Na Agrifatto, acompanhamos incansavelmente o ciclo pecuário.

É verdade, alguns dizem que ele não existe mais. Culpa da evolução do confinamento (leia-se nível tecnológico empregado nas propriedades), da disponibilidade de crédito ao produtor nos últimos anos ou até mesmo da concentração dos frigoríficos. Seja como for, insistimos em discordar.

De fato, quando as coisas apontam para alguma direção clara é difícil enxergar uma mudança de tendência, mas acreditamos que toda atividade econômica evolui em ciclos. E também assim ocorre com a pecuária.

O bezerro sempre nos dá a dica, e desta vez não tem sido diferente, observe:

Gráfico 1.
Evolução da margem da cria e abate de fêmeas.
Ciclo
Fonte: IBGE/Agrifatto

Quando focamos no último período do gráfico, fica visível a dificuldade da margem da cria em criar novas máximas enquanto a taxa de fêmeas abatidas cria novas mínimas. Isso significa que temos retido fêmeas que estão servindo para produzir mais bezerros. Como resposta, a variação do preço do bezerro já não consegue superar a variação dos custos de produção, deixando a margem praticamente estática na comparação entre 2015 e 2016.

Mas você pode argumentar: “a margem da cria continua nas máximas históricas, como você pode afirmar que o ciclo virou?”

E eu respondo: “porque estamos aumentando geometricamente o inventário de bezerros”.

As fêmeas que começaram a ser retidas em 2013 já estão na sua segunda produção de bezerros, e ainda estamos segurando mais fêmeas. Isso significa que estamos aumentando nossa capacidade de produzir bezerros, fazendo sua oferta crescer ao longo do tempo.

O segundo movimento deste fenômeno é, invariavelmente, uma interferência negativa nos preços reais do boi gordo, já que criamos bezerros para engordá-los e mais bezerros significam mais bois gordos no futuro.

Isso significa que existe um grande problema em comprar bezerros agora: muito provavelmente você ainda pagará caro por essa reposição ao mesmo tempo que poderá vendê-lo em um momento em que o mercado esteja ruim para o animal terminado.

A verdade é que não é vantajoso economicamente paralisar a fazenda e aguardar a relação de troca voltar a níveis civilizados. O custo da ociosidade acaba interferindo sobremaneira sobre a margem.

A solução é, portanto, acelerar a engorda e otimizar a diluição de custos fixos, algo que faz sentido na produção de qualquer commodity. Em outras palavras, economia de escala é o que necessitamos para sobreviver às fases de baixa dos ciclos pecuários.

Um grande abraço e até a próxima!