O dólar subia na manhã desta quinta-feira e chegou a superar os 5,20 reais nos picos do dia, acompanhando o movimento do mercado de câmbio internacional depois que seu índice contra uma cesta de pares fortes renovou máxima em duas décadas em meio à forte demanda por segurança no exterior.
Às 10:32 (de Brasília), o dólar à vista avançava 0,54%, a 5,1735 reais na venda, depois de mais cedo chegar a saltar 1,27%, a 5,2110 reais. Caso mantivesse esse patamar até o fim dos negócios, a moeda teria registrado uma máxima para encerramento desde 14 de fevereiro passado (5,2195).
Na B3, às 10:32 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,59%, a 5,2030 reais.
A valorização acompanhava o índice do dólar contra seis rivais de países ricos, que chegou a tocar um novo pico desde dezembro de 2002 nesta manhã, de 104,54, embora tenha reduzido ligeiramente os ganhos no dia após dados mostrarem uma desaceleração na inflação ao produtor norte-americano em abril.
Às 10:32 (de Brasília), o índice do dólar subia 0,45%, a 104,490. A moeda dos Estados Unidos também avançava contra divisas de países emergentes ou sensíveis às commodities, como peso mexicano (+0,4%), peso chileno (+0,8%), rand sul-africano (+0,7%) e dólar australiano (+0,9%).
Participantes do mercado, no geral, avaliavam o comportamento do dólar nesta quinta-feira como uma continuação da tendência recente de apreciação, que tem sido sustentada por temores de que o banco central dos Estados Unidos intensificará seu aperto monetário num contexto delicado para a economia global. O Federal Reserve elevou os custos dos empréstimos em 0,5 ponto percentual neste mês, na maior dose em 22 anos, diante da inflação crescente.
“Em meio à perspectiva de elevação mais agressiva dos juros nos EUA e temores de uma forte desaceleração econômica na China, causada pela política zero-Covid, os mercados internacionais vêm adotando um viés negativo, que acabou se intensificando no mês de maio”, explicaram em nota analistas da XP. “As bolsas globais vêm sofrendo em meio a esse sentimento de cautela, que, em contrapartida, beneficiou a moeda americana e auxiliou sua valorização em relação às demais moedas.”
No mercado acionário dos EUA, por exemplo, o índice Nasdaq, de forte peso de papéis de tecnologia, acumula perda de mais de 27% em 2022. As vendas em Wall Street têm afetado o Ibovespa, que já devolveu todos os ganhos que havia registrado no primeiro trimestre deste ano.
O real, por sua vez, ainda acumula alguns ganhos frente à moeda norte-americana em 2022, com o dólar cedendo mais de 7% em relação ao fechamento do ano passado. Mesmo assim, a divisa dos EUA já se recuperou mais de 12% em relação à mínima deste ano, de 4,6075 reais, atingida no início de abril.
“O movimento de reversão de tendência que a gente viu no mercado a partir de abril –depois de um primeiro trimestre bastante positivo para o real–, dada a velocidade com que aconteceu, reforça a visão de que a apreciação do real no começo do ano estava calcada em fluxos de natureza especulativa, que poderiam sair do país a qualquer momento”, disse à Reuters Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho.
Ele também acredita que o salto expressivo do real nos primeiros três meses do ano –quando o dólar caiu 14,5%, seu pior trimestre desde meados de 2009– refletia em parte o patamar bastante subvalorizado em que estava a divisa brasileira ao final de 2021. Agora que o preço do dólar já foi ajustado a níveis mais condizentes com a realidade, “não o vejo voltando para as mínimas do ano”, disse Rostagno, citando o ambiente de cautela internacional.
Ele espera que a moeda norte-americana oscile numa faixa entre 5 e 5,50 reais daqui até o final do ano. O teto de sua previsão não deve ser superado devido ao apoio que a Selic alta, atualmente em 12,75%, tende a oferecer para a divisa doméstica ao elevar a atratividade do mercado de renda fixa.
A moeda norte-americana negociada no mercado interbancário fechou a última sessão em alta de 0,22%, a 5,1455 reais na venda.
(Reuters)