Lygia Pimentel é médica veterinária e consultora de mercado pela Agrifatto

Fazendo o uso de muito eufemismo, posso afirmar que 2017 tem sido um ano bastante desafiador. Tratamos diversas vezes neste espaço sobre as dificuldades inesperadas que levaram a arroba a escorregar 12% em apenas 3 meses, levando as cotações às mínimas nominais registradas desde agosto de 2014.

Via de regra, o impacto da penalização do mercado sobre o preço da arroba reflete rapidamente sobre as propriedades que aplicam um maior pacote tecnológico. Em outras palavras, o efeito de desinvestimento é rápido para quem realiza a recria/engorda. Acompanhe na figura 1 a evolução dos preços conforme as ocorrências registradas ao longo do ano.

Não à toa, o primeiro giro do confinamento 2017 registrou pífio volume de animais, obviamente trazendo consigo também um os efeitos sobre a oferta de animais terminados. Isso ocorreu, principalmente, considerando que estamos no período de entressafra e que as temperaturas registradas durante o inverno de 2017 estiveram abaixo do normal, causando geadas e piora drástica das condições de suporte das pastagens.

O aumento da oferta durante a transição para o período seco foi intenso, portanto, levando consigo as escalas de abate. Observe a figura 2.

A partir do fim da desova de animais e início da entrada da oferta de animais de confinamento, tornou-se possível sentir os reflexos sobre os preços.

Ainda dentro desse contexto, a diferença entre os preços pagos pela arroba do boi gordo e o valor recebido pela carne com osso no atacado sugeriam que as margens dos frigoríficos trabalharam em bons patamares ao longo de todo 2017, o que representa mais um fator de sustentação para que os frigoríficos subissem a oferta pelo preço do boi gordo.

Por fim, as exportações registraram boa recuperação após a deflagração da Operação Carne Fraca e indicam que 2017 poderá recuperar plenamente os problemas vividos entre março e abril.

Isso dito, é importante reviver o passado para tentar projetar o futuro.

Atualmente, a ala de preços recuperou as margens da engorda intensiva e aumentou consigo o fluxo de animais colocados nos confinamentos Brasil afora.

Com os preços mais baixos praticados pelo milho e pela reposição, o movimento foi rápido e contínuo, o que pode apresentar reflexos a partir de outubro, início da liberação dos animais engordados no segundo giro.

Ainda há de se considerar a exaustão do consumidor brasileiro, uma vez que a recuperação econômica se desenvolve de maneira lenta e tímida diante do quadro político de difícil resolução.

Portanto, a BM&F reflete preços que já consideram a atual valorização da arroba e encurtamento das escalas e, a qualquer momento, pode começar a refletir sobre os contratos futuros a maior oferta de animais a ser liberada no mercado a partir de outubro.

É um bom momento para realizar negócios.

Um forte abraço e até a próxima!