Gustavo Machado é engenheiro agrônomo e consultor de mercado pela Agrifatto

Resumo da semana:

Como esperado, o carnaval tornou o ritmo de negócios mais lentos, preservando as referências do milho no mercado físico em níveis mais altos pelo baixo fluxo vendedor.

As cotações em Rio Verde – GO ficam em torno de R$ 32,75/sc (alta de 8,00% nos últimos 30 dias). No Triângulo Mineiro, a parcial ficou em R$ 36,90/sc (alta mensal de 8,70%). No norte do Paraná terminaram a semana em R$ 36,55/sc (+10% no mês) e em Sorriso/MT, balizam-se ao redor de R$ 22,09/sc (+13,60%).

Os patamares mais altos, combinados com a perspectiva de 2º safra cheia, incentivaram as negociações daqueles produtores que ainda têm a matéria-prima armazenada, ampliando o registro de novas negociações na última semana.

Portanto, começa a entrar no radar a possibilidade de alívio no mercado físico do cereal no médio-prazo. Na B3 esse movimento parece já ter começado.

Para a soja, as atenções continuam voltadas à retórica comercial, que se arrasta desde maio do ano passado. Há expectativas de acordo, mas faltam informações sólidas para acalmar os mercados e a longa duração das negociações abala a credibilidade do mercado em um final próximo.

Na esteira, observa-se as cotações da soja em Chicago nos menores patamares desde o final de 2018.

  1. Mercado futuro na tela

A última semana iniciou com a B3 fechada devido ao período de carnaval, o que limitou as variações em bolsa. Já o início desta semana foi marcado por forte queda registrada para os contratos futuros de milho.

E enquanto o vencimento para março/19 caiu 0,50% na última semana, apenas nesta segunda-feira (11/03) ele perdeu outros 1,65% de seu valor. E a queda para o contrato de maio foi ainda mais expressiva – recuo de 3,32% no início desta semana.

O mesmo cenário se deu para o vencimento de julho (-0,14% na semana e -2,41% apenas na segunda-feira) e também para setembro, com -0,17% e -2,19 p.p no mesmo período.

Após os contratos mostrarem resistência em superar os níveis de preços ao final de fevereiro, os valores futuros já vinham devolvendo parte dos ganhos. Mas nos últimos dias, o desempenho da safrinha e o clima, combinados ao avanço das negociações no mercado físico e pressão negativa no mercado internacional, aliviaram os preços em bolsa de modo mais acelerado.

Foi uma clássica realização de lucros por parte dos investidores especulativos!

E após a queda expressiva, os contratos devem tentar recuperar parte das perdas recentes próximos aos seus respectivos suportes. Mas se as condições continuarem positivas para a 2º safra de milho, as cotações devem exibir dificuldades em recuperar os patamares mais altos.


  1. Enquanto isso, no físico…

Os riscos para a safrinha ainda estão no radar. Afinal, o período que compreende o florescimento e enchimento dos grãos são fundamentais para consolidação do potencial produtivo.

Nesse sentido, as chuvas e a umidade nos solos serão cruciais nos próximos meses.

A questão é que o atual regime de chuvas continua apontando para oferta mais ampla nesta temporada. E a projeção mais recente da CONAB (relatório de março) calcula safrinha somando 66,60 milhões de toneladas – se confirmada, será uma 2º safra até 23,60% maior ante o alcançado na temporada 2017/18.

Ou seja, se os riscos climáticos e o apetite para a exportação mantinham as referências firmes, agora, esse cenário começa a passar por alguns ajustes.

E embora os lotes disponíveis ainda sejam limitados, com as negociações pontuais, houve um reporte relativamente maior para o volume de negociações com o milho no mercado físico brasileiro.

No Mato Grosso do Sul, por exemplo, integrantes do mercado reportaram que produtores aceitaram pedidas em torno de R$ 31,00/sc (FOB). Em Nova Mutum (MT), registro de negócios ao redor de R$ 27,00/sc (valor sem considerar o frete).

Já as negociações antecipadas para a safrinha 2018/19 têm disputa de preços mais acirrada entre as pontas da cadeia.

  1. No mercado externo

O Brasil embarcou 1,97 milhão de toneladas de soja, e 220 mil toneladas de milho nos quatro primeiros dias úteis deste mês (segundo o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic).

E o ritmo diário de envio com a soja manteve-se relativamente aquecido, ficando 62,20% superior ao mês anterior, e 17% ante o mesmo período do ano passado.

Por outro lado, o ritmo de embarque para o milho perdeu fôlego, caindo 37% ante as exportações de fevereiro, mas ainda 90% mais acelerado em relação a março/18.

Vale destacar que as perspectivas para os embarques brasileiros com as duas culturas são positivas para este ano, projetadas em 71,5 milhões para a soja e em 30 milhões de toneladas para o milho.

Mas uma combinação de fatores pode esfriar os embarques com a soja nos próximos meses. O primeiro continua sendo um possível acordo entre os EUA e a China. Aliás, expectativas sobre avanço das conversas podem inibir novas importações chinesas da soja brasileira.

Além disso, a peste suína Africana na China pode reduzir a sua necessidade de consumo. Enquanto isso, os prêmios brasileiros perderam tração na última semana, podendo refletir negativamente sobre os embarques das próximas semanas.

Além da maior competição com a soja norte-americana, a disputa com o milho argentino também deve ficar cada vez mais acirrada – e o USDA já estima que o país vizinho poderá embarcar 1 milhão de toneladas a mais que o volume de milho brasileiro.

  1. O destaque da semana:

O destaque da semana fica para a movimentação do milho em bolsa. Especialmente o contrato com vencimento para maio caindo 4,80% desde o início de março.

E o mercado futuro já começa a precificar o insumo em torno de R$ 34,50/sc nos meses de maior oferta – julho e setembro. Ao mesmo tempo, os contratos futuros do boi para o segundo semestre valorizaram-se.

Ou seja, a bolsa começa a apontar para cenário de maior poder de compra para o pecuarista em período de entressafra de capim.

  1. E o que está no radar…

O mercado físico do milho segue sustentado, já que a relação entre a oferta e a demanda continua ajustada.

Mas nas próximas semanas, o impacto do clima sobre o desempenho da safrinha, continuará a confirmar o potencial de produção e ajudará a consolidar a percepção do mercado.

Ou seja, entra no radar a possibilidade de as referências buscarem por novos equilíbrios de preços. Na B3 essa nova precificação parece que já se iniciou.

Para a soja, a disputa comercial entre EUA e China continua no centro da mesa. Há expectativas para que um novo acordo possa ser assinado ao final deste mês. Mas faltam informações consolidadas sobre os reais avanços das negociações.