Gustavo Machado é consultor de mercado pela Agrifatto
Lygia Pimentel é médica veterinária e consultora pela Agrifatto

 

Em 2015 e 2016 o mercado registrava volume de abates em queda, maior retenção de fêmeas e custo de reposição mais alto. No campo político e econômico a economia estava em queda livre, período turbulento que levou rapidamente à paralisação, fechamento ou férias coletivas em cerca de 70 plantas frigoríficas, além do comprometimento de quase 8 mil vagas de emprego.

O movimentou acompanhou a queda do volume de abates e enxugou a oferta de carne no mercado interno.

No varejo, o movimento sentido foi o de que a queda dos preços, que antes costumava ajudar na “limpeza” dos estoques, já não estimulava o consumidor a levar mais carne vermelha para casa, resultado direto da inflação que corroeu fortemente o poder de compra do brasileiro, isso tudo combinado ao alto grau de endividamento das famílias no período. O resultado foi a manutenção dos valores da carne bovina no varejo em patamares relativamente estáveis e altos.

Em 2017 veio o início da recuperação econômica, apesar de extremamente tímida. E com ela, a retomada de atividades em plantas frigoríficas, reflexo das margens brutas da indústria em recuperação e do bom volume exportado.

Agora, o aumento da capacidade processadora deixa o mercado mais ofertado, especialmente no atacado, impedindo maiores altas.

Além disso, acrescenta-se ainda a baixa competividade da carne bovina com as outras proteínas, especialmente dadas as maiores dificuldades de escoamento da carne de frango, cenário agora pior devido ao bloqueio das exportações de 10 unidades da BRF para a União Europeia. Em outras palavras, a oferta de carne de frango deve subir no mercado interno e dificultar ainda mais a venda de carne bovina.

Ainda em relação à retomada de investimentos no setor frigorífico, o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) destaca que o uso da capacidade instalada no Mato Grosso começou 2018 em proporção 10% maior que em jan. /17, utilizando-se 53,37% do potencial produtivo.

Além do Mato Grosso, a expansão da indústria está presente também em Goiás, Pará e Rondônia, e mesmo a JBS já está quase com suas operações normalizadas, com os abates diários entre 27 e 28 mil cabeças (antes da Operação Carne Fraca o nível de abate estava em 30 mil cabeças diárias).

O avanço da capacidade de abates tem duas principais consequências para a precificação, especialmente em um período de oferta crescente de animais. Observe pelo gráfico 1 como o volume de abates subiu 10% entre 2016 e 2017, e deve continuar subindo neste ano.

A maior disponibilidade de carne resulta do crescimento do rebanho bovino pelo ciclo pecuário, a maior proporção de vacas participando dos abates, expectativa de aumento de animais confinados em 2018 e, por fim, a oferta de animais terminados que não foram abatidos em 2017 após as notícias que impactaram o setor e que devem ser negociados nesta safra.

Sabe-se que a maior oferta de animais pressiona negativamente as cotações, o levantamento do volume de abates e os preços corrigidos pelo IGP-DI confirmam a relação entre maior oferta e menores preços (gráfico 2).

Neste cenário de maior oferta é que se faz importante o crescimento do número de plantas em atividade, gerando maior competição pela matéria-prima e promovendo melhor equilíbrio de preços, mas ainda mantendo o atacado e varejo bem abastecidos.

Em suma, um mercado equilibrado e, agora, com menos competitividade frente às proteínas concorrentes.

Muita incerteza e volatilidade devem pautar o cenário de 2018. E não se esqueçam das eleições!

Um abraço e até a próxima semana.