(Reuters) – O dólar fechou colado no patamar psicológico de 4 reais nesta quarta-feira, no maior nível em sete meses e meio, atingido por clima de incerteza no campo político doméstico e discussões sobre corte de juros, além de um pano de fundo no exterior ainda confuso.

De acordo com análise técnica, um fechamento acima de 4 reais poderia acionar ordens automáticas de compras da moeda (“stops” de compra, no jargão do mercado financeiro), num movimento que daria ainda mais fôlego ao dólar e poderia deixar os 4 reais mais como piso do que como teto.

“O real está se assentando num patamar recorde de anos, no meio de uma maciça formação técnica”, disse um analista técnico de uma corretora de São Paulo que pediu para não ser identificado.

Num gráfico de longo prazo, os níveis atuais do dólar só se comparam aos vistos entre o fim de 2015 e início de 2016 e 2002.

A máxima histórica do dólar para um fechamento é de 4,1957 reais, batida em 13 de setembro de 2018. Desde então, a moeda entrou em rota de baixa, até uma mínima de 3,6588 reais em 31 de janeiro deste ano.

“Fechando acima de 4 reais, o dólar finalmente quebra a tendência de baixa iniciada em setembro de 2018”, diz a Real Vision Research em comentário a clientes.

O dólar à vista subiu 0,51% nesta quarta-feira, a 3,9962 reais na venda. É o maior patamar para um encerramento desde 1º de outubro de 2018 (4,0183 reais). Na máxima durante o pregão, a moeda foi a 4,0225 reais, com ganho de 1,17%.

Na B3, o dólar futuro tinha valorização de 0,62%.

O real teve o pior desempenho numa lista de 33 pares do dólar nesta sessão, o que reforça a percepção de que fatores domésticos pesaram mais.

O mercado segue incomodado com a aparente falta de articulação do governo, o que pode ameaçar os esforços pela aprovação da reforma da Previdência no Congresso, com o governo ainda sem base consolidada.

Segundo analistas, o real está imerso numa condição técnica negativa que só pode ser quebrada com ingressos de recursos, que dificilmente ocorreriam sem a aprovação da reforma.

Soma-se a isso o menor diferencial de juros a favor do Brasil. A quarta-feira foi mais um dia de especulações sobre necessidade de cortes da taxa básica de juros, a Selic, à medida que a economia fraqueja.