Queda também foi registrada em outros países altamente carnívoros; expansão de mercados como a China manteve o equilíbrio da balança comercial
De acordo com a Efficienza, empresa especializada em comércio exterior, as rotas do comércio internacional de carne bovina estão em plena transformação, em um cenário que começou a se desenhar em 2022 e deve se acentuar ao longo deste ano. Países altamente carnívoros estão reduzindo o consumo do alimento. Por outro lado, nações que tinham uma dieta baseada em outros tipos de proteína, como a China, têm expandido sua participação neste mercado, ampliando seus volumes de importação.
O cenário, continua a Efficienza, expõe uma contradição: o Brasil é considerado hoje um dos grandes produtores de carne bovina do mundo, responsável por 24% de todo o volume exportado globalmente, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), porém, o consumo da proteína entre os brasileiros, no mercado interno, atingiu em 2022 o índice mais baixo dos últimos 26 anos. Nos últimos cinco anos, a desaceleração acumulou queda de 26,8%.
O mesmo fenômeno pode ser observado em outros países que são grandes consumidores de carne bovina e também registraram desaceleração no consumo interno em 2022, como os Estados Unidos (queda de 5%), o Reino Unido (menos 5,8%) e a Argentina (baixa de 2%).
As justificativas para a redução do consumo, segundo a Efficienza, são diversas e passam pela busca por uma alimentação mais saudável e a fuga dos altos preços que a carne bovina atingiu durante a pandemia de covid-19. De acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o custo do alimento para o consumidor subiu mais do que o dobro da inflação no período. De março de 2020 até abril do ano passado, a alta da carne bovina chegou a 42,6%, ante 19,4% da inflação geral.
Com a desaceleração do mercado interno e a redução do apetite dos tradicionais países consumidores, o Brasil ampliou sua presença na Ásia em 2022 e consolidou a China como principal destino da carne bovina brasileira. “O comércio exterior é movido pela lei da oferta e da demanda. Temos uma diminuição na demanda para esse tipo de carne nos países ocidentais, mas um avanço significativo no mercado asiático”, disse o diretor da Efficienza, Fábio Pizzamiglio, em nota divulgada à imprensa na terça-feira (31).
Ele acredita que o fim da política de covid zero, implementada em 2020, pode ser um dos motivos para o aumento da demanda chinesa pela carne bovina. “Temos uma demanda reprimida que pode fortalecer nossa pecuária, mesmo com a diminuição da demanda no mercado interno, na Europa e América do Norte.” O especialista em comércio exterior também destacou que o câmbio é outro fator importante para os preços e afirma que a estabilidade na exportação para a Ásia pode manter os valores elevados.
O executivo lembrou ainda que o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Carlos Fávaro, anunciou durante uma coletiva de imprensa que o Brasil retomou as negociações para vender carne à China e realizou vários acordos comerciais com outros países, incluindo o fim da suspensão de três frigoríficos na China, a habilitação de compra de algodão para o Egito e a autorização de 11 plantas de bovinos para a Indonésia.