As declarações hostis à China feitas pelo chanceler Ernesto Araújo em aula magna no Instituto Rio Branco nesta semana provocaram um mal-estar entre representantes do agronegócio brasileiro em Brasília, que cogita conversar inclusive com o presidente Jair Bolsonaro para evitar reações de Pequim.

Em sua fala, o ministro das Relações Exteriores afirmou para futuros diplomatas na última segunda-feira que “não vamos vender a alma” para exportar soja e minério de ferro. Ele afirmou que a política externa brasileira recente que priorizou o comércio com países da América Latina, Europa e Brics foi uma “aposta equivocada” e defendeu a importância do Brasil estreitar parcerias comerciais com os Estados Unidos.

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, e deputados da bancada ruralista tiveram ontem um almoço com o chanceler para tratar de China, entre outros assuntos da pauta internacional de interesse do segmento agropecuário.
A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) também produziu uma breve carta a ser entregue a Araújo, em que demonstra insatisfações sobre o tema e detalha números que mostram porque a China se tornou o principal parceiro comercial.

“A FPA gostaria de externar a sua preocupação em relação às supostas declarações reproduzidas pelo noticiário nacional, nas quais teriam sido feitas afirmações no sentido de diminuir a importância das relações comerciais entre Brasil e China”, diz o texto obtido pelo Valor.

A carta argumenta que a China se tornou o principal parceiro comercial do Brasil desde 2009. E que, além da soja – carro-chefe das exportações do agronegócio brasileiro –, o setor também possui um grande leque de itens exportados aos chineses como celulose, carnes bovina e de frango, açúcar e algodão, e com “forte potencial” para um grande número de outros produtos como suco de laranja, frutas in natura, café, arroz, laticínios e biotecnologia agrícola, entre outros.

Por outro lado, Ernesto Araújo tem feito diversos acenos positivos ao agronegócio e prometido atenção especial a acordos comerciais e negociações que favoreçam o setor. Como parte da reestruturação do Itamaraty, o chanceler até criou um departamento exclusivo para tratar questões do segmento agropecuário. E também está prevista uma viagem de Bolsonaro para a China no segundo semestre deste ano. (Valor)