Gustavo Machado é engenheiro agrônomo e consultor de mercado pela Agrifatto

 

Resumo da semana:

Na última semana, pouca alteração para o cenário de grãos no Brasil, com o mercado atento aos novos episódios envolvendo EUA e China.

Aliás, a tensão aumentou sobre as negociações sino-americanas, com o país asiático ameaçando cancelar pontos já acordados da negociação e com os EUA aumentando as taxações sobre os produtos chineses.

E assim, a soja na bolsa de Chicago enfrenta forte pressão negativa, os prêmios nos portos brasileiros sobem aos maiores patamares do ano, mas as cotações da soja no ambiente doméstico seguem em baixa.

Na B3, os futuros do cereal interromperam as quedas, respeitando os suportes gráficos e registrando leve correção para cima. Entretanto, a chegada do milho safrinha ao mercado tem potencial para gerar novos ajustes negativos aos contratos em bolsa.

Por fim, as negociações antecipadas com o milho safrinha avançaram em GO e no MS, já o físico segue lento pela indisponibilidade do cereal, mas os primeiros lotes devem chegar ainda neste mês e encontrar mercado mais firme.

 

  1. Mercado futuro na tela

Os preços futuros do milho mostraram correção para cima na última semana, mas apenas o contrato para maio conseguiu superar as principais resistências gráficas.

No acumulado, o maio/19 subiu 2,35% nos últimos 7 dias, convergindo com o indicador do CEPEA e fechando em R$ 32,80/sc – a liquidação deste contrato acontecerá nesta semana.

Já os contratos mais longos ainda têm certa resistência em manter equilíbrio em patamares menores, e podem retomar trajetória baixista nesta semana. Neste sentido, uma produção maior do que o esperado pelo mercado pode gerar nova pressão negativa.

Além disso, as exportações também serão fundamentais para a precificação no segundo semestre, por definirem a disponibilidade interna desta matéria-prima.

E a soja em Chicago caiu expressivamente, especialmente pelo sentimento de um possível acordo mais distante entre os EUA e a China.

Nos últimos 30 dias, o contrato da soja para maio/19 caiu 11,55%, perdendo importantes suportes gráficos e operando abaixo de US$ 8,00/bushel. E mesmo o vencimento mais longo, para março/20, busca o suporte em US$ 8,50/bushel.

 

  1. Enquanto isso, no físico…

As negociações no mercado físico com o milho ainda seguiram lentas na última semana, com a indisponibilidade do cereal deixando as cotações lateralizadas. E assim, o milho safrinha, que deve começar a chegar ao mercado neste mês, deve encontrar cotações mais sustentadas neste início de colheita.

Para entrega futura, registra-se ainda forte disputa de preços, especialmente no Mato Grosso, onde a proposta da ponta compradora fica ao redor de R$ 19,50 (FOB), enquanto o lado vendedor busca por R$ 22/23,00 por saca.

No Mato Grosso do Sul, as negociações estão mais aquecidas, com venda no spot por R$ 25,00/sc. Já para entrega em julho e pagamento no mês seguinte, as referências orbitam em R$ 23,50/sc (mesmo patamar da semana anterior).

O mercado em Goiás também se mostra mais aquecido, com negociações para entrega no próximo mês por R$ 24,00/sc (FOB).

Já a comercialização da soja no físico esfriou nos últimos dias, com os valores em queda desestimulando novas negociações pela ponta vendedora.

Nesse sentido, as desvalorizações em Chicago pesam negativamente sobre os valores domésticos, que recuam apesar do câmbio e dos prêmios subindo pelo cenário de maior risco.

Na metade sul do Mato Grosso, a comercialização oscilou entre R$ 62 e R$ 64,00/sc para entrega em junho e julho e pagamento no mês seguinte.

 

  1. No mercado externo

O Ministério da Economia divulgou os dados de exportação da primeira semana de maio, e o país iniciou o período com embarques aquecidos para os grãos.

Para a soja, o Brasil embarcou 3,78 milhões de toneladas, com um desempenho diário em 540 mil toneladas, resultado 12,7% superior ao registrado no mês anterior. Mas na comparação com o mesmo período do ano passado, o ritmo mostra queda de 8,15%, já que em maio/18 o país enviou um média de 588 mil toneladas por dia.

Os preços médios também recuaram, caindo 2,77% na comparação com abril/19 e recuando 14% ante maio/18.

Além disso, o milho exibe números impressionantes, e se esse ritmo for sustentado ao longo do ano, poderá limitar as quedas pela safra cheia e direcionar as exportações para proporções próximas ao projetado pela CONAB, em 32 milhões de toneladas.

O país enviou 253 mil toneladas na primeira semana deste mês, o ritmo diário de 36,17 mil toneladas é 78% superior ao desempenho do mês anterior, e 1.235% superior a maio/18 – período em que se registrou envio de 2,71 mil toneladas/dia.

 

  1. O destaque da semana

O destaque da semana fica para a escalada da tensão entre os EUA e a China.

Na última sexta-feira (10/mai), os EUA elevaram as taxas para 25% sobre os 200 bilhões de dólares em produtos chineses. Com a China anunciando que devem retaliar a decisão norte-americana (ainda não está claro quais atitudes o país asiático poderá tomar).

Mas o movimento dos EUA adicionou pressão sobre as negociações, após a China anunciar que cancelaria alguns pontos já acordados entre os dois países.

O fato é que os eventos da última semana deixam o ambiente de negócios ainda mais nebuloso, com valorização do dólar e avanço dos prêmios brasileiros, que alcançaram US$ 0,94/bushel para embarques em julho por Paranaguá – trata-se da maior proporção em 2019.

E ainda, o atraso das negociações mantém a demanda asiática voltada para a América do Sul, enquanto pressiona fortemente os preços em Chicago.

 

  1. E o que está no radar…

 

No radar fica o clima nos Estados Unidos, que continua com excesso de umidade e temperaturas abaixo da média para o período.

Mas nesta semana, há expectativa de tempo mais firme, o que pode possibilitar avanços dos trabalhos em campo e aproveitamento da janela ideal de plantio do milho, já que a partir do final de maio os riscos para o cereal aumentam.

Até o início deste mês, os EUA semearam 23% da área prevista com milho (a média dos últimos 5 anos fica em 46%) e completaram 6% da área esperada para a soja (a média dos últimos 5 anos fica em 14%).