Gustavo Machado é engenheiro agrônomo e consultor de mercado pela Agrifatto

 

Resumo da semana:

Os prêmios de milho mantiveram-se relativamente estáveis ao longo desta semana, balizados ao redor de US$ 0,26/bushel para os carregamentos de setembro/19 pelo porto de Santos.

Já os futuros em Chicago recuaram no mesmo período, devolvendo parte dos ganhos obtidos com os problemas do plantio de milho nos EUA.

Na comparação semanal, as cotações do milho futuro para set/19 caíram ao redor de 4% – com parcial em US$ 4,14/bushel na sexta-feira (26/jul).

E assim como o milho, os contratos futuros da soja também esfriaram ao longo da última semana em Chicago.

O vencimento para agosto/19 caiu acima de 2% nos últimos 7 dias, com parcial em US$ 8,81/bushel, trata-se do menor valor desde o início deste mês.

As quedas em Chicago também colaboraram para pressão negativa na B3. O vencimento para set/19 caiu 1,6% nos últimos 7 dias, com fechamento em R$ 36,70/sc na sexta-feira (26).

Por fim, foi determinado na noite da quarta-feira (24) pelo presidente do STF, ministro Dias Toffoli, que a Petrobras fornecesse combustível para dois navios do Irã que estavam parados há quase 2 meses em Paranaguá/PR.

O país do Oriente Médio configura-se como importante importador do cereal brasileiro, respondendo por quase 30% de todo o milho exportado em 2018.

 

  1. Mercado futuro na tela

As indicações futuras mostraram menos força nesta semana, dando continuidade ao cenário já observado na semana anterior.

As quedas das cotações de milho em Chicago se deram pela previsão de temperaturas mais baixas e de tempo mais úmido – condições positivas as lavouras de milho que devem entrar em período reprodutivo.

E na esteira das desvalorizações na CBOT, e combinado com volumes crescentes de milho safrinha chegando ao mercado físico, os futuros na B3 também perderam força.

O contrato para setembro/19 caiu 1,60% ao longo desta semana, até encontrar suporte gráfico na sexta-feira. Este vencimento fechou a semana em R$ 36,70/sc.

As quedas dos contratos futuros de milho podem abrir oportunidades de aquisição de seguro de preços via opções de compra (Call) com prêmios menores.

Em Chicago, a volatilidade para a soja continua em alta, mas predominou ajustes negativos ao longo da última semana. O contrato mais curto, com vencimento para agosto/19 caiu próximo a 2% no período.

Este vencimento fechou a semana em R$ 8,81/bushel, trata-se do menor valor desde o início deste mês.

 

  1. Enquanto isso, no físico…

Os fatores de precificação do milho começaram a perder força na última semana, um movimento que deve ser acompanhado de perto pela ponta compradora, já que oportunidades de originação estão no radar.

Após um período de forte volatilidade registrado ao longo de junho, com o mercado precificando os problemas climáticos nos Estados Unidos, os contratos futuros perderam força, e combinado com os prêmios nos portos também mais fracos, as referências no balcão passaram por ajustes.

Além disso, a maior parte dos contratos fechados para exportação já foram cumpridos, ampliando a disponibilidade da matéria-prima no ambiente doméstico.

E assim, o indicador do CEPEA caiu 1,41% ao longo da última semana, com último lançamento em R$ 36,36/sc. Em Sorriso/MT, as indicações recuaram 2% para R$ 22,60/sc, além de queda de 3% em Chapadão do Sul/MS, em R$ 26,60/sc.

E um cenário parecido também é observado para a soja, com a disputa comercial entre EUA e China limitando valorizações em Chicago, mesmo com uma produção que deverá cair 15% em 2019/20 (projetada em 104,64 milhões de toneladas – USDA)

Ou seja, o mercado está olhando para os estoques ampliados nos EUA, e para a dificuldade do país norte-americano em conseguir escoar a sua matéria-prima.

Além disso, a menor demanda asiática, devido ao surto de peste suína africana, também reduz os prêmios para a soja brasileira. Os prêmios em Paranaguá para embarques em agosto/19 chegaram a ser negociados por US$ 1,35/bushel na metade junho, mas balizam-se agora em US$ 0,82 por bushel.

Por fim, a variação do câmbio também mostrou papel relevante nesta semana, especialmente pela valorização semanal de 0,55%. O movimento cambial compensou as quedas em Chicago e dos prêmios, e praticamente manteve as indicações do grão no mercado spot.

 

  1. No mercado externo 

O Ministério da Economia divulgou os dados das exportações até a terceira semana de julho (15 dias úteis).

O país embarcou 5,73 milhões de toneladas de soja no período, registrando média diária de 382,33 mil toneladas. Queda de 19,90% do ritmo diário de embarques em relação ao mês anterior, além de recuo de 17,52% frente a média diária do mesmo período em 2018.

O valor médio por tonelada ficou em US$ 357,24 – alta de 4,37% em relação ao preço médio do mês anterior, e recuo de 10,7 p.p. em relação ao mesmo período do ano passado.

Os embarques com o milho somaram 3,75 mil toneladas, com média de 250,28 mil toneladas. O desempenho registra uma impressionante alta de 247% em relação ao mês anterior, além de um avanço de 370% em relação ao mesmo período do ano passado.

O valor médio negociado ficou em US$ 187,91 por tonelada, queda de 5,45% na comparação mensal, mas valorização de 7,45% na comparação com o mesmo período do ano passado.

 

  1. O destaque da semana

O destaque da semana fica para a autorização do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, para que a Petrobras forneça combustível aos dois navios com a bandeira do Irã. As embarcações estavam paradas em Paranaguá/PR desde o dia 9 de junho.

O imbróglio acontecia pelo temor da petroleira brasileira sofrer punições dos EUA, já que os navios constam em uma lista de sanções dos Estados Unidos.

Mas a autorização do ministro diminui os riscos de eventuais problemas com o país norte-americano, alegando que os navios foram contratados pela empresa brasileira Eleva (que não está na lista de companhias alvo de sanções dos EUA), além de o atraso nos abastecimentos estarem causando prejuízos ao Brasil.

Neste sentido, o Irã configura-se como o principal consumidor do cereal brasileiro, importando quase 30% de todo o milho exportado pelo Brasil em 2018. Na parcial deste ano, 27% do volume embarcado contou com o Irão como destino (foram 2,5 milhões de toneladas de 9,27 milhões de toneladas enviadas). 

 

  1. E o que está no radar…

Com os fatores de precificação do milho mostrando-se mais fracos na última semana, o que se registrou foram desvalorizações para essa matéria-prima pelo interior do país.

A expectativa é que a ampliação do volume disponível de milho no mercado doméstico continue acomodando as indicações de balcão, com oportunidades para a ponta compradora.

Além disso, o mercado deverá ficar atento ao próximo relatório de oferta e demanda do USDA. As projeções devem ser divulgadas no próximo dia 12 de agosto e aumentar a volatilidade dos futuros em bolsa.