A bolsa paulista fechou com o Ibovespa em queda nesta terça-feira, acumulando em março o pior desempenho mensal em mais de 20 anos, afetado pela forte aversão a risco que tomou conta dos mercados com a rápida disseminação de um novo coronavírus.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 2,17%, a 73.019,76 pontos. O volume financeiro somou 23,7 bilhões de reais.

Em março, o tombo foi de 29,90%, maior declínio percentual mensal desde agosto de 1998, ano marcado pela crise financeira russa, o que fez o Ibovespa acumular queda de 36,86% no ano, pior resultado de trimestre calendário desde pelo menos 1994.

Todas as ações do Ibovespa terminaram março com performance negativa no acumulado do mês e do ano.

“Os preços perderam qualquer referência”, resumiu o gestor Werner Roger, sócio-fundador da Trígono Capital.

No último mês, o ‘circuit breaker’, mecanismo que suspende as negociações quando o Ibovespa registra quedas expressivas a partir de 10%, foi acionado seis vezes, refletindo preocupações com os efeitos da pandemia do Covid-19 mas economias.

Governos do mundo todo anunciaram uma série de medidas de alívio dos efeitos da pandemia na atividade econômica, mas sem muito sucesso ainda no ânimo dos investidores, uma vez que não há trégua no ritmo de contágio e cada vez mais ações de confinamento estão sendo adotadas em vários países.

A alta acumulada na semana passada, que quebrou uma série de cinco com resultados negativos, trouxe algum alento, mas é consenso que a volatilidade não deve arrefecer, sem sinais claros do ‘timing’ de qualquer recuperação das economias ainda.

Economistas reduziram projeções para os PIBs, bem como organizações e governos. No mesmo sentido, foram cortadas projeções para os resultados de empresas, com muitas delas também suspendendo suas próprias estimativas para 2020.

“Esse ‘bear market’ tem sido incomum, não por causa da escala do declínio, mas por causa da velocidade e da volatilidade”, avaliaram Peter Oppenheimer e equipe, do Goldman Sachs, em relatório a clientes.

PESSOA FÍSICA SURPREENDE

No Brasil, várias empresas adiaram planos de abrir capital na bolsa, enquanto o fluxo de capital externo continuou mostrando saída líquida no mercado secundário. A ‘surpresa’ veio do segmento de pessoas físicas, que comprou mais do que vendeu.

Até o último dia 26, o saldo no mês estava positivo em 15,1 bilhões de reais. No caso dos estrangeiros, negativo em 21,3 bilhões.

“O que vemos mais são pessoas com um fluxo reduzido de operações, tentando achar oportunidades e esperando as coisas melhorarem”, afirmou Gabriel Mallet, especialista de produtos da Pi, plataforma aberta de investimentos do Grupo Santander.

Ele citou que não observou movimento de saída acentuada de aplicações em investimentos de risco, mas redução nas entradas, conforme investidores preferem aguardar uma definição do mercado.

O número de mortes em decorrência do novo coronavírus no Brasil avançou para 201 nesta terça-feira e os casos confirmados de Covid-19 no país atingiram 5.717, segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde.

Para o analista Jasper Lawer, chefe de pesquisa no London Capital Group, o primeiro trimestre está quase acabando e há um monte de medidas de alívio no mundo. “Um mês novo pode oferecer alguma perspectiva nova, e talvez uma mais construtiva.”

DESTAQUES

– COGNA ON desabou 20,95%, após resultado trimestral, que mostrou queda de mais de 70% no lucro líquido ajustado, com aumento de provisões, receita líquida quase estável e diminuição na base de alunos do ensino superior. A empresa disse que está preparando medidas de apoio financeiro a alunos impactados pela crise desencadeada pela epidemia de coronavírus no país. No setor, YDUQS perdeu 17,18%.

– CVC BRASIL ON fechou em baixa de 14,29%. A operadora de turismo afirmou que não divulgará suas demonstrações financeiras de 2019 no prazo regulamentar, citando efeito do Covid-19 no trabalho das equipes e auditores. No mês, marcado pela pandemia e também revelação de indício de erros contáveis, contabilizou um tombo de 56,86%

– ITAÚ UNIBANCO PN caiu 4,23% e BRADESCO PN recuou 3,44%, após ganhos fortes na véspera, conforme as ações seguem voláteis diante da piora nas perspectivas econômicas devido à pandemia Covid-19. BANCO DO BRASIL ON fechou em baixa de 3,79%. No mês, Itaú caiu 27,81%, Bradesco cedeu 31,93% e BB acumulou queda de 40,18%

– PETROBRAS PN avançou 4,56%, oferecendo algum suporte, apesar do comportamento volátil dos preços do petróleo no mercado internacional. No mês, porém, caiu 44,79%.

– VALE ON valorizou-se 3,47%, tendo ainda de pano de fundo relatório do Goldman Sachs elevando a recomendação dos ADRs das ações da mineradora para ‘compra’, enquanto o preço-alvo para 11 dólares, de 11,4 dólares antes. A mineradora avalia que corre risco de enfrentar uma postergação da retomada de capacidade de produção em razão dos reflexos da pandemia do novo coronavírus. Em março, a ação caiu apenas 2,46%.

– AZUL PN recuou 8,07% e GOL PN cedeu 7,56%, com o setor aéreo entre os mais afetados na bolsa desde a pandemia, que provocou forte queda no tráfego de passageiros e levou as companhias a cortarem drasticamente as ofertas de voos. No mês, caíram 60,51% e 55,59%, respectivamente.

– SUZANO subiu 5,30%, em dia de alta do setor exportador com o dólar voltando a superar os 5,20 reais. A empresa também disse nesta semana que está elevando os preços de celulose na China em abril em 30 dólares a tonelada. KLABIN UNIT avançou 1,65%. (Reuters)