Caroline Matos é graduanda em zootecnia pela USP e estagiária pela Agrifatto
Gustavo Machado é engenheiro agrônomo e consultor de mercado pela Agrifatto

 

A estiagem em janeiro deste ano, período chave para o desenvolvimento do capim, comprometeu a terminação dos animais e alterou a sua distribuição durante a safra.

Uma consequência importante dos problemas climáticos neste ano, se mostrou pelo final da safra de capim mais tardio nesta temporada, concentrando a oferta de bovinos terminados ao longo de julho.

Naquele mês, a maioria das escalas alongaram-se para um intervalo entre 8 e 10 dias, exceto a região norte do país, como o observado em Rondônia, onde as programações médias registraram-se em 6 dias (considerando abates de sábado).

Quando o frio e o período seco retiraram o suporte das pastagens, ampliando a oferta, os preços perderam força, e predominou um mercado mais calmo com as cotações lateralizadas no período.

Esse mercado mais apático, com programações mais alongadas em praças de São Paulo, Mato Grosso e Goiás manteve-se até o final deste mês (ago/19), com um mercado sustentado, mas ausência de altas explosivas.

Já ao final de agosto, a entressafra começou a tomar forma, com as indicações de balcão passando por revisões positivas. Posto o período de entressafra, analisamos a movimentação do diferencial de base, pelo seu potencial em indicar a consistência das variações de preços no balcão.

Mato Grosso do Sul

O Mato Grosso do Sul se destacou em agosto pelo encurtamento das suas programações de abate, refletindo em reajustes positivos para a arroba do boi gordo. Esse movimento levou ao encurtamento do diferencial de base (DB) no mesmo período.

O DB caiu 0,52% entre julho até metade de agosto, com parcial no mês em -7,54%. Entretanto, mesmo com essa diferença mensal, o DB deste ano está mais ampliado ante o mesmo período do ano passado.

Em 2018, o intervalo entre setembro e novembro marcou os menores diferenciais para o ano (Gráfico 2). Portanto, com a oferta já se mostrando mais regulada neste estado, há expectativas de que esse movimento se repita nesta temporada, aproximando os valores entre SP e o MS nos próximos meses.

E ainda, o diferencial de base mais estreito foi alcançado em novembro/18, chegando a 2,8%, quando a arroba custou em média R$ 146,25 em São Paulo e R$ 142,03 no MS.

Gráfico 2.
Diferencial de base entre Mato Grosso do Sul e São Paulo (%).

Mato Grosso 

O diferencial de base vem variando entre -9 e -12% ao longo dos últimos 12 meses, com o DB mostrando-se mais estreito em junho/19 (-8,65%). Naquele mês, São Paulo fechou com média mensal em R$149,95/@ e Mato Grosso registrou média em R$ 136,59/@. 

Entre julho até metade de agosto deste ano, houve uma queda importante no DB, passando de 9,68% para 9,04% (-0,64 p.p.), indicando que agosto trouxe boas oportunidades de venda. Mas no radar de médio prazo, está o risco de a oferta de animais do 2º giro distanciarem os preços entre os dois estados (um movimento registado no ano passado)

E ainda, segundo dados divulgados pelo Instituto Mato-grossense de Economia Aplicada (Imea) no dia 23/ago, o estado abateu 532,92 mil cabeças de bovinos em julho/2019, crescimento de 28,04% ante junho/2019. Outro destaque da região é o aumento da participação de animais mais jovens nos abates, avanço de 21,99% para novilhas e alta de 69,85% de participação de garrotes.

Além disso, o Imea também destaca o aumento das exportações de carne bovina em julho/2019, com o estado embarcando 9,93 mil toneladas de equivalente carcaça (TEC), acréscimo de 27,94% ante junho e +14,95% ante o mesmo período do ano anterior.

Ou seja, a pecuária mato-grossense vem passando por importantes e rápidas mudanças, com investimentos em sistemas de engorda intensivos, categorias mais jovens têm participado cada vez mais dos abates, e a sua participação no mercado externo também avança em ritmo acelerado.

Esses são alguns dos fatores que podem explicar um diferencial de base 2,33p.p. menor até a primeira quinzena de agosto deste ano (com média em -9,04%), em relação ao mesmo mês no ano passado.

Goiás

As últimas semanas foram marcadas por lateralidade de preços em Goiás, o mesmo cenário também observado em São Paulo.

Desse modo, o mercado mais frio não permitiu grandes variações para os diferencias de base nos últimos 3 meses, preservando-se ao redor de -8,0% no período. 

Além disso, no ano passado, essa manutenção dos diferenciais se alongou até setembro, quando passou a se estreitar. Mas com o mercado físico fortalecendo-se nos dois estados, este indicador deve continuar sendo monitorado, confirmando uma tendência de preços em Goiás mais próximos daqueles praticados em São Paulo.

E ainda, é preciso ficar atento aos diferenciais de base adotados nas negociações a termo dos animais que serão abatidos nos próximos meses.

Gráfico 4.
Diferencial de base ente Goiás e São Paulo (%)

Rondônia

Por fim, os diferenciais de base em Rondônia mostraram comportamento similar àquele observado em Goiás. Ou seja, baixa variação para os DB nos últimos meses, além de proporção em níveis similares aos registrados no mesmo período do ano passado.

Mas com a oferta ficando cada vez mais restrita neste estado, há a perspectiva de um movimento de gradual encurtamento dos diferenciais de base nos próximos meses. Movimento similar ao registrado no mesmo período do ano passado.

Um fator que destaca as indicações mais firmes no spot em RO, fica para a arroba alcançando em julho/19 a maior média do ano, em R$ 137,83/@.

Gráfico 4.
Diferencial de base entre Rondônia e São Paulo (%)