A seca que vem castigando o Oeste dos Estados Unidos mostra a necessidade de proteções mais fortes para os agricultores que enfrentam os riscos crescentes relacionados ao clima, disse o secretário de Agricultura dos EUA, Tom Vilsack.
Desde que assumiu o comando do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) no início deste ano, Vilsack pediu aos legisladores que reformulem os sistemas de apoio à agricultura e os programas de desastres para ajudar os agricultores a lidar com calamidades climáticas mais rigorosas e duradouras, disse ele. As cicatrizes econômicas deixadas por secas e outros desastres podem durar anos, estendendo-se para além das fazendas, ranchos e pomares e atingindo outros setores da economia, afirmou Vilsack na quinta-feira (24), durante o evento Global Food Forum, organizado pelo Wall Street Journal.
Agricultores, pecuaristas e outros produtores de alimentos nos Estados do Oeste enfrentam outro verão de seca, com a estiagem atingindo mais de 90% do Oeste americano, ante 43% há um ano, de acordo com o Monitor da Seca dos EUA. Reservatórios estão sendo esvaziados e alguns agricultores estão deixando os campos em descanso ou procurando fontes alternativas de água.
A seca que agora afeta os produtores agrícolas dos EUA está a caminho de ser uma das mais severas a atingir o sudoeste do país, de acordo com dados federais. A última seca rigorosa, de 2014 a 2015, custou às operações agrícolas da Califórnia cerca de US$ 5 bilhões e levou à perda de cerca de 20 mil empregos, de acordo com estimativas da Universidade da Califórnia em Davis.
Os meteorologistas afirmam que o aumento das temperaturas globais e a mudança nos padrões das tempestades estão levando a períodos de seca mais frequentes e profundos e dando à terra menos tempo para recuperar a umidade antes da próxima seca.
Juan Luciano, CEO da trading de grãos Archer Daniels Midland (ADM), entende que os períodos de seca são um risco conhecido para os agricultores e o agronegócio. Segundo ele, embora a atual seca nos EUA tenha ajudado a impulsionar os preços de grãos em um momento de forte demanda, a safra deste ano ainda pode ser volumosa. “Ainda temos potencial para uma boa safra”, disse Luciano durante o Global Food Forum.
O governo dos EUA no ano passado desembolsou um recorde de US$ 46 bilhões em pagamentos diretos aos agricultores para ajudar a aliviar o impacto da pandemia de covid-19 e das disputas comerciais internacionais. “Nossos sistemas realmente não foram projetados para a situação de seca de longo prazo que observamos na Califórnia, em Utah e no Arizona”, afirmou Vilsack. Segundo ele, esses Estados enfrentam a maior seca de sua história.
Em resposta à estiagem, alguns produtores da Califórnia estão deixando em descanso terras normalmente usadas para o cultivo de safras anuais, como tomate e melão, para desviar a escassa oferta de água para plantações permanentes em pomares e vinhedos, que exigem investimentos de longo prazo.
Shane Grant, co-CEO da Danone, disse no evento que a água é o foco da empresa, que compra amêndoas de partes da Califórnia que vêm enfrentando estresse hídrico. “Estamos trabalhando com parceiros para fazer parte da solução”, disse Grant.
Melissa Ho, vice-presidente sênior com foco em água e alimentos no World Wildlife Fund, espera que, com o tempo, os consumidores levem em consideração o uso da água nas decisões sobre os alimentos que consomem. “As perspectivas não são boas, mas temos escolhas a fazer sobre como usar a água que temos”, disse Ho.
(Dow Jones Newswires)