Grandes bancos privados financiadores do agronegócio no País observaram demanda contínua e aquecida por crédito rural, principalmente para custeio, na primeira semana de implementação do Plano Safra 2019/20, que se iniciou em 1º de julho. De acordo com executivos das instituições financeiras ouvidas pelo Broadcast Agro, produtores devem tomar volume igual ou superior ao contratado nos primeiros meses da safra passada.
O cenário é favorável, avaliam representantes do Santander e do Bradesco, pois o agricultor estará capitalizado com a comercialização da safrinha recorde de milho deste ano; tem planos de ampliar a produção na temporada 2019/20 e demonstra otimismo quanto à possibilidade de aumento das exportações, diante dos problemas climáticos enfrentados por produtores norte-americanos. Além disso, a peste suína africana, que assola os plantéis asiáticos, pode impulsionar a demanda internacional pela carne brasileira, em especial a suína. O apetite por crédito, entretanto, ainda será modulado por fatores como a volatilidade do câmbio no Brasil, dependente da aprovação de reformas, e pelo tamanho da demanda externa por grãos produzidos no País, que poderá ser maior ou menor a depender dos rumos da negociação comercial entre Estados Unidos e China.
“Os clientes ficaram boa parte do primeiro semestre sem crédito oficial, mas nós fizemos mais CPR (Cédula de Produto Rural, com juros de mercado) do que nunca na vida, o que foi ótimo. Isso mostra que (o esgotamento de recursos oficiais) teve menos relevância e não houve aquela história de ‘só vou tomar decisão (de compra) depois que sair (o Plano Safra)'”, disse ao Broadcast Agro o diretor de Agronegócios do Santander, Carlos Aguiar. “O mercado segue aquecido, todo mundo está negociando e comprando insumo”, acrescentou.
As linhas de custeio e comercialização do Plano Safra 2019/20 já estavam operacionais nos dois bancos desde a semana passada, a primeira da temporada. Linhas de investimento, como o Moderfrota, com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), devem começar a ser liberadas a partir desta semana, projetam os bancos. O diretor de Agronegócio do Bradesco, Roberto França, conta que o BNDES divulgou aos bancos repassadores na quinta-feira passada (4) uma circular com as mudanças nas regras do Plano Safra atual, e seria necessário mais alguns dias para um ajuste nos sistemas.
Com tudo acertado, tanto Aguiar quanto França esperam procura firme por dinheiro para custeio da safra de grãos de verão (sementes, fertilizantes e defensivos) nos próximos três meses. “A contar pelo que emprestamos pelo Pronamp (programa de financiamento de médios produtores) no primeiro semestre, a expectativa é de que haverá demanda muito forte em julho e agosto por recursos para custeio do plantio de soja verão no Sul e no Centro-Oeste”, confirma França. “O setor de grãos está muito otimista, porque tem uma safrinha de milho grande vindo, especialmente no Centro-Oeste”, acrescenta o executivo, lembrando também dos problemas climáticos nos Estados Unidos, que devem reduzir a safra de milho por lá, e da peste suína na China. A doença já matou mais de 4 milhões de suínos em toda a Ásia, de acordo com levantamento da FAO. Tal situação tende a impulsionar as exportações de carnes do Brasil – e, consequentemente, aumentar a demanda de milho para as granjas de suínos. A safra menor do grão nos EUA também poderá contribuir para elevar os preços no Brasil, ao dar sustentação às cotações futuras do produto na Bolsa de Chicago (CBOT) e levar importadores do cereal a direcionarem parte de sua demanda ao Brasil.
Outro fator que pode estimular a demanda por empréstimos junto aos bancos é o receio de distribuidores de insumos agrícolas em aumentar sua exposição ao risco ao dar crédito para produtores em recuperação judicial. “Há rumores no campo sobre esse assunto. Temos que ter bastante critério na concessão de crédito, mas avançar no financiamento que hoje está nas mãos das revendas está no nosso radar”, comentou França.
O ritmo de contratação nos últimos meses já vinha forte, apesar do esgotamento dos recursos da maior parte dos programas no início do ano, como Pronaf (focado em agricultores familiares), Pronamp (médios produtores) e dinheiro de custeio para grandes produtores com juros oficiais, dizem os executivos. “Os recursos acabaram no início do ano, em janeiro. Aí teve um adicional em fevereiro, mais para o médio produtor (Pronamp), e, em paralelo, ofertamos linhas com taxas de juros de mercado e CPR (também com juros livres)”, lembra França. “A gente vinha numa toada de atender todo mundo”, acrescentou. Aguiar, do Santander, reforça: “Não houve represamento de recursos para custeio (no primeiro semestre deste ano), só os do BNDES (dinheiro para investimentos, como máquinas)”, diz, e complementa: “Mas o produtor ainda precisará comprar bastante insumo de julho a setembro, então vemos a mesma demanda do ano passado, uma aceleração dos desembolsos nesses três meses”.
Dentro dos planos de ampliar sua participação de mercado na concessão de crédito rural dos atuais 7,5% para 10% até o fim do ano, o Bradesco anunciou, durante a Agrishow, realizada na última semana de abril em Ribeirão Preto (SP), a oferta de R$ 20 bilhões pré-aprovados para custeio da safra 2019/20. O volume é aproximadamente 40% superior ao que o banco reservou, em igual época do ano passado, para crédito pré-aprovado, lembra o superintendente executivo do banco, Rui Rosa. “Nossa diretoria de gestão de dados tem contribuído muito para a automatização de processos na aprovação de crédito”, explicou ao Broadcast Agro.
Dos R$ 20 bilhões, em torno de R$ 8 bilhões serão concedidos com taxas de juros estabelecidas no Plano Safra 2019/20 e o restante, R$ 12 bilhões, com taxas de juros livres que devem girar entre 9% e 12% ao ano. Segundo o diretor de Agronegócios do Santander, Carlos Aguiar, estas taxas tendem a ficar ao redor de 10% ao ano.
Para as linhas de custeio do Plano Safra oficial, o governo estabeleceu taxas anuais de 3% e 4,6% ao ano para o Pronaf, 6% para o Pronamp e 8% para grandes produtores não enquadrados nesses programas. No caso dos recursos emprestados com taxas de mercado, a fonte do dinheiro não são os depósitos à vista dos clientes, e sim dinheiro captado pelos bancos no mercado financeiro ou por meio de Letras de Crédito do Agronegócio (LCA). Nesses casos, as instituições financeiras cobram de produtores no mínimo a taxa Selic (atualmente em 6,5% a.a.), que é o quanto têm de pagar na hora de captar o recurso, mais o spread, taxa adicional à Selic, conforme o perfil do cliente.
Os R$ 20 bilhões ajudarão o Bradesco a bater sua meta de chegar a R$ 30 bilhões no fim de 2019. Os executivos do banco estimam que fecharam o primeiro semestre com carteira próxima de R$ 25 bilhões. Sendo assim, no segundo semestre seria necessário renovar empréstimos feitos por produtores na safra passada e que estão vencendo agora e liberar mais R$ 5 bilhões em novas contratações. “Vamos colocar nosso exército de 4 mil agências, além dos 100 profissionais diretos do agronegócio, para funcionar. No início tínhamos oito plataformas do agronegócio, agora temos 14”, comentou o diretor de Agronegócio do Bradesco, Roberto França, referindo-se aos escritórios de atendimento exclusivo a clientes do setor. (AE)