Marco Guimarães é administrador pela ESALQ/USP e trainee pela Agrifatto.
Confirmando previsão, 2019 teve início com ritmo positivo para as exportações de carne bovina brasileiras.
Em janeiro deste ano, os embarques totais de carne bovina somaram 131,27 mil toneladas, gerando receita de US$ 465,53 milhões. Um resultado ligeiramente menor em relação a janeiro de 2018 – queda de 0,55% para o volume e de 11,57% para a receita.
Já em fevereiro, foram embarcadas 146,99 mil toneladas, referentes a uma receita de US$ 526,99 milhões. Alta de 14,84% para o volume e avanço de 7,15% para a receita na comparação com o mesmo período do ano anterior.
Além disso, no consolidado do primeiro bimestre, o volume embarcado subiu 7,03% ante o mesmo período de 2018. Já para o faturamento total, houve recuo de 2,53% – resultado da queda do valor da tonelada exportada – passando de US$ 3.916,64 para US$ 3.566,90 no período, variação negativo de 8,93 p.p.
Um ponto bastante positivo fica por conta da ampliação dos números de países para os quais o Brasil passou a exportar. Enquanto nos primeiros dois meses de 2018 o Brasil havia embarcado para 121 países diferentes, neste ano o número subiu para 133, com destaque para Líbia (1.458 ton), Níger (487 ton) e Turcomenistão (296 ton). Mas os dois principais destinos continuam sendo a China e Hong Kong, que foram responsáveis por cerca de 38% do volume total embarcado (gráfico 2).
Na terceira posição aparece o Egito, que tem sido destino de 9,8% da carne brasileira enviada ao exterior. No quarto e no quinto lugar temos Chile e Irã, representando aproximadamente 5% do volume total exportado pelo Brasil.
Os Emirados Árabe Unidos, no comparativo anual, subiram da 11ª para a 6ª posição, passando a representar 3,9% das exportações. Na sequência vem Angola, com 3,1% de participação.
O grande destaque fica para a Rússia, que manteve as exportações brasileiras de carne bovina e suína embargadas entre o final 2017 e de 2018, voltando a adquirir volumes consideráveis neste início de ano. Atualmente, os russos representam 3,0% do volume embarcado, registrando um avanço de 1.678% no comparativo anual (janeiro e fevereiro).
No radar:
Até a última quarta-feira (06/mar), a China havia reportado 111 surtos de peste suína africana, uma doença altamente contagiosa e fatal para suínos, que já implicou no abate de mais 1 milhão de animais no país.
Os surtos começaram em agosto/18 e já se espalharam por 28 províncias e regiões do país, e à medida em que a doença se espalha, aumenta a dificuldade de controle, gerando expectativa de maiores importações de proteínas animais pelo país asiático.
O Chile, comparando 2018 e 2017, importou 77,7% mais carne bovina brasileira. O país andino embargou os embarques do Paraguai após um caso de febre aftosa e ampliou o número de plantas brasileiras habilitadas a exportar. Assim, a expectativa é de que os embarques continuem aquecidos.
A Rússia, que há alguns anos era o principal destino brasileiro, retomou os embarques de forma considerável e pode crescer ainda mais nos próximos meses, posto que alguns portos russos congelam no início do ano (inverno no Hemisfério Norte).
Além disso, a Austrália enfrentou enchentes que liquidaram meio milhão de animais (6% do rebanho australiano). E do total de carne produzida pela Austrália, mais de 70% destina-se à exportação, atendendo uma demanda de países com maior valor agregado, como Japão, Estados Unidos e Coréia do Sul.
O principal tipo de carne bovina exportado é a in natura, que representa 77,9% do volume total exportado pelo Brasil. Entretanto, Japão, Estados Unidos e Coréia do Sul praticamente não compram esse tipo de carne do Brasil, estando abaixo da 50ª posição no ranking de destinos brasileiros.
Provavelmente esses países recorrerão a outros mercados, que oferece carne de maior valor agregado.
O Brasil poderá se beneficiar indiretamente da menor oferta mundial de carne. Mantendo cenário positivo para as exportações brasileiras, e não se descarta que o recorde do ano passado seja renovado – quando foram exportadas 1,7 milhão de toneladas.
É importante ressaltar que os embarques ao exterior auxiliam no escoamento de carne do mercado interno, sustentando as cotações domésticas em meio à lenta retomada do consumo brasileiro.