A falta de chuvas nas principais regiões produtoras de soja no País deve derrubar a rentabilidade nesta safra. Apesar da estabilidade das cotações, as perdas no campo podem dificultar os investimentos em melhoria da produtividade.

“Apesar do padrão tecnológico satisfatório, o clima está bem adverso, pegando todo o Centro-Sul do Brasil, e o rendimento está piorando”, explica o chefe do setor de grãos da Datagro, Flávio França Junior. “Quem tiver uma colheita normal pode melhorar sua capitalização e seguir com investimentos na produtividade. Mas quem está perdendo safra vai ficar comprometido, mesmo com os preços se mantendo em um bom patamar.”

As condições climáticas irregulares, especialmente no Paraná e Mato Grosso do Sul, devem impedir que o resultados da safra de soja seja melhor do que no ano passado, quando a colheita atingiu o recorde de 119,2 milhões de toneladas. A projeção divulgada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) nesta quinta-feira (10) reduziu as estimativas para 118,8 milhões de toneladas em 2018/2019.

França conta que o mercado trabalha com números mais modestos. “A Conab reduziu a projeção de dezembro, que era de 120 milhões de toneladas. O mercado está trabalhando com valores menores, se fala em até 110 milhões de toneladas. Pode parecer exagero, mas a tendência é a safra ser menor que a anterior. Resta saber o quanto.”

Nesta quinta-feira, o Rally da Safra, expedição que percorre áreas de produção de soja, divulgou projeção de 117,6 milhões de toneladas nesta temporada. “Não temos mais a possibilidade de safra recorde como esperávamos no início de dezembro, mesmo com avanço de 3,1% na área plantada, chegando a 36,2 milhões de hectares”, afirmou em nota o coordenador geral do Rally e sócio diretor da Agroconsult, André Pessôa.

O relatório da Conab calcula redução de 71,5 quilos de soja por hectare em relação à safra 2017/18. O diretor presidente da companhia, Marcelo Bezerra, declarou que algumas regiões sofreram com “um veranico, ocasionando uma leve redução das estimativas.”

O superintendente de informações do agronegócio da Conab, Cleverton Santana, conta que a produtividade do Mato Grosso do Sul e Goiás foi a mais afetada pela recessão hídrica. “Apesar desses problemas específicos, a projeção é de uma performance expressiva. Nos próximos três meses, a perspectiva é que as chuvas sejam dentro da normalidade ou até mesmo acima da média.”

Preços

O sócio-diretor da Macrosector Consultores, Fábio Silveira, acredita que os preços da soja no mercado doméstico vão permanecer estáveis, devido ao estoque maior no ambiente internacional. “Isso decorre do aumento de produção dos EUA e, principalmente, da Argentina. A safra não deve crescer no Brasil, mas isso não vai levar a nenhuma grande alta de preços.” Ele destaca que a commodity deve ser impactada principalmente pelo câmbio. “É um paradoxo do País: se a economia for bem, o dólar vai ficar na casa dos R$ 3,70, o que não é bom para boa parte dos produtores, que compraram insumos quando a moeda estava por volta de R$ 3,90 e R$ 4,00. Isso corrói parte da rentabilidade da produção.”

França ressalta que estimar preços é difícil no momento diante da espera de um acordo comercial entre EUA e China. “Sem isso, as cotações dos norte-americanos voltariam a cair. Essa variável é crucial para entender a tendência.” (DCI)