Ao mesmo tempo em que protestam contra a entrada de mais carne bovina do Mercosul no mercado europeu, produtores do Velho Continente comemoram um aumento significativo de suas próprias exportações de carnes, principalmente à China.
Projeções da Comissão Europeia, o braço executivo da União Europeia, apontam para um crescimento de 15% nas exportações de carne bovina em 2019, mesmo com declínio de 1,1% na produção.
Conforme Bruxelas, o volume de embarques crescerá para atuais parceiros como Filipinas, Bósnia e Israel, como também pelo acesso a novos mercados como a China. Pequim autorizou novos frigoríficos franceses a exportar carne bovina para o mercado chinês, ampliando o leque de fornecedores em um momento no qual o país sofre com um surto de peste suína africana. A doença deve reduzir a disponibilidade de carnes no país asiático.
Além de exportar mais e produzir menos, os europeus devem reduzir em 2% as importações de carne bovina neste ano, segundo as projeções da Comissão Europeia. Com isso, a disponibilidade de carne bovina no mercado europeu diminuirá o consumo da região no ano, de 11,1 quilos para 10,8 quilos per capita. Se confirmado, o movimento ocorrerá após vários anos de aumento do consumo de carne no bloco europeu, sustentado por boas ofertas.
No caso da carne suína, mercado no qual a União Europeia lidera as exportações globais – à frente dos Estados Unidos -, a maior demanda da China deve ajudar as vendas externas do bloco a crescerem 12% neste ano e também elevará o preço da commodity. Devido à peste suína africana, a expectativa é que a produção chinesa de carne suína caia de 20% a 35% em 2019, o que certamente amplia a necessidade dos chineses. Nos primeiro quadrimestre, as exportações de carne suína dos europeus à China aumentaram 37% ante o mesmo período do ano passado.
Apesar da demanda chinesa, a produção europeia continuará limitada em 2019 pelo plantel reduzido de reprodutoras e por restrições ambientais. No próximo ano, a produção do bloco poderá crescer ligeiramente (1,4%), na medida em que a demanda chinesa permanecer aquecida, de acordo com a Comissão Europeia.
Em contrapartida, a produção de carne de frango da União Europeia deve crescer mais (2,5%) neste ano, graças à boa demanda e ao preço elevado. As exportações da UE, por sua vez, deverão aumentar 3%, para mercados como África do Sul, Gana, Filipinas e China. No bloco europeu, a Polônia é até agora o único país que conseguiu se beneficiar do maior acesso à China, permitido desde novembro de 2018.
Os preços mais altos do frango na Europa devem favorecer um aumento de 5% nas importações neste ano, segundo as projeções. Entre janeiro e abril, as importações procedentes do Brasil cresceram 23% e as da Tailândia, 11%. As vendas de frango congelado está crescendo, mesmo fora de cotas (o que aumenta os impostos a serem pagos), devido aos melhores preços do peito de frango no bloco.
Mesmo com a recuperação das exportações neste ano, as vendas brasileiras para o mercado do bloco europeu ainda estão abaixo dos volumes de 2017 por causa de restrições sanitárias impostas por Bruxelas. No ano passado, 20 abatedouros de frango do Brasil foram proibidos de exportar aos europeus em decorrência das investigações da Operação Trapaça. A BRF foi a principal prejudicada pela restrição sanitária do bloco e teve todos os frigoríficos vetados.
Com mais exportações e uma produção crescente, consumo per capita de carne de frango da UE deve atingir 25,4 quilos este ano, ou 0,6 quilo a mais do que em 2018, segundo a Comissão Europeia.
Valor Econômico