O dólar caiu mais de 2% ante o real nesta terça-feira, fechando na mínima em mais de uma semana, em movimento que capturou novo dia de apetite por risco no mundo após dados de atividade melhores que o esperado no exterior e declarações favoráveis ao acordo comercial EUA-China.
O dólar à vista cedeu 2,26%, a 5,1531 reais na venda. É a maior queda percentual diária desde 8 de junho (-2,66%) e o menor patamar desde 15 de junho (5,1421 reais).
A cotação oscilou nesta terça entre baixas de 2,60%, a 5,1350 reais, e de 0,84%, para 5,2279 reais.
Na B3, o dólar futuro recuava 1,79%, a 5,1605 reais, às 17h07.
No exterior, o índice do dólar contra uma cesta de moedas fortes cedia 0,2%, enquanto o euro e moedas como dólar australiano, peso mexicano e rand sul-africano se valorizavam na esteira do clima favorável a ativos mais arriscados.
Dados preliminares de atividade nos EUA e na Europa mostraram quedas menos intensas em junho, reforçando esperanças de que as principais economias possam se recuperar antes que o previsto do tombo causado pelos bloqueios decorrentes da crise de saúde do Covid-19.
Além disso, o mercado se apegou a tentativas de autoridades dos EUA de “apagar o incêndio” causado na véspera pelo assessor comercial da Casa Branca, Peter Navarro, o qual disse que o pacto comercial entre EUA e China estaria “acabado”.
Ainda na segunda-feira, o presidente norte-americano, Donald Trump, afirmou que o acordo estava “totalmente intacto”. O diretor do Conselho Econômico Nacional dos EUA, Larry Kudlow, repetiu as palavras de Trump. E o próprio Navarro voltou atrás em suas declarações e disse que seus comentários foram interpretados “extremamente fora de contexto”.
No plano local, analistas chamam atenção para os movimentos nos mercados de câmbio e ações. Enquanto o dólar teve forte queda nesta terça, o Ibovespa não chegou a anular na sessão as perdas da véspera, quando o dólar também caiu.
“Uma das alocações que mais ‘andou’ esse mês foi o Comprado em Ibovespa e Comprado em Dólar. Estamos vendo alguma ‘realização de lucros’ destas posições nos últimos dois dias”, disse Dan Kawa, sócio da TAG Investimentos.
O Ibovespa subiu 0,7% nesta terça, segundo dados preliminares, após cair 1,28% na segunda, dia em que o dólar recuou 0,86%.
O real liderou com folga os ganhos entre as principais moedas nesta sessão. Analistas também atribuíram a força “extra” à sinalização mais cautelosa do Banco Central sobre novos cortes de juros, conforme ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) publicada na manhã desta terça-feira.
No documento, o BC apontou que o país já estaria próximo do limite efetivo mínimo para a taxa básica de juros Selic, a partir do qual novos cortes seriam contraproducentes.
A Selic foi reduzida na semana passada a nova mínima recorde de 2,25% ao ano, e alguns no mercado veem taxa de juros ao fim de 2020 em 2% ou até menos. Quanto menor esse patamar, menor o retorno pago pelo Brasil em títulos de renda fixa, o que desestimula aplicação na renda fixa doméstica, já que outros emergentes têm juros mais altos e medidas mais baixas de risco.
Mas o Goldman Sachs acredita que um corte adicional da Selic em agosto ainda é provável, sem prejudicar em demasia o câmbio.
Para Alberto Ramos, diretor de pesquisas econômicas para a América Latina do banco privado, previsões de inflação para 2021 “muito confortáveis” e núcleos de inflação rodando abaixo de níveis compatíveis com cumprimento da meta sugerem que novo corte é mais provável do que não, “barrando mais elevações no prêmio de risco fiscal e/ou uma performance significativamente mais fraca para o real”, disse Ramos em nota. (Reuters)