Uma emissão de Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) de R$ 63,3 milhões com vencimento em 2025, realizada por sete produtores do Centro-Oeste, acaba de se tornar a terceira operação do mundo com certificação verde de acordo com os Critérios Agrícolas da Climate Bonds Initiative (CBI). A transação ocorreu pela parceria entre a Produzindo Certo, organização que analisou as propriedades e estabeleceu metas; a fintech Traive Finance, que fez a análise de risco de crédito, e a Securitizadora Gaia Impacto, que estruturou a operação e intermediou a negociação dos títulos no mercado.
As duas primeiras operações certificadas com selo verde do CBI conforme critérios agrícolas haviam sido feitas por companhias de grande porte. Esta é a primeira emissão do gênero a ser pulverizada, ou seja, em que os produtores não são membros de um mesmo grupo agrícola. Outra diferença em relação às demais é que para a emissão do CRA foram incluídos seguros agrícolas customizados como garantia extra aos investidores.
O “CRA Verde.Tech”, como foi batizada a transação, tem como lastro 17 Cédulas de Produto Rural (CPRs) emitidas pelos sete produtores, cujas propriedades somam quase 78,5 mil hectares. As CPRs estão vinculadas a metas produtivas, econômicas e ambientais. Os agricultores assumiram, por exemplo, o compromisso de preservar 24,667 mil hectares de áreas com vegetação nativa intacta, dos quais 2,505 mil de matas ciliares no entorno de 387 quilômetros de rios e 141 nascentes.
“Esta emissão, ao reunir sete produtores de dois Estados brasileiros, é um marco histórico para o Brasil. Operações verdes desta natureza certamente vão inspirar mais emissões coletivas, que ajudarão a destravar investimentos para os produtores agrícolas brasileiros”, afirmou em nota a head da CBI para a América Latina, Leisa Souza.
“Este primeiro CRA verde abre uma porta para que grupos de produtores que plantam de uma forma responsável social e ambientalmente, preservando o meio ambiente, possam acessar Fundos de Investimentos que aplicam em títulos verdes”, avaliou no comunicado o diretor de Agronegócio do Grupo Gaia, Renato Barros Frascino.
A intenção das três empresas envolvidas é realizar uma série de operações semelhantes. “Houve um tempo em que o problema era a falta de interesse por finanças verdes. Não é mais. O problema é como podemos atender a essa enorme demanda que só está aumentando gradativamente e corresponder às expectativas e aos desafios que vêm com ela”, disse o diretor de operações da Traive, Mauricio Quintella, acrescentando que o aumento da escala virá por meio de cooperação.