Marco Guimarães é estagiário pela Agrifatto
Gustavo Machado é consultor pela Agrifatto
Lygia Pimentel é consultora pela Agrifatto

 

Um tema de grande importância em 2018 tem sido a redução do poder de compra do produtor através da piora da troca com o milho, especialmente em um ano em que não foram registradas chuvas tardias e que, exatamente por esse motivo, há grande necessidade de suplementação.

A variação do boi gordo entre abril (mês em que cessaram as chuvas no Brasil Central) e agosto foi de 1,06%, enquanto o milho reagiu 3,12% no mesmo período.

Considerando a média desde 2015, a relação de troca do boi gordo pela saca de milho esteve em patamares entre 3 e 6 sacas por arroba. Em média, a relação no período ficou em 4,20 sacas, patamar acima do registado em praticamente todos os meses de 2018.

Fica claro que o estrago resultante da alta do preço do milho, principalmente a partir de fevereiro, foi capaz de reverter os ganhos observados na temporada passada, quando a troca chegou a alcançar mais de 5 sacas/@, mesmo considerando que o ano foi turbulento e jogou para baixo o mercado pecuário em boa parte do ano.

 

Em 2015, obteve-se a melhor relação de troca dentre o período analisado. O preço médio da arroba e da saca de milho ao longo do ano foi de R$ 145,45/@ e R$ 29,08/sc, gerando um poder de compra médio de 5,0 sacas/@.

Já no ano seguinte, devido à quebra da safra 2015/2016, os preços do cereal subiram em maior intensidade que o boi gordo, reduzindo a relação de troca para 3,47 sacas/@.

Ao longo de 2017, o impacto dos eventos políticos sobre o preço da arroba foi amenizado na engorda pela safra de milho recorde daquela temporada. Já no 2º semestre, a entressafra elevou o preço do milho em 22,9% enquanto o boi se fortaleceu 16,6%, levando para baixo o poder de compra do pecuarista, que mesmo assim registrou um dos melhores resultados para o período considerando o histórico desde 2015.

Em janeiro de 2018, com o preço da arroba e da saca de milho em R$ 146,53/@ e R$ 32,70/sc, respectivamente, a relação de troca iniciou o ano em 4,48 sacas/@, e vem caindo desde então.

A sazonal concentração de oferta de animais ao longo do primeiro semestre, bem como a crise econômica, pressionou a arroba para baixo, que chegou a registrar seu mínimo em R$ 138,53. Já o milho, com o plantio da segunda safra atrasado e queda da produção, gradualmente subiu, tendo atingido sua máxima em maio, próxima a R$ 43,00/saca.

Nos últimos meses, a colheita do milho limitou que o cereal continuasse renovando as máximas, mas a conjuntura de um buraco de 18 milhões de toneladas na safrinha impede quedas mais fortes para os preços e cria uma perspectiva de aperto para os próximos meses.

Já que a relação entre oferta e demanda está bem mais ajustada nesta temporada, com o câmbio fortalecido e o cenário de aversão ao risco no exterior mantendo as cotações pressionadas, é prudente considerar quaisquer melhoras na relação de troca para efetuar compras e garantir o estoque.

Além das exportações, o ritmo de comercialização no mercado doméstico também deverá ser outro fator a conduzir as cotações. Espera-se que os produtores continuem em posição defensiva, com a retenção da matéria impedindo acomodação mais expressiva para o preço do cereal nos próximos meses, especialmente considerando que o custo de produção subiu consideravelmente como reflexo de um câmbio valorizado.

Entre janeiro e maio, o poder de compra foi comprometido pela alta de 30,05% do milho com queda de 4,05% para o valor da arroba.

Mas a perspectiva para os próximos meses é um pouco mais otimista, com a entrada da entressafra já oferecendo firmeza aos preços pecuário, e contagiando também o mercado futuro, que aponta valor ao redor de R$ 152,00/@ no último trimestre do ano.

É de extrema importância destacar que o impasse a respeito do tabelamento dos fretes tende a descompensar a melhora da relação de troca e a eliminar o efeito da acomodação de preços da saca de milho, já que há regiões em que o transporte chega a custar R$ 14,00/saca.

De toda forma, há de se considerar as realidades de cada região, já que a projeção a partir dos valores futuros da B3 (antiga BM&F) mostra que o poder de compra deve melhorar em setembro e atingir um dos melhores níveis do ano, piorando logo em seguida com o recuo das cotações pecuárias e avanço sazonal da valorização do milho.

Se confirmada a projeção, o preço do boi deve subir 5,03% e o do milho 5,16%, levando a relação de para 3,51 sacas de milho no final de 2018, o que sugere que os momentos melhores devem servir para antecipar movimentos negativos mais à frente.

O mapeamento desses momentos é fundamental para melhorar a estratégia de compra de longo-prazo.