A importação de soja pela China deve se manter ao redor de 100 milhões de toneladas em 2021 e continuar entre 100 e 110 milhões de toneladas por ano até 2030, segundo o Sumário Executivo do China Agricultural Outlook 2021-2030, lançado ontem (25) pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e pelo InvestSP, que tem escritório em Xangai.
O Outlook 2021-2030 é resultado da 8ª edição da Conferência sobre as Perspectivas Agrícolas da China, realizada em Pequim em abril deste ano, e foi produzido pelo Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais da China (Mara) e pela Academia de Ciências do Agronegócio da China (CAAS). O documento traz um panorama sobre o agronegócio e as perspectivas do governo chinês para os próximos 10 anos das principais culturas agrícolas do