Simon Quilty é consultor pela MLX Austrália

 

Acredito que o ciclo de preços pecuários na Austrália está chegando ao seu fim, indicando que o mês de outubro pode marcar o final do período de baixa. Embora este prazo possa se adiantar ou atrasar em torno de um mês.

Isso porque a seca piorou nos últimos meses, e pode se estender até o próximo ano, limitando a altas dos preços em 2019 caso a seca piore. Ainda assim, acredito em cotações mais firmes a partir de outubro/18.

Portanto, o objetivo desta análise é explicar porque acredito que outubro será o vale de preços, além do impacto da seca, e, o mais importante, delinear a nova era de preços.

Pontos a se destacar:

  • As indicações apontam que as cotações australianas entraram em um novo ciclo, puxados pelos fortes preços globais, e mesmo as baixas neste novo ciclo, excederão as altas de qualquer período anterior;
  • Com o retorno das chuvas ao final do período seco no próximo ano, os valores devem se recuperar até a alta de 725 ac/kg de outubro de 2016, e que deve ser superado entre 2020 e 2022;
  • Analisando-se os ciclos anteriores na Austrália, a duração média foi 47 meses, e caso o atual ciclo alcance as mínimas em outubro, este período também terá duração de 47 meses;
  • A seca parece ter piorado recentemente, com a proporção de fêmeas nos abates subindo para 53,20% do total. Além disso, os avanços das exportações australianas refletem o maior número de abate. A expectativa para os embarques em julho é de 109 mil toneladas;
  • Eu estimei uma baixa do indicador para 435 ac/kg para outubro (atualmente está em 503,25 ac/kg). A estimativa foi baseada nas atuais condições de seca, além de quedas dos preços em ciclos passados entre 33 e 42%;
  • Mesmo se a seca se estender para 2019 (totalizando 2 anos), eu ainda acredito nas mínimas em outubro, com maior possibilidade de preços lateralizados por mais tempo, do que buscando patamares menores;
  • A estratégia de compra em outubro exige cautela. Já que os altos custos com a dieta e a seca atual, podem tornar quase impossível a terminação do animal em condições competitivas;
  • A tendência de preços na Austrália e sua relação com os valores nos EUA (com atraso de 2 anos) ainda permanece (veja abaixo);
  • A diferença da seca atual com 2014/15, é que estamos liquidando um rebanho muito mais jovem e de maior qualidade hoje em relação àquela época. E assim, os preços devem ter recuperação mais forte e prolongada quando as chuvas chegarem, já que deve demorar mais tempo para reconstrução do rebanho.

1 Características do ciclo de gado australiano – Entramos em uma nova era de preços?

O gráfico 1 aponta como o atual nível de preços está significativamente maior do que em período anteriores, na média, 60% mais altos.

Até que este ciclo de preços esteja completo, não posso afirmar com confiança, que a Austrália entrou em uma nova era de precificação.

Mas não acredito que os valores voltarão aos vales de preços dos ciclos anteriores, em consequência aos fortes preços globais de carne bovina. Subindo de forma consistente desde 1998 (gráfico 2), avançando 2,5 vezes desde então.

Alcançando recorde do indicador de 725 ac/kg em outubro de 2016 – Valor que estou confiante que será superado no futuro.

O principal fator para a alta dos preços pecuários tem sido as cotações globais da carne bovina, especialmente os valores na Austrália e nos EUA. Já que competimos de frente uns com os outros, e, portanto, influenciamos os preços uns dos outros na maioria destes mercados.

Nenhum outro país tem a influência sobre a oferta os preços australianos que os EUA durante todo o ano (pode-se dizer que a Nova Zelândia impacta os preços da carne magra da Austrália nos EUA por 3 a 4 meses, mas os valores internos norte-americanos têm papel mais importante neste mesmo período).

Portanto, é o impacto ponderado dos preços das carnes americanas e australianas que prioritariamente afetam os preços pecuários na Austrália.

