O emprego formal ficou positivo em junho e no primeiro semestre de 2019, porém registra saldos muito semelhantes aos de 2018, confirmando um cenário de certa estagnação no mercado de trabalho.

Somente em junho, o saldo líquido do emprego formal foi de 48.436, resultado de 1.248.106 admissões e de 1.199.670 desligamentos, uma alta de 0,13% em relação a igual mês de 2018. Este foi o melhor desempenho desde junho de 2013 (+123.836).Já entre janeiro e junho, foram gerados 408.500 empregos, um aumento de 1,06% no estoque, quando comparado ao primeiro semestre de 2018, período em que o saldo de vagas foi de 392.461.

É o que mostra o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) referente a junho, divulgado ontem pelo Ministério da Economia.

Bruno Ottoni, pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE ) e IDados reforça que os números recentes são bastante semelhantes aos do ano passado, apesar de serem positivos.

“A conclusão é de um quadro ainda muito ruim, com uma taxa de desemprego elevada e uma grande informalidade no mercado de trabalho”, diz Ottoni. O pesquisador lembra que, em 2018, 75% das vagas criadas no País eram informais, cenário que não deve ter muita alteração este ano.

Ottoni pontua também que a liberação dos saques do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) deve elevar a expectativa de crescimento da economia, de 0,81% para cerca de 1%, porém, ainda assim, os postos gerados continuarão sendo insuficientes para absorver, não só boa parte das pessoas que estão entrando no mercado de trabalho, como também aquelas que estão na ativa há mais tempo.

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Nos cálculos dele, uma expansão de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) é capaz de reduzir em 0,4 ponto percentual a taxa de desemprego. Ou seja, uma variação muito pequena frente aos 12,984 milhões de pessoas desempregadas hoje no Brasil (12,3%)

Fim do bônus demográfico

Ottoni destaca que o bônus demográfico terminou no ano passado. Isso significa que, nos próximos anos, a população em idade economicamente produtiva – de 14 a 65 anos –, começará a diminuir em proporção aos dependentes.

Contudo, essa dinâmica impacta só mais tarde o mercado de trabalho. Isso porque, hoje no Brasil, os jovens começam a trabalhar na faixa etária dos 18 a 24 anos, depois dos 14 anos, quando o IBGE passa a considerar o início da idade ativa.

Por esse motivo, o País ainda tem o desafio de conseguir criar postos de trabalho suficientes para absorver a população entrante.

Esta também é uma preocupação do professor de economia da Faculdade Fipecafi, Silvio Paixão. Segundo ele, nossa economia precisaria gerar 1 milhão de postos formais para conseguir empregar os novos entrantes. Em 2018, o saldo líquido de trabalho com carteira assinada chegou a 529.554.

Para Paixão, contudo, o País pode alcançar um saldo de 900 mil em 2019, mas, para isso, as empresas precisarão elevar a sua confiança nas reformas estruturais que estão sendo encaminhadas (como a Previdência Social e a tributária).

Já as projeções de Ottoni indicam que, ao final de 2019, o saldo do Caged possa chegar a 540.852 (com ajuste fora do prazo) e a 387.312 (sem ajuste fora do prazo). Ele explica que essas previsões têm como base uma alta do PIB de 0,8% este ano, mas que deve revisar os números considerando um crescimento de 1% da economia. Ottoni esclarece que essas estimativas são pessoais e não pertencem ao FGV IBRE.

Durante coletiva de imprensa, o secretário de Trabalho do Ministério da Economia, Bruno Dalcolmo, afirmou que aposta na melhora dos índices de confiança para que o resultado do Caged fique mais positivo este ano que em 2018.

Por setor, somente em junho, os serviços foram os que mais geraram empregos, com saldo de 23.020 vagas, seguido por agropecuária (22.702) e construção civil (13.136). Já a indústria da transformação demitiu mais do que contratou, registrando saldo negativo de 10.988 vagas. O comércio também apresentou saldo negativo (3.007 vagas). O saldo de postos intermitentes chegou a 10.177 e, parciais, a 1.427. (DCI)