O novo presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, disse ontem que o cenário até o fim do ano para o setor é de crescimento no volume de vendas, tanto no mercado interno quanto no externo, apesar da pressão vinda do aumento dos custos. Em entrevista ao Broadcast Agro, ele disse também que a perspectiva de resultados positivos se mantém, ainda mais com a retomada do segmento de food service.
Durante a pandemia, a mudança nos hábitos de consumo impulsionou a demanda por carne de aves, em substituição às proteínas mais caras, destacou Santin. A partir do segundo semestre, mesmo com o retorno das atividades de bares e restaurantes, ele acredita que esse consumo não será alterado, pelo menos não tão rapidamente. A perspectiva da ABPA é de que sejam produzidas de 13,7 milhões a 13,8 milhões de toneladas de carne de frango em 2020, aumento de mais de 3% na comparação interanual. Desse total, no mínimo 4,35 milhões de toneladas podem ser exportadas.
Em contrapartida, os preços no mercado interno terão um impacto negativo, em função da pressão fornecida pelo aumento dos custos. “Temos aumento nos preços de milho, de soja, além das despesas adicionais por causa da covid-19”, ressaltou.
Em relação ao mercado externo, na visão de Santin, assim como a peste suína africana a pandemia de coronavírus ajudou a fortalecer a relação do Brasil com os parceiros comerciais na Ásia, especialmente a China. “Temos um fluxo muito consistente de carne suína e de frango indo para a China, que se tornou o maior importador individual do País em ambas as proteínas”, disse. O mercado externo como um todo, segundo ele, continua puxando com forte velocidade as vendas de carne suína, que podem ultrapassar 1 milhão de toneladas neste ano.
As recentes suspensões realizadas pelos chineses a frigoríficos brasileiros, nesse contexto, não constituem um “movimento”, na avaliação do executivo, mas sim medidas pontuais baseadas no princípio da precaução. Ele lembrou que, na semana passada, entidades do setor se reuniram com o embaixador da China, que manifestou a intenção do país asiático de fortalecer as relações com os brasileiros. Nesse sentido, a expectativa é de que os embarques de proteína do País para os chineses continuem se fortalecendo em 2021, mas não apenas para eles, acrescentou Santin. “Estamos trabalhando com um panorama de demanda forte na Ásia como um todo. Filipinas, Vietnã e Cingapura, por exemplo, também estão comprando mais”.
Ao Broadcast Agro, Santin comentou, ainda, que dentre as prioridades da ABPA estão as aberturas de mercado, com destaque para México e Canadá. Segundo ele, a diminuição das tarifas de comercialização com a Índia também segue no radar, bem como a ampliação da competitividade das proteínas brasileiras no mercado internacional. Para isso, entretanto, a participação da entidade de forma ativa nas políticas públicas é fundamental, disse o executivo.
Na avaliação do presidente da ABPA, o foco do governo deve ser a “simplificação legislativa”, desburocratizando questões que costumam dificultar os investimentos do setor e encarecer a operação. Ele também citou a desoneração da folha salarial, cuja continuidade foi vetada pelo presidente Jair Bolsonaro e está em pauta no Congresso Nacional, que vai votar sobre a derrubada do veto. “A reoneração da folha vai ter um impacto na ordem de R$ 1 bilhão para o segmento de carnes suína e de frango, além de trazer demissões”, afirmou Santin. Ele acrescentou que as companhias querem trazer divisas do exterior, mas sem exportar impostos. “Na pandemia, tivemos que contratar mais de 20 mil funcionários para repor pessoas afastadas. Se vier a reoneração, esse ritmo de crescimento pode ser interrompido”.
Por outro lado, ele admite que a reforma tributária pode abranger maneiras de compensar os custos que seriam gerados com a reoneração. “A gente vai apoiar a reforma. Se ela resolver esses problemas, melhor, porque aí não carregamos essas despesas na exportação”, disse. Em paralelo, outros projetos continuam sendo acompanhados pela ABPA, como a regulamentação do novo decreto da cabotagem, programas de infraestrutura, com asfaltamento, matriz de pedágio e até mesmo a regulação de tempo em porto. (AE)