais acirrada com a presença da Argentina, que registra o aumento produtivo do milho em relação às últimas 5 temporadas.

  1. Mercado futuro na tela

Na última semana, o destaque fica para a acomodação das cotações de milho na B3 (antiga BM&F).

O contrato para março caiu de modo mais expressivo, ajustando-se 4,72% ao longo da última semana. Por fim, foi liquidado em R$ 40,00/sc.

Já o vencimento para maio contou com alta de 2,72% na última sexta-feira (15/mar) e conseguiu recuperar parte das perdas que sofreu ao longo da semana, acumulada em -3,58% e última parcial em R$ 37,75/sc.

O contrato para julho tem liquidez menor, mas também registrou alívio de 2,38% ao longo dos últimos 7 dias, e fechou em R$ 34,90/sc, queda decorrente especialmente pela expectativa da safrinha.

Por fim, o contrato para setembro conseguiu recuperar mais rapidamente as perdas do início da semana e acumulou variação negativa de 1,66%, apenas, precificando mercado mais firme e maior risco a partir desse vencimento.

As quedas abrem oportunidades de proteção para a ponta consumidora do cereal.

  1. Enquanto isso, no físico…

O indicador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada para o milho contou com importantes ajustes na última semana, acumulando queda de 5,98% no período, com último fechamento em R$ 39,61 (-1,07%)

As condições climáticas e a semeadura do cereal em janela ideal mantêm as perspectivas positivas para a colheita da 2º safra. E o horizonte de boas condições já amplia a pressão vendedora.

É fato que a disponibilidade segue bastante restrita e o que se registra é avanço das negociações no Mato Grosso do Sul, especialmente. Por lá, o insumo baliza-se ao redor de R$ 29,50/sc. E os lotes que chegam a SP também colaboram para aliviar o indicador da Esalq.

A acomodação do indicador paulista encurtou o basis do milho na última semana. Na média, as cotações do cereal em Rio Verde/GO estão 7,30% menores do que o indicador de Campinas (na semana anterior estava em -9,40%).

No Mato Grosso, a demanda doméstica combinada com a baixa disponibilidade também mantém os preços firmes, com o basis passando de -17% para -14,85% na última semana.

Enquanto isso, a semeadura do milho avança rápido e tem proporção média de 91,00% no PR (Deral), de 98,86% no Mato Grosso (ano passado estava em 95,60% – Imea) e fica em 82,20% no Mato Grosso do Sul (ante 57,5% em 2018 – Famasul).

Já os preços da soja contaram com variação mista, subindo nas regiões onde a demanda interna é maior. Na semana, as cotações subiram 4,80% em Rondonópolis (parcial em R$ 68,10/sc). Já em Rio Verde/GO – caíram 6,35% no mesmo período (referência em torno de R$ 66,80/sc).

  1. No mercado externo

As negociações com o milho na Argentina estão aquecidas nestes primeiros meses de 2019. Segundo o relatório da última semana da Bolsa de Cereais de Buenos Aires, as compras para a indústria do país vizinho, somando-se os acordos para exportação, acumulam 10 milhões de toneladas entre maio/18 e metade de fevereiro/19.

Trata-se do ritmo mais acelerado na comparação com as últimas 5 safras.

No Brasil, é comum o cenário de disputa de preços para negociação antecipada. E para exportação, a referência de preços fica em torno de R$ 40,00/sc em Paranaguá.

Para a soja, os prêmios de exportação estão voláteis, mas mantêm os patamares atuais, entre US$ 0,50 e US$ 0,60/bushel. Aliás, os prêmios ainda resistem em subir a patamares mais altos com as incertezas da disputa comercial.

E nesta segunda-feira (18/mar) haverá a divulgação dos novos dados de exportações semanais.

  1. O destaque da semana:

O destaque da última semana fica para o alívio de preços do milho em bolsa, precificando uma safrinha ampla e também por ajustes para o indicador do CEPEA (resultado especialmente da entrada da matéria-prima de outros estados).

Por enquanto, as variações de preços no mercado físico devem ficar regionalizadas, refletindo a relação de oferta e demanda de cada estado.

Mas dado o ritmo acelerado do plantio no início da temporada, a colheita também deve se antecipar e acomodar os preços do mercado físico. A projeção é que a colheita ganhe fôlego a partir de meados de maio.

  1. E o que está no radar…

Nas próximas semanas, o plantio do milho deve se encaminhar para a reta final.

Os mapas climáticos também indicam chuvas para os próximos dias. Portanto, fica a expectativa de manutenção das boas condições para o desenvolvimento do milho a campo.

Para a soja, o mercado deve continuar monitorando a retórica comercial que se arrasta entre EUA e China. Além do desempenho das exportações brasileiras em meio a um cenário ainda nebuloso, já que o acordo pode trazer uma ampliação da comercialização entre as duas potências internacionais, trazendo dúvidas sobre o encaixe da produção brasileira no mercado chinês.