Os preços mais altos das safras e da pecuária estão alimentando um boom comercial no cinturão agrícola dos Estados Unidos, tornando os agricultores, pecuaristas e empresas agrícolas em geral vencedores raros à medida que a economia norte-americana em geral se enfraquece. A receita agrícola líquida dos EUA deve subir para US$ 160,5 bilhões este ano, impulsionada pelo aumento dos preços de produtos que vão do leite ao trigo, disse o Departamento de Agricultura do país (USDA). Se alcançada, a renda agrícola atingiria o nível mais alto desde 1973 em dólares ajustados pela inflação, marcando uma forte recuperação de uma recessão agrícola que atingiu os agricultores e seus fornecedores durante a última década.

Os produtores de grãos dos EUA se beneficiaram este ano, com os preços de safras, como milho e trigo, disparando após a invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro. O mau tempo em algumas áreas de cultivo também ajudou a elevar o valor da safra agrícola, enquanto os pecuaristas conseguiram preços mais altos pelos animais, já que o rebanho dos EUA encolheu em virtude do aumento dos custos de ração e outros produtos.

O USDA espera que os ganhos dos agricultores aumentem 14%, quase US$ 20 bilhões, em relação a 2021. As receitas de milho, soja, trigo e outras culturas devem subir 19%, enquanto as receitas de animais e produtos de origem animal devem aumentar 31% em relação ao ano passado, disse a agência.

Em contrapartida, os preços mais altos contribuíram para um aumento acentuado nos custos dos alimentos. Dados de novembro do Departamento do Trabalho mostraram que os preços subiram 12% nos últimos 12 meses. Os índices de cereais e produtos de panificação, assim como laticínios e outros produtos relacionados, subiram mais de 16%, enquanto os de outros grupos de alimentos aumentaram entre 7% e 14%.

Mas, em compensação, o ambiente de recessão econômica também pode acabar prejudicando os agricultores, se a demanda por commodities agrícolas diminuir à medida que as despesas dos agricultores aumentam. As taxas de juros crescentes também encarecem os empréstimos para compras como terrenos e equipamentos, o que pode restringir compras futuras.

Empresas agrícolas que vendem sementes, fertilizantes e equipamentos vêm se beneficiando. A Corteva e a Bayer, por exemplo, relataram nas últimas semanas aumentos porcentuais de dois dígitos nas vendas de sementes, agrotóxicos e outros produtos agrícolas nos primeiros nove meses do ano. Já as empresas de fertilizantes Nutrien e Mosaic informaram que suas vendas aumentaram 48% e 72%, respectivamente, durante esse período. A fabricante de tratores Deere reportou em novembro receita líquida e vendas anuais fiscais cerca de um quinto maiores do que os níveis do ano anterior.

Nesse cenário, os valores médios das terras agrícolas dos EUA subiram para um recorde de US$ 5.050 o acre este ano, de acordo com dados do USDA, um aumento de 14% em relação a 2021. Os valores das terras agrícolas em Iowa, um importante Estado agrícola, atingiram mais de US$ 11.400 o acre, um recorde histórico, de acordo com a Universidade Estadual de Iowa.

A redução dos estoques mundiais de grãos e a possibilidade de pressão contínua sobre as exportações da região do Mar Negro significam que os preços das safras e a renda dos agricultores devem permanecer fortes em 2023, disseram executivos do setor. “Vai levar algumas temporadas de cultivo para aliviar a oferta apertada”, concluiu o chefe de Relações com Investidores da Deere, Brent Norwood, em uma teleconferência com analistas em novembro.

(Broadcast Agro)