Gustavo Machado é consultor de mercado pela Agrifatto
Nas últimas semanas, a oferta mais confortável de animais terminados em confinamento ampliou as programações de abate, trazendo o equilíbrio de preços para patamares menores. Esse cenário deve continuar nas próximas semanas, limitando a valorização da arroba.
Por outro lado, o atacado sazonalmente passa por revisões no 2º semestre, repassando os custos mais elevados pelo período da entressafra, em um momento de ampliação do consumo com as festas de fim de ano.
Ou seja, a combinação da arroba pressionada para baixo com o atacado passando por reajustes deve ampliar o spread carne com osso/arroba no curto prazo, o que também colabora para um mercado mais dinâmico.
E ainda, a competividade da proteína bovina no atacado avançou a partir de junho, já que a paralisação dos caminhoneiros alterou o ritmo de produção das indústrias, ajustando a oferta e fazendo subir as cotações das proteínas concorrentes.
Observe pelo gráfico 1 como a curva buscou patamares menores recentemente, com a comparação com o frango resfriado recuando aos níveis de dezembro/2016.
A relação se dá dividindo o valor da carcaça casada bovina com o preço de seus concorrentes no atacado. E na medida em que as cotações se aproximam, mais forte fica a competição do boi casado.
O boi casado mais competitivo acontece pela valorização mais intensa das proteínas concorrentes no atacado.
O gráfico 2 demonstra a variação acumulada para os seus preços desde o início de 2017, e as alterações mais comedidas para a carcaça casada bovina demonstra uma dificuldade maior da indústria em repassar os custos para os segmentos seguintes. Consequência de um consumo interno ainda fragilizado.
O mesmo se registra no varejo, onde as valorizações para a carne suína e para o frango limpo acontecem em maior intensidade.
Além disso, fortes ajustes e reajustes acontecem logo após a paralisação dos caminhoneiros, e a valorização recente também pode estar, em alguma medida, relacionada com o financiamento de campanha eleitoral – que injeta pontualmente maior volume de dinheiro circulante na economia.
Deste modo, os valores mais competitivos podem colaborar para o escoamento de carne bovina no atacado e no varejo, dando vazão a reajustes das cotações.
Por outro lado, enquanto houver oferta mais confortável de bovinos terminados por confinamento, os preços pecuários continuarão pressionados. Veja pelo gráfico 3 a ampliação as programações de abates entre setembro e outubro.
Portanto, ainda que o consumo continue fragilizado, um repique para a demanda em dezembro, pode puxar para cima as cotações, especialmente com a oferta de confinamento terminando antes deste período.
Para dezembro, o contrato futuro na B3 pode exibir fortalecimento se a projeção acima se concretizar, e se confirmada, poderá trazer oportunidades de trava via mercado futuro.
Já em janeiro, período com concentração de contas a pagar (IPVA, IPTU, material escolar e despesas do final de ano), podem esfriar o consumo, e na esteira, acomodar o valor da arroba.
Atualmente, o contrato na B3 com vencimento para janeiro exibe baixa liquidez, e deve passar por ajustes. Mas registra valor similar ao praticado hoje, ou seja, vender contratos futuros de uma parte dos animais que estarão prontos em janeiro, significa fixar o valor atual para os próximos três meses.
Se o contrato em bolsa variar para cima, desembolsa-se ajustes negativos, mas compensados por um físico mais fortalecido.