Os três ciclos anteriores e o atual têm em comum a duração de 47 meses (se o atual ciclo encerrar em outubro/18). Todos exibem variações até alcançar a máxima, mas invariavelmente completaram o ciclo com 47 meses de duração.

As máximas variaram entre 48 e 119%. Enquanto as mínimas foram mais consistentes, ao redor de 33 e 42%. Deste modo, se a minha estimativa de 435 ac/kg estiver correta, equivalerá a recuo de 40% – Próximo as tendências anteriores.

Além disso, os períodos de seca sempre estiveram presentes, assim como períodos de liquidação e reconstrução do rebanho. A seca e a chuva têm impacto nos altos e nas baixas dos preços, mas, com frequência, a duração permanece a mesma.

2 A seca na Austrália piora nas últimas semanas

No início de julho foram divulgados os dados de abates referentes a maio/18, onde se registrou avanço da participação de fêmeas ante o mês anterior, atingindo 53,20% do total de abates.

A atual proporção supera a participação de fêmeas aos abates do mesmo período de seca de 2014 e 2015. Períodos de forte liquidação do rebanho australiano, caindo 1,7 milhões de cabeças em 2014/15, e mais 400 mil cabeças na temporada seguinte.

3 Outubro é o período de menor preço na Austrália, e quando começará o próximo ciclo pecuário?

O ciclo pecuário se define pelo período de liquidação e reconstrução do rebanho bovino. E o pico da reconstrução, geralmente, levam a máxima dos preços pecuários, como os 725 ac/kg registrados em outubro de 2016.

Os patamares mais altos incentivam a ampliação do rebanho, enquanto desacelera a participação de fêmeas nos abates, em média, ao redor de 41%.

Enquanto o período de baixa do ciclo pecuário alcança seu vale na fase de liquidação, quando o rebanho encolhe e a participação de fêmeas aos abates sobe até próximo ao seu pico, em torno de 53 e 55% (acredito que outubro será este ponto do ciclo pecuário australiano).

E ainda, a seca deve atrasar o início do próximo ciclo, que deve se iniciar com o começo das chuvas.

O começo do próximo ciclo deverá vir com início da chuva, garantindo a reconstrução do rebanho, e se ou quando isso acontecer, acredito no início de mais um período de 4 anos de características semelhantes ao descrito acima.

4 Este cenário de preços gera uma boa oportunidade de compra?

O que pode parecer barato hoje pode se mostrar um fardo caro amanhã. Isso porque sem as chuvas e com o custo de ração a US$ 400 por tonelada, os gastos para manter estes animais são elevados.

Ou seja, os preços pecuários podem ter chegado na mínima, ainda que possam se manter lateralizados até que as chuvas cheguem, e os custos de manutenção dos animais podem exceder qualquer apreciação do valor da arroba.

5 Comparação com o ciclo pecuário norte-americano

Como destacado anteriormente, há uma estranha semelhança entre o ciclo de preços dos EUA e da Austrália (com um atraso de 2 anos).

A tendência existe porque os EUA sofreram com uma seca severa, semelhante a australiana, 2 anos antes, proporcionando movimento similar de liquidação de rebanhos e posterior reconstrução. Além de exposição a fortes preços globais.

O último destaque, é que o ciclo pecuário acontece em todas as regiões produtoras espalhadas pelo mundo, mas as tendências dos preços australianos parecem estar alinhadas com o ciclo norte-americano. E isto pode não acontecer novamente por muito anos, mas no momento, ambos os ciclos são praticamente semelhantes.

Conclusão

Acredito que o atual momento dos preços na Austrália, tenha sua tendência muito próxima com o registrado nos EUA há dois anos.

E mesmo com o período seco em curso, as mínimas ainda podem acontecer logo em outubro. Sendo que o ponto crítico na temporada atual, se dá com o abate de animais mais jovens e de qualidade, em comparação com o abate de um rebanho mais velho em 2014/15.

Apontando para recuperação mais forte, já que levará mais tempo do que o normal para compensar o abate de fêmeas mais jovens e de boa qualidade.