Gustavo Machado é consultor de mercado pela Agrifatto

A paralisação do governo dos EUA entre 22 de dezembro e 25 de janeiro de 2019 foi a mais longa da história, interrompendo a sequência de boletins mensais do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.

E a expectativa de que o relatório pudesse trazer volatilidade às cotações foi frustrada com as estimativas do USDA reforçando a atual compreensão do mercado.

Ou seja, o documento aponta produção brasileira menor para a soja (mas manteve as projeções iniciais para o milho), reduziu as exportações dos EUA e ajustou as importações chinesas (consequência do surto de peste suína africana no gigante asiático).

O relatório deste mês em relação ao último boletim, publicado em dezembro/18, cortou a produção nos EUA em 1,5 milhão de toneladas – para 123,67 mi de tons, mas ainda assim maior do que os 120 milhões em 2017/18).

Para o Brasil, o USDA aponta queda de 5 milhões de toneladas, com a estimativa atual em 117 milhões de toneladas.

Já a Argentina contou com recuo mais leve: o corte de 50 mil toneladas ajustou a projeção de 55,50 para 55,00 milhões de toneladas.

Além disso, a recuperação da produção Argentina combinada à maior oferta dos EUA, deve adicionar 20,8 milhões de toneladas de soja nesta temporada – o que representa 96,70% da oferta adicional prevista pelo USDA para 2018/19.

Juntamente com a maior disponibilidade mundial, a expansão dos estoques norte-americanos limita as altas em Chicago. As reservas nos EUA devem passar de 11,92 para 24,77 milhões de toneladas entre a safra 2017/18 e a temporada atual – alta de 107,76% em 12 meses.

Somando ainda outro fator de alívio às cotações mundiais, a China deve importar 6,50% menos matéria-prima neste ano devido ao ajuste de sua demanda de 90 para 88 milhões de toneladas, resultado da disputa comercial e da Peste Suína Africana, que se alastra no país asiático. Na safra 2017/18 a China importou um total de 94,10 milhões de toneladas, uma possível desaceleração de 6,5%.

Nesse cenário de oferta mundial relativamente confortável, enquanto o principal consumidor mundial reduz suas compras, o valor médio pago ao produtor norte-americano pela soja vem diminuindo a cada novo relatório.

Se a média em 2017/18 ficou em US$ 9,33/bushel, o horizonte de preços segundo o departamento americano fica agora entre US$ 8,10 e US$ 9,10/bushel.

Milho

Para o milho brasileiro, o Departamento não alterou suas previsões, mantendo perspectiva de 94,50 milhões de toneladas. A manutenção se justifica pelas previsões climáticas apontando cenário mais favorável nos próximos meses.

Ou seja, é possível que o órgão esteja sendo conservador até que o impacto do clima se confirme sobre as lavouras brasileiras. De todo modo, o cálculo do USDA não deve impactar substancialmente as cotações domésticas neste momento.

Para a Argentina, a produção de milho deve também deve confirmar recuperação, passando de 32 para 43 milhões de toneladas. E assim, é possível que a competição pelo mercado internacional avance na América do Sul.

E diferentemente da soja, os preços pelo milho devem ficar mais firmes nos EUA, passando de US$ 3,36/bushel em 2017/18 para um intervalo previsto entre US$ 3,35 e US$ 3,85/bushel.

O principal motivo é o avanço de 0,50% da demanda interna norte-americana e alta de 4,5% para as exportações enquanto a produção cai 1,26% – reduzindo os estoques em 19% em relação ao último ano.

Por fim, a Companha Nacional de Abastecimento (CONAB), divulgará no próximo dia 12 de fevereiro suas novas projeções.