Não é só o Brasil que sente o impacto da ausência da China no mercado global de importação de carne bovina neste início de ano. A saída momentânea do gigante asiático do comércio global da proteína vermelha – devido sobretudo aos problemas gerados pelo surto do novo coronavírus – também afeta fortemente outros grandes países fornecedores do produto,  que, como o Brasil, foram premiados no ano passado pelo enorme apetite dos importadores chineses.

Um deles é a Austrália, tradicional concorrente do Brasil no comércio global da carne bovina, que relata desaceleração nos embarques em fevereiro, puxada pela baixa participação das compras chinesas. Em 2019, pela primeira vez na história, a China tornou-se o principal comprador de carne bovina da Austrália, em termos de volume. No ano passado, os chineses elevaram  em 85% as compras de carne bovina australiana, motivados pela necessidade em buscar urgentemente proteínas substitutas à carne de porco, depois que a peste suína africana dizimou o rebanho local.

Segundo reportagem do portal australiano Beef Central, o  país da Oceania embarcou 92.968 toneladas de carne resfriada e congelada em fevereiro, com recuo de 2,3% em relação ao resultado obtido no mesmo período do ano passado, de acordo com dados do Ministério de Agricultura.

“É provável que seja apenas a ponta do iceberg, à medida que a indústria australiana passa agora para uma fase de reconstrução de rebanhos, após 18 meses de seca em escala continental”, relata a reportagem.

Estimativas mostram que o rebanho australiano de bovinos atingiu o menor patamar em 30 anos. Atualmente, os lotes de fêmeas que, em 2019, representaram 57% dos abates semanais em grande parte do ano, desapareceram rapidamente das linhas de abate das indústrias, informa o portal australiano.

Em 2019, o abate de bovinos adultos cresceu 8% sobre 2018, para 8,5 milhões de cabeças. Nos últimos seis meses do ano, o abate de bovinos adultos ficou bem acima da média de cinco anos. Tudo isso sugere que as exportações de carne bovina para o restante deste ano provavelmente serão drasticamente mais baixas que 2019, alcançando um patamar bem abaixo da média de cinco anos, pois as fêmeas são retidas para reprodução, reduzindo a oferta de animais terminados. Projeções locais apontam queda de 15% nos abates este ano, para 7,2 milhões de cabeças. (DBO)