Stefan Podsclan é engenheiro agrícola e consultor de mercado pela Agrifatto
 

 

Resumo da semana:
Os futuros em Chicago registraram forte valorização na primeira semana do mês de maio tanto para o milho quanto para a soja. Com cenário de oferta e demanda muito justo para as duas commodities as apreensões sobre a oferta diante da safra norte-americana guiam o mercado. Nos últimos 30 dias, os contratos para os vencimentos 2021 de soja em Chicago, em média, valorizaram 13,2% e os de milho avançaram 33,6%.
Para a soja, as cotações da encerraram o pregão da sexta-feira registrando valorização superior a 3% em todos os contratos no comparativo semanal. Todos os contratos para 2021 ficaram entre US$14,00/bu e US$16,00/bu.
Os destaques foram para os contratos novembro/21 e janeiro/22, ambos registraram valorização de 7% e encerraram a semana cotados em US$14,30/bu e US$14,33/bu, respectivamente. O contrato julho/21, que apresenta maior liquidez em Chicago, fechou a semana com alta de 3,6% cotado a US$15,90/bu.
Os contratos da oleaginosa para março/22 e maio/22, interessantes para a safra brasileira 21/22, encerraram a sexta-feira valendo US$13,93/bu e US$13,80/bu, respectivamente.
Assim como a soja, os contratos futuros do milho também avançaram ao longo da última semana em Chicago.
Os vencimentos do cereal para julho/21, setembro/21 e dezembro/21 registraram valorização semanal de 8,8%, 10,5% e 12,9%, respectivamente. Na sexta-feira o contrato julho/21 encerrou o pregão em US$7,32/bu, o setembro/21 em US$6,55/bu e o dezembro/21 valendo US$ 6,32/bu.
Na B3 os futuros do milho foram pressionados pela realização de lucros e pela correção do dólar sobre a moeda brasileira que limitaram os ganhos na sexta-feira, mesmo assim, todos os contratos futuros encerraram a semana acima dos R$100,00/sc.
Por fim, a elevação da Selic em 0,75 p.p. pelo Copom trouxe desvalorização da moeda norte-americana sobre o real. O dólar que chegou aos R$5,45 durante a semana, encerrou a sexta-feira em R$5,23. A taxa básica de juros atualizada agora é de 3,5% ao ano.
 

 

1. Mercado futuro na tela
As indicações futuras ganharam força na semana dando continuidade ao cenário já observado nas últimas semanas. A expectativa sobre o relatório do USDA que será divulgado no dia 12, quarta-feira, trazendo as primeiras projeções para a temporada 2021/2022 devem guiar as cotações essa semana.
As fortes valorizações observadas na soja e milho tem suporte nos baixos estoques globais e nos EUA adicionado às previsões climáticas trazendo apreensão sobre a produção norte-americana das commodities.
A volatilidade para ambas as commodities devem continuar alta uma vez que a demanda internacional está sustentada pelo cenário de recuperação da economia global diante do avanço da vacinação e reabertura das atividades econômicas nos países. Com a oferta sobre risco, mesmo uma safra cheia nos EUA deve manter os preços CBOT da soja e do milho nos níveis atuais.
A apreensão do mercado para o cenário do milho é maior com o cenário climático no Brasil afetando a produção do milho 2ª safra, fator que deu impulso e ajuda a sustentar as cotações do cereal tanto em Chicago quanto na B3. Os contratos de vencimento maio/21 e julho/21 estão nos patamares de US$7,73/bu e US$7,32/bu, respectivamente, ambos com valorização acima de 5% na última semana e superior a 34% nos últimos 30 dias.
Os patamares atuais dos contratos futuros de milho podem abrir oportunidades de aquisição de seguro de preços via opções de compra (Put), as indicações para 2022 na B3 o cereal indica R$102,00/sc em janeiro e R$100,00/sc em março.
Para a soja em Chicago o movimento foi o mesmo do cereal, o contrato mais curto, com vencimento em maio/21 avançou para US$16,21/bu, o maior valor dos últimos 8 anos.
Os contratos da oleaginosa para março/22 e maio/22, interessantes para a safra brasileira 21/22, encerraram a sexta-feira valendo US$13,93/bu e US$13,80/bu, respectivamente. Ambos registraram valorização superior a 5% na última semana e avanço acima de 12% nos últimos 30 dias.

 

2. Enquanto isso, no físico…
A precificação do milho segue sustentada pela baixa oferta do cereal no mercado interno. Fatores como a quebra no milho 1ª safra, baixos estoques e necessidade de compra do cereal tem feito o detentor do milho esperar o comprador bater à porta e fazer oferta de compra.
Outro fator que colabora com esse movimento é o clima afetando as projeções sobre a produção do milho 2ª safra deixando, além dos compradores de milho, os agricultores retraídos em vender por não terem uma definição de qual será o tamanho da sua produção.
A expectativa é que com o início e andamento da colheita, em meados de julho, o mercado tome dimensão do tamanho da produção e assim trazer um direcionamento melhor sobre os preços que devem se manter nos patamares acima de R$100,00/sc até então e dificilmente retornará para abaixo dos R$90,00/sc diante da melhor disponibilidade no 2º semestre. Vale ressaltar que desde o início do ano e cereal já acumula alta superior a 20,8% e atualmente o indicador Cepea/Esalq de Campinas/SP tem o valor da saca negociado na casa R$102,00, somente no início de maio a saca do cereal valorizou 2,1%.
A soja registrou em abril/21 pelo indicador Paranaguá/PR o preço médio mensal de R$177,10/sc, o maior de toda a série histórica, e está mantendo o patamar no início de maio.
Fatores como os baixos estoque mundiais e nos EUA, apreensão sobre o clima e seus impactos na safra norte-americana, combinados com a demanda crescente e dólar no patamar acima de R$5,40 trouxeram excelentes preços ao produtor brasileiro durante todo mês de abril para negociar a soja disponível.
Com a revisão da Selic o dólar recuou para níveis de R$5,20 esfriando os preços no mercado interno, combinando com o bom avanço do plantio nos EUA e as expectativas sobre as primeiras projeções do USDA para a temporada 21/22 podem trazer acomodação e até mesmo recuo das cotações e impactando nos preços no Brasil. Embora os fundamentos indiquem que a saca da soja em Paranaguá/PR tende a se sustentar acima dos R$170,00, os fatores dólar e clima nos EUA irão ditar os preços no mercado interno.
Os prêmios de exportação também pode pesar nesse recuo sobre o valor da de soja no Brasil para manter o produto competitivo e atraente à exportação. Atualmente estão cotados em valores negativos, no nível de US$-0,15/bu, mas durante o mês de março diante do caos logístico chegaram a valer US$-0,45/bu.

 

3.No mercado externo
De acordo com a SECEX do Ministério da Economia, o mês de abril/21 registrou o segundo maior volume de soja já exportado pelo Brasil em um mês, foram 17,38 milhões de toneladas embarcadas para o exterior com um ritmo diário de carregamento de 870 mil toneladas. A receita total obtida com a exportação da oleaginosa em abril/21 foi US$7,2 bilhões indicando um valor unitário de US$414/ton.
Apesar do volume recorde no mês, o acumulado de 2021 comparado a 2020 é 0,2% inferior, que corresponde a uma diferença em volume de 76 mil toneladas. Já o faturamento no acumulado de 2021 em US$13,6 bilhões é 18,5% superior ao mesmo período de 2020, uma diferença de US$2,1bilhões. Fato que pode ser explicado pelo valor médio da tonelada de soja em 2021 de US$406/ton ser 18,7% superior aos US$341/ton de 2020.
Os embarques com o milho somaram 130,1 mil toneladas em abril/21 contra apenas 6,7 mil toneladas em todo mês de abril/20, fato que pode ser explicado pelas restrições impostas à pandemia para a circulação de mercadorias em diversos países. Considerando o período comercial junho-julho, o total de milho exportado de milho na temporada 20/21 é de 35,1 milhões de toneladas contra 38,2 milhões de toneladas no período 19/20.
A receita total obtida no período considerado para 20/21 é de US$6,00 bilhões inferior em 6,5% obre os US$6,42 bilhões faturados na temporada 19/20. O valor médio negociado é de US$170/ por tonelada tanto na temporada 19/20 quanto a 20/21.

 

4. O destaque da semana
O destaque da semana fica para o aumento da taxa Selic para 3,5% ao ano aliviando temporariamente as apreensões do mercado sobre os da política econômica do país buscando melhorar o clima para recuperação econômica e novos investimentos.
A atualização da Selic exerceu movimento no dólar oposto à CBOT durante a semana, colaborando para limitar as valorizações da soja no mercado interno e do cereal na B3.
O retorno da demanda Chinesa para as compras de soja e milho da safra 21/22 que está em plantio nos EUA também trouxe suporte para as cotações das commodities.

 

5. E o que está no radar…
O cenário de baixos estoques e demanda crescente deixa o sinal de alerta ligado no mercado sobre o tamanho da oferta de milho e soja, as cotações das commodities no físico, B3 e CBOT refletem essa apreensão do mercado. O avanço do plantio e o desenvolvimento das safras do cereal e da oleaginosa nos EUA estão dependentes do clima e qualquer previsão de chuvas e temperaturas desfavoráveis ao desenvolvimento das culturas vai refletir no comportamento dos preços.
Embora o USDA tenha projetado em março/21, a área plantada para as culturas ainda está indefinida sobre qual será predominante na safra 21/22 que se inicia. O forte rally de preços CBOT entre soja e milho está acirrando essa disputa e o milho está levando vantagem.
O mercado está atento ao próximo relatório de oferta e demanda do USDA. As primeiras projeções para a temporada 21/22 serão divulgadas no próximo dia 12/maio e aumentar a volatilidade dos futuros em bolsa.