O governo australiano aconselhou as empresas exportadoras do país a procurar novos mercados e reduzir a dependência em relação à China, em meio ao agravamento de uma disputa entre os dois países em torno da covid-19. Os embarques da Austrália à China superam US$ 4 bilhões por ano.
Membros do governo fizeram o alerta a exportadores durante uma conferência virtual na quinta-feira que discutiu ameaças informais feitas por importadores chineses aos exportadores australianos.
Os importadores relataram que Pequim pretende vetar as compras de vinho, lagostas, cobre e outros bens a partir desta sexta-feira. Uma fonte que participou do evento disse ao “Financial Times” que eles foram avisados pelas autoridades que as relações bilaterais com a China dificilmente melhorariam no curto prazo e que eles deveriam começar a explorar outras opções.
O alerta chega depois da decisão de Pequim de impor tarifas contra as importações de cevada e cortes de carne da Austrália e de ter começado uma investigação antidumping sobre as remessas de vinho australiano. Essas medidas foram anunciadas pela China depois que Camberra defendeu, em abril, uma investigação sobre a origem da epidemia de covid-19 em Wuhan.
Desde então, as relações comerciais e diplomáticas entre os dois países chegaram ao pior momento em uma geração, com alguns exportadores australianos enfrentando dificuldade para passar com seus produtos pela alfândega chinesa.
Na semana passada, um carregamento de lagostas australianas no valor de US$ 1,45 milhão acabou perdendo a validade no aeroporto de Xangai depois que técnicos locais ordenaram uma série de novos testes de saúde e segurança. Alguns exportadores de carvão relatam o mesmo tipo de atraso.
O ministro do Comércio da Austrália, Simon Birmingham, disse que o governo chinês negou haver algum esforço coordenado para restringir a entrada de produtos australianos. O ministro afirmou, porém, que há muitas divergências entre o que Camberra vem ouvindo de Pequim e o que os exportadores vêm relatando. Birmingham afirmou que os problemas no comércio exterior dos últimos meses aumentam drasticamente os riscos para os exportadores australianos na China e sinalizam que algumas empresas começarão inevitavelmente a procurar mercados alternativos na Ásia, como Japão, Coreia do Sul e Indonésia.
A China é o maior parceiro comercial da Austrália. O momento de tensão prejudica os exportadores num período em que a demanda por certos produtos, como o vinho, já sofreu forte queda durante a pandemia. Parece haver poucas perspectivas de qualquer recuperação rápida nas relações bilaterais.
O jornal estatal “China Daily” publicou um editorial alertando que a Austrália iria “pagar tremendamente por seu erro de avaliação” em conspirar com Washington para tentar conter a China.
O analista Richard McGregor, do Lowy Institute, de Sydney, disse que “o governo australiano parece resignado com o golpe econômico que sofrerá, mesmo em meio a uma recessão, já que eles dificilmente podem fazer uma mudança total na política externa sob uma pressão tão aberta.”
Camberra admitiu não estar recebendo mais retorno para as ligações telefônicas que faz a seus pares chineses. Birmingham considerou decepcionante que Pequim ainda se recuse a envolver-se em conversas na esfera ministerial. (Valor Econômico)