Os pecuaristas que apostarem no confinamento devem ter, em 2019, rentabilidade próxima da alcançada neste ano, apoiada na expectativa de maior oferta de grãos e elevação da cotação da arroba.

Conforme o pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Thiago de Carvalho, a média de rentabilidade do confinamento no País foi de 5,6% neste ano. “ No geral, os confinadores devem ter um retorno entre 5% a 7% no ano que vem”, projetou ontem, em evento da empresa de suplementos nutricionais DSM, em São Paulo.

Ele salienta que conseguir esse tipo de retorno sobre o investimento dependerá das condições de compra do milho para alimentar o rebanho e dos animais de reposição, além do momento da venda do bovino para o abate. “O cenário que se desenha hoje é positivo”, assinala. Segundo ele, se considerados confinamentos com maior adoção de tecnologia, esse rendimento pode ser de 7% a 9%.

Embora o primeiro trimestre do ano seja determinante para a decisão do produtor de confinar, o cenário atual se mostra favorável. A expectativa é de custo mais baixo de grãos, em razão do aumento da produção projetado para o próximo ano, aliado a uma perspectiva de melhora na economia, que deve estimular o consumo, e de um clima favorável, com chuvas beneficiando a alimentação a pasto. Ele ainda destaca a perspectiva de valorização da arroba, o que é positivo, mas tende a ser acompanhado por maior custo da reposição.

A produção de milho brasileira na safra em 2018/2019 foi projetada nesta semana pela consultoria INTL FCStone em 92,2 milhões de toneladas, alta de 14,2% ante a safra passada.

“Se o milho tiver preços baixos e a arroba estiver em alta, o que é provável, o cenário será muito positivo em 2019”, acrescenta o gerente de confinamento da DSM, Marcos Sampaio Baruselli.

Ele calcula que se a cotação do grão se mantiver no patamar atual de R$ 35 a saca e a arroba do boi gordo em R$ 150, o custo de produção por arroba ficaria em R$ 110.

“Isso permitiria um ganho de R$ 280 por boi se esse cenário persistir, então a conta fecha no azul. Resta saber como essas commodities vão se comportar”, ponderou.

CensoDe acordo com Baruselli, o Brasil encerra 2018 com 4,98 milhões de cabeças confinadas. Conforme censo elaborado pela empresa, esse número é 3% superior aos 4,85 milhões de animais de 2017 e 33% maior que os 3,75 milhões de cabeças terminadas no cocho em 2016. Em 2025, ele estima que esse número chegará em 10 milhões de cabeças.

O semiconfinamento, no qual é oferecido alimento adicional aos animais em cochos nas pastagens, também tem crescido. O número de animais terminados neste sistema é próximo de 5 milhões e a perspectiva é de um crescimento similar ao do confinamento para 2025.

“É um sistema mais simples, mais rápido de fazer e de menor investimento”, justificou. “Nem todo mundo tem a profissionalização necessária para trabalhar com confinamento, que exige caixa maior e gestão”, acrescentou. Ele calcula que o investimento neste sistema é de aproximadamente 10% do necessário para a montagem de um confinamento.

Baruselli também destacou o interesse crescente dos produtores em adotar tecnologias na pecuária. “Quando o confinamento cresce é sinônimo de mais tecnologia e ele cresce pela necessidade de produzir mais em área menor.”

O gerente apresentou resultados do Tour DSM de Confinamento, iniciativa que acompanha resultados de produção de propriedades que adotam produtos da companhia no manejo. Neste ano, foram acompanhadas 11 fazendas em São Paulo, Pará, Goiás, Tocantins, Rondônia, Bahia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Em nove propriedades dedicadas ao confinamento – as outras duas usavam semiconfinamento – o retorno sobre investimento foi de 7,7% ante 9,72% em 2017. “O retorno foi menor que o do ano passado, mas ainda assim positivo”, avaliou Carvalho, do Cepea.

Segundo ele, o ano que começou positivo apresentou dificuldades ao pecuarista, como a greve dos caminhoneiros e o aumento dos custos dos grãos, com a demanda elevada para exportação e quebra da segunda safra de milho, que reduziu a oferta do grão.