Ao mesmo tempo que os mercados financeiros brasileiros iniciavam um dia caótico, com a bolsa paulista acionando o circuit breaker após o Ibovespa ter desabado 10% e o dólar próximo à barreira de 4,80 reais, o presidente Jair Bolsonaro abriu em Miami um seminário empresarial falando em fidelidade absoluta à política econômica do ministro da Economia, mas sem citar a crise.

Para uma plateia de cerca de 350 empresários, a maioria de brasileiros que atuam no mercado norte-americano, Bolsonaro leu um discurso em que deixou fora a crise do mercado e garantiu sua intenção de melhorar o ambiente de negócios e seguir a política econômica de Paulo Guedes.

“Às suas políticas econômicas somos leais e buscamos implementá-las em todas as formas. Qualquer um dos nossos ministros está habilitado e qualificado para enfrentar qualquer desafio. Estamos mostrando que estamos no caminho certo”, disse o presidente.

Bolsonaro fez questão de indicar um bom relacionamento com o Congresso, depois da crise entre Executivo e os demais Poderes foram apontada como uma das causas da volatilidade e insegurança do mercado brasileiro e ressaltou sua intenção de manter as reformas tributária e administrativa.

“Tivemos apoio do Parlamento na reforma previdênciária, a mãe de todas as reformas. Outras duas se apresentam pela frente. Conversei ontem com o presidente Rodrigo Maia e ele falou que, apesar de alguns atritos, que é muito normal na política, a Câmara fará sua parte buscando a melhor reforma administrativa e tributária”, disse.

Bolsonaro tem resistido a enviar o texto da reforma administrativa, que mexe na estrutura do serviço público, por receio da reação das corporações. O texto estaria pronto, mas não foi apresentado ainda.

Já a tributária tem sido tocada pela Câmara, sem o governo ter apresentado até agora as suas prometidas contribuições.

O encontro em Miami foi organizado pela Agência de Promoção de Exportações (Apex) para incentivar novos investimentos no Brasil, em um momento em que as incertezas sobre a economia brasileira levam à retirada constante de recursos do país.

Apenas nos dois primeiros meses deste ano, investidores estrangeiros retiraram mais de 40 bilhões de dólares do mercado secundário de ações brasileiro.

Bolsonaro usou sua fala para destacar sua intenção de melhorar o ambiente de negócios no país, e aproveitou para fazer críticas aos governos anteriores.

“O Brasil está se preparando cada vez mais para enfrentar seus desafios. Na questão econômica, a confiança acima de tudo. Honrar compromissos, buscar retaguardas jurídicas são nosso objetivo. Queremos simplificar, desburocratizar e desregulamentar. Algumas medidas já tomamos, mas sabemos que não são suficientes”, disse.

“Temos um inimigo interno ainda forte, a esquerda. Combatemos duramente, sabemos que não podemos dar trégua ou oportunidade para eles, caso contrário eles voltam, como voltaram a um importante país ao sul da nossa querida América do Sul.”

Nesta segunda, os mercados globais abriram caóticos em função de uma disputa no mercado de petróleo entre Arábia Saudita e Rússia, que se somou aos impactos econômicos da epidemia de coronavírus, arrastando junto a bolsa paulista e as taxas de câmbio no Brasil.

O caos nos mercados foi evitado no seminário. Nem o presidente nem o secretário de Comércio Exterior, Marcos Troyjo, citaram o tema ao se apresentar aos empresários. (Reuters)