A semana começou com uma notícia preocupante para a economia mundial. Como efeito-colateral do agravamento do conflito entre Rússia e Ucrânia, a cotação do petróleo encostou em US$ 140, muito próximo do maior valor de todos os tempos, de US$ 147,50, em julho de 2008. Os preços dispararam com a intensificação das ameaças de boicote ao gás e ao petróleo russo pelos Estados Unidos e União Europeia. Desde a invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro, o barril já subiu 30%. E vai subir mais.
Não se iludam com a perspectiva otimista de solução simples e rápida para essa guerra. Antes de melhorar, a situação vai piorar muito. A reação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) a Vladimir Putin a cada dia se torna uma questão de “quando”, não de “se” haverá um confronto. O próprio ditador russo já afirmou que compara os bloqueios econômicos impostos pelo Ocidente como declarações de guerra.
O clima hostil e incerto exigirá dos governos de todos os países, inclusive o Brasil, táticas de guerra para amortecer o impacto do caos global em suas economias. Petróleo em alta significa combustíveis mais caros, fretes mais caros e queda no poder de compra. A inflação vai disparar. Os alimentos ficarão mais caros e a fome, inevitavelmente, vai crescer. No caso brasileiro, a suspensão das vendas de fertilizantes da Rússia será um fator agravante. Uma eventual queda da produção agrícola tende a gerar um descontrole nas cadeias globais de abastecimento e, por consequência, ainda mais inflação.
A tempestade perfeita exige a definição imediata de uma estratégia local. O primeiro passo é a desoneração dos combustíveis. Gasolina a R$ 9 e diesel a R$ 7, em um ano de crescimento próximo a zero, vão empurrar o Brasil ao precipício. No agronegócio, a substituição da Rússia por outros fornecedores de fertilizantes e a nacionalização da produção ao maior índice possível, são medidas que precisam ser adotadas para ontem.
Na área energética, a guerra tende a acelerar os projetos de descarbonização. Quanto menos o mundo precisar de petróleo, menos conflitos serão financiados em países produtores. Evidentemente, não será possível substituir gás e petróleo da noite para o dia, mas há consenso de que a energia limpa é também uma energia pacífica.
Antes de passar o bastão para o próximo governo, Jair Bolsonaro e Paulo Guedes precisarão criar um plano de contingenciamento para tempos de guerra. Se ficarem assistindo o conflito de braços cruzados, discutindo se Putin é vilão ou mocinho, não poderão culpar a guerra – assim como fizeram com a pandemia – pelo fracasso do País na condução econômica.
(Isto É Dinheiro)