Gustavo Machado é consultor de mercado pela Agrifatto
A paralisação dos caminhoneiros interferiu fortemente na distribuição de matérias-primas, combustível e alimentos com enorme impacto em toda a cadeia, mas especialmente para o mercado de proteínas vivas.
A FGV calcula que o PIB em 2018 pode recuar 0,2%, perdendo R$ 15 bilhões este ano e com o produto interno bruto ao redor de 1,9%.
A nova previsão considera a greve dos últimos dias, mas também abrange a retomada econômica mais lenta do que o esperado no início do ano.
Este é um ponto de atenção ao mercado pecuário, já que a expectativa de maior consumo alimenta um cenário de sustentação mais forte para a arroba bovina.
O ambiente inflacionário observado no mercado internacional (com pressão sobre a relação cambial) e especialmente as incertezas pelas eleições deste ano (e os rumos que serão tomados pelo ponto de vista fiscal) são exemplos que dificultam os investimentos e a alavancagem econômica.
A consequência é facilmente percebida no modesto consumo das famílias brasileiras, mantendo o valor das proteínas alternativas em patamares historicamente baixos e acirrando sua concorrência com a carne bovina.
Para o boi gordo, que já se mostrava mais firme após a desova dos animais ao final da safra de capim, pode-se registrar uma pressão negativa no curtíssimo prazo, possivelmente ainda mais expressiva no Centro-Norte, onde as chuvas se estenderam por mais tempo e permitiram maior capacidade de suporte das pastagens, o que pode ampliar o diferencial de base com SP.
O viés baixista se dá pela transferência das escalas de abates com a paralisação das plantas, o acúmulo dos estoques de carne nas indústrias e o embarque dos animais que foram negociados, mas não transportados.
Além disso, existe agora uma pressão de venda dos animais que ficaram retidos nas propriedades, especialmente com o suporte das pastagens em níveis baixos.
Já os preços das carnes no atacado devem antecipar o movimento de alta em resposta aos severos e rápidos ajustes de produção.
O frango resfriado já registra mudança para preços mais altos na parcial de maio (gráfico 2).]
A carcaça casada bovina que vinha desde o início do ano alternando a sua tendência de preços entre o início e o final do mês, agora deve exibir direção para preços mais firmes (gráfico 3).
Portanto, a paralisação deve diminuir a distância de preços entre a carne bovina e seus concorrentes no atacado.
No curto prazo as cotações do animal terminado podem ceder e ampliar o spread carne com osso/arroba, além de atrasar a transferência do mercado para o período de entressafra.
Entretanto, os valores no atacado mais sustentados podem subir o ponto de resistência de preços da entressafra.
Apesar das previsões sofrerem ajustes conforme o mercado avança, acredita-se em valores no segundo semestre balizados ao redor de R$ 153,00 e R$ 155,00/@.
Por fim, a possível queda dos preços no curto prazo pode oferecer oportunidade de compra de CALL via mercado de opções para os animais da entressafra, enquanto uma inversão da tendência para patamares maiores, após a normalização do setor, deve colocar no radar a compra de seguro de preços.