A estimativa para colheita de café em Minas Gerais caiu quase 20% devido a problemas climáticos enfrentados pelos produtores nos últimos meses, como geada, seca e também excesso de chuva em algumas regiões.
Segundo a Empresa de Assistência Rural de Minas Gerais (Emater), a expectativa inicial, neste ano, era de que fossem colhidos cerca de 33 milhões de sacas. A nova previsão é de uma safra de 26 milhões de sacas.
O café é um dos principais geradores de renda no estado. O grão é cultivado em mais de 600 dos 853 municípios mineiros, sendo a principal atividade econômica em 340 deles. Cerca de 4 milhões de empregos são gerados em toda a cadeia do setor.
Os produtores iniciam a colheita neste mês de maio. O gerente do Departamento Técnico da Emater, Bernardino Cangoussu, explica que a produção é bianual: de dois em dois anos há uma grande safra, que costuma dar fôlego para os produtores. Neste ano, era esperada uma colheita maior, para compensar os produtores, o que não ocorreu.
“A gente esperava uma safra muito grande. Com os preços atuais bons, era uma safra de recuperação do produtor (…) Então, o produtor inverstiu muito para esse ano e, com essas questões climáticas, ele acabou tendo uma frustração muito grande. Quer dizer, era uma safra alta para o cafeicultor se recuperar, e veio essa confusão climática que é até difícil de explicar: a gente está falando de seca, geada e chuva num prazo de quatro meses”, diz Cangoussu.
Quem está colhendo está tirando menos do que esperava, e os grãos também estão em pior qualidade, devido a essa sequência de problemas.
Mas há aqueles que nem estão conseguindo colher neste ano. É o caso do produtor Luiz Fernando Ribeiro, de Areado, no Sul de Minas. Depois que uma geada atingiu a fazenda, ele teve que erradicar metade da lavoura, e o restante está em processo de recuperação.
A expectativa era colher 5 mil sacas de café neste mês, e a perda chegou a mais de R$ 6 milhões em faturamento – parte do prejuízo foi coberta pelo seguro. Segundo Luiz Fernando, para os produtores menores, está sendo ainda mais difícil.
“A coisa foi feia, Esses pequenininhos, dizimou tudo. Veio a geada, não tinham seguro e esses não voltam mais para a atividade, não. Ficou um negócio de risco na nossa região. Primeiro a gente deitava e dormia, agora a gente deita e pensa. O sentimento é uma coisa inexplicável. É só quem teve, perdeu e gosta da atividade para ter noção do sentimento. É desanimar nunca, né, é ter fé e acreditar que o ano vai ser melhor”, afirma.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de janeiro a dezembro do ano passado, o custo do café para os consumidores subiu 56%.
O economista e colunista da CBN, Paulo Pacheco, diz que, com esses problemas, o valor pode crescer ainda mais.
“Vai subir. Existe uma pressão alta. O Brasil é quase 40% do comércio de café do mundo. Então, o que acontece aqui, primordialmente em Mina Gerais, reflete no mundo inteiro. Se Minas Gerais fosse um país, seria o maior produtor mundial de café (…) Então, é o preço internacional do café, que não tem como a gente mexer, versus a oferta, que está menor, e o Brasil é causador disso, dólar e os custos da indústria”, explica.
Agora, a preocupação é com os próximos dias. A Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg) divulgou um alerta de risco de geada entre os dias 17 e 23 de maio. Produtores já estão se mobilizando para mitigar os danos e evitar novos prejuízos.
(CBN)