Marco Guimarães é estagiário pela Agrifatto
Lygia Pimentel é consultora pela Agrifatto
As exportações brasileiras de carne bovina in natura caminham em bom ritmo em 2018 e, entre janeiro e setembro, o volume embarcado foi de 960 mil toneladas, maior patamar dos últimos 10 anos.
Os embarques de setembro/18 somaram 150,66 mil toneladas, um novo recorde, superando agosto/18 em 4,32%, quando foram enviadas 144,42 mil toneladas ao exterior.
Comparando os nove primeiros meses de 2017 com 2018, tivemos um volume exportado de 11,04% superior ao ano passado (960,025 ante 864,60 mil toneladas).
No gráfico 1, projetou-se os volumes embarcados para outubro, novembro e dezembro, de acordo com a evolução do volume exportado até setembro em relação ao ano passado e, se o aumento de 11,04% se concretizar, o volume total enviado ao exterior em 2018 será de aproximadamente 1,34 milhão de toneladas.
Ao longo dos anos, os principais importadores da carne bovina in natura mudaram sua representatividade dentro das exportações brasileiras.
Há 10 anos, a Rússia era o principal parceiro comercial do Brasil, importando 37% do total. Em 2013 e 2017, a Rússia diminuiu sua participação para 26% e 11%, respectivamente. No final do ano passado, a Rússia embargou as importações de 30 plantas frigoríficas brasileiras, o que fez o volume negociado cair 99,9% no parcial de 2018 (1º trimestre). Até o momento, o MAPA ainda não conseguiu reverter o embargo e reabrir o mercado russo para as carnes bovina e suína brasileira.
Na contramão das exportações para a Rússia, que caíram drasticamente na última década, o volume negociado com a China (e Hong Kong) vem aumentando ano-a-ano. Em 2008, os volumes embarcados para o país asiático representavam apenas 6% do total e, cinco anos depois (2013), já representavam 34%. No primeiro trimestre desse ano, as exportações para os chineses simbolizavam 46% do total.
O consumo de carne bovina é diretamente afetado por fatores políticos e econômicos das economias, que são dinâmicos, de forma que maiores rendas per capita representam maior o consumo de carne bovina (elasticidade renda-consumo positiva). Assim, analisando indicadores econômicos chineses e russos, é possível compreender a razão pela qual a China se tornou o principal destino das carnes brasileiras, e pela qual a Rússia perdeu destaque na última década.
Os chineses, entre 2008 e 2017, passaram por um aumento da renda per capita de 254%, o que viabilizou alterações na cesta de consumo da população. A China, nas últimas décadas, vem passando por um processo de urbanização, onde a população do campo está migrando para a cidade, aumentando o consumo, inclusive de proteína animal.
A Rússia, na última década, passou por uma redução do PIB per capita de 7,67%, onde cada habitante deixou de receber, em média, US$ 892,20. Mesmo com a queda, a renda do russo ainda continua 22% maior que a do chinês e 9% comparado ao brasileiro.
A evolução da renda per capita na China incentivou o consumo de carne bovina em 28%. Entretanto, por questões culturais, mais de 60% da ingestão de proteína animal da população chinesa ainda reside na carne suína. Esse fato limitou um aumento ainda maior no consumo de carne bovina.
Posto que a população da China variou de 1,325 bilhão em 2008 para 1,386 bilhão em 2017, o consumo de carne bovina total aumentou 1,44 milhão de toneladas.
Os russos, que viram sua renda diminuir em 7,67% na última década, reduziram o consumo de carne bovina em 28,87%. A produção interna e as importações de carne bovina russas diminuíram, respectivamente, 11,74% e 58,52% no mesmo período. O governo da Rússia está implementando um plano para se tornar autossuficiente na produção de carne.
O mercado asiático, tendo como principal economia a China, representa mais de 55% da população mundial, com 4,4 bilhões de habitantes. Entre 2010 e 2016, o crescimento demográfico médio foi de 1,17% ao ano e o continente apresentou 13 países com crescimento econômico acima de 5% ao longo de 2017.
A combinação entre prosperidade econômica e crescimento populacional acarretará em uma grande demanda por alimentos. O Brasil, por meio da agropecuária e das relações comerciais, terá a oportunidade de alimentar grande parte da população mundial.