Marco Guimarães é estagiário pela Agrifatto
Lygia Pimentel é médica veterinária e consultora da Agrifatto

 

Nos dez primeiros meses de 2018 foram exportadas 1,41 milhão de toneladas de carne bovina, o maior volume desde 2007, quando foram embarcadas 1,46 milhão de toneladas entre janeiro e outubro.

Destaca-se que os valores considerados nesta análise incluem carne in natura, industrializada, salgada, miúdos e tripas.

Após forte recuo em 2015 e relativa estagnação em 2016, os embarques totais subiram quase 10% em 2017. Aliás, no acumulado deste ano, os embarques totais subiram praticamente na mesma proporção, alta de 9,85% ante o mesmo período de 2017.

Deste modo, a projeção é que os embarques totais encerrem o ano com alta superior a 10%, levando as exportações de carne bovina ­in natura a um salto próximo a 15%.

No ano passado, a operação Carne Fraca, deflagrada em março de 2017, prejudicou os embarques do 2º trimestre. Já a Operação Trapaça, de março de 2018, e a paralisação dos caminhoneiros, ao final de maio deste ano, também colaboraram para prejudicar a dinâmica dos embarques no 1º semestre. Os resultados foram sentidos especialmente em abril e junho.

E o avanço das exportações no 2º semestre levou a dois recordes consecutivos para os embarques em um único mês, sendo registrados em agosto e em setembro/18. Em outubro, as proporções se ajustaram, mas ainda continuaram em bom ritmo, superando de longe o volume do mesmo período de 2017.

Novembro iniciou com as exportações aceleradas. Nos primeiros 6 (seis) dias úteis, foram despachadas 50,68 mil toneladas de carne in natura. Se o mesmo ritmo se repetir ao longo do mês, a quantidade embarcada poderá alcançar um novo recorde mensal.

Além disso, o embargo russo às carnes bovina e suína brasileiras no final de 2017 fez crescer o share chinês dentro do total brasileiro exportado e, juntamente com o crescimento das importações do gigante asitico, destacou ainda mais sua participação como destino da commodity brasileira (China: de coadjuvante a principal destino da carne bovina brasileira).

O processo mudou o perfil dos clientes externos brasileiros. Há 10 anos, a Rússia era o principal destino, sendo ultrapassada pela China em 2013.

Assim, a China compôs 42% das vendas de carne bovina brasileira para o mercado externo em 2018. O PIB chinês registrou alto ritmo de crescimento na última década. Desde agosto, o gigante enfrenta batalha contra um surto de peste suína africana. Todos esses fatores atuam positivamente sobre a demanda externa por carne brasileira.

O Egito tem sido o segundo maior destino da carne bovina brasileira em 2018, com 10% do volume total embarcado. O Chile, que até o ano passado ocupava a 6ª posição, aumentou a importação de carne bovina brasileira, subindo no ranking como o 3º principal destino.

O Irã e a Arábia Saudita, com 72,1 e 34,8 mil toneladas, respectivamente, são os principais destinos dos envios brasileiro para o mercado árabe, que tem peso na comercialização brasileira. Nas últimas semanas, houve suposições de possíveis medidas negativas a serem tomadas pelo novo governo nesta região contra a carne bovina brasileira em resposta à possibilidade de mudança da embaixada em Israel de Tel Aviv para Jerusalém.

Por fim, a Rússia retirou o embargo as importações de carnes brasileiras no final de outubro/2018. Entretanto, devido ao congelamento das águas próximas aos portos russos, é provável que o comércio com o país acelere apenas em 2019.

Nessa perspectiva, a projeção é de que o bom ritmo embarcado se estenda ao longo do próximo ano, podendo levar o Brasil a atingir novos recordes de carne bovina exportada, tanto mensais quanto no consolidado anual. A Agrifatto projeta um crescimento de 6% para as exportações totais no período.

Naturalmente, as projeções podem ser frustradas devido à possibilidade de ocorrências de ordem sanitária e política, como visto em 2017 e 2018.

De toda forma, sem maiores problemas técnicos, 2019 promete registrar números favoráveis ao comércio internacional de carne bovina brasileira.