A troca do comando da campanha do presidente Donald Trump, faltando menos de quatro meses para as eleições à Casa Branca, é um dos sinais de elevada preocupação do republicano com a larga vantagem de Joe Biden nas pesquisas de opinião, que, se não for revertida rapidamente, poderá provocar sua derrota em 3 de novembro.
Donald Trump trocou o agora ex-diretor da campanha Brad Parscale por Bill Stepien, que era o subdiretor. Parscale é mais especializado em mídias digitais enquanto Stepien tem maior experiência no tradicional marketing político. A palavra final da campanha é sempre de Trump, inclusive porque designou para a supervisão geral seu genro, Jared Kushner. Parscale e Stepien assumiram suas posições recentes por decisão de Kushner, com o aval de Trump.
“Trump sabe que está perdendo as eleições e a mudança de comando da campanha na atual conjuntura é uma indicação clara de desespero”, comentou à coluna o professor Paul Sracic, diretor do departamento de ciência política da Youngstown State University, em Ohio.
A troca ocorre em um contexto marcado por pesquisas nacionais que continuam mostrando substancial liderança de Joe Biden perante Donald Trump. Levantamento feito pela ABC News/Washington Post entre os dias 12 e 15 de julho com eleitores registrados apontou que o democrata tem 55% contra 40% do republicano. A diferença de 15 pontos porcentuais ficou maior ante a vantagem de dez pontos porcentuais apurada no final de maio, quando Biden tinha 53% e Trump, 43%. Outra pesquisa, realizada pela Fox News também entre 12 e 15 de julho, mostrou Biden com 49% e Trump com 41%.
Nas pesquisas há uma piora das avaliações dos entrevistados sobre o combate à pandemia do coronavírus pela administração Trump e há uma avaliação menos favorável para as perspectivas da recuperação do nível de atividade dos EUA sob o comando do presidente.
No levantamento da Fox News, 51% destacam que a disseminação da doença está sem controle no país, contra 35% que tinham tal opinião entre os dias 17 e 20 de maio. Além disso, Trump está perdendo apoio de eleitores sobre sua gestão da economia, pois entre 13 e 16 de junho a aprovação era de 49% contra 46% de desaprovação, mas agora as avaliações positivas e negativas estão no mesmo nível, em 47%.
Segundo o estudo da ABC News/Washington Post, em março os americanos tinham mais segurança no presidente para combater o coronavírus, o que gerou uma vantagem de dois pontos porcentuais, 45% contra 43%, ante o ex-vice-presidente democrata. Entre 12 e 15 de julho, no entanto, Donald Trump ficou 20 pontos porcentuais atrás, 34% contra 54% de Joe Biden. Desta forma, caiu também a confiança dos cidadãos em relação a Trump para dirigir a economia ante Biden, pois há quase quatro meses tinha uma liderança de 50% contra 42%, mas a diferença baixou e atualmente está em dois pontos porcentuais, 47% contra 45%.
Outra indicação de que Trump está ansioso por uma radical reversão de sua situação nas pesquisas nacionais é sua posição de forçar a abertura dos Estados a todo custo. Ele inclusive prega de modo contundente que os governadores imponham a volta às aulas nas escolas públicas de modo presencial em setembro.
A aposta do presidente é que a reabertura das escolas, assim como do comércio e outras atividades econômicas, contribua para a recuperação do nível de emprego e, portanto, favoreça sua reeleição. Mas muitos governadores, professores e pais de alunos veem a posição do presidente com grandes reservas, pois acreditam que ela representa riscos à saúde de profissionais nas escolas e de estudantes.
Trump também determinou no começo do mês que estudantes estrangeiros de universidades americanas precisariam deixar o país rapidamente, caso as instituições de ensino superior adotassem basicamente aulas online a partir do próximo mês. A ideia era pressionar as universidades a voltarem “ao normal”, mas a medida foi vista como excessiva por muitas instituições e levou algumas delas, como Harvard e o MIT, a moverem um processo contra o governo. A medida seria desfavorável inclusive para a retomada do PIB nacional, dado que há cerca de um milhão de alunos internacionais no país, que movimentam na economia um total próximo a US$ 41 bilhões por ano. Depois de semanas de negativa repercussão pública, o presidente decidiu revogar tal ordem federal.
Trump teria melhores chances de mudar sua sorte junto à preferência do eleitorado se alterasse a estratégia para enfrentar o coronavírus, apesar de ontem ter defendido o uso de máscara de proteção do rosto pelos americanos. Ele precisaria seguir outras medidas defendidas por autoridades médicas do seu governo, como o aumento muito grande do número de testes para covid-19, incremento substancial de equipamentos de análise deles e ações rápidas de rastreamento de pessoas contaminadas pelo novo vírus em dezenas de cidades pelo país. Também seria importante a liberação de verbas federais para Estados a fim de preparar as escolas para as mudanças em espaços físicos e transporte de ônibus, medidas necessárias para obedecer regras de distanciamento social.
Mas são pequenas as expectativas de que Trump vai mudar em grande medida sua postura política, sobretudo devido ao seu estilo centralizador e pouco inclinado a reconhecer enganos, pois ele acredita que seria um ato de fraqueza e seria mal visto por seus apoiadores mais conservadores e de extrema direita.
Faltam pouco mais de cem dias para as eleições presidenciais nos EUA e vários fatores podem mudar a opinião do eleitorado, como os três debates transmitidos pela televisão que Donald Trump deverá realizar com Joe Biden. Contudo, sem modificar de forma ampla o combater à covid-19, seguindo orientações dos cientistas, muitos acreditam que Trump poderá ser derrotado, o que era avaliado como pouco provável até fevereiro, quando a economia estava em pleno emprego antes da pandemia do coronavírus. (AE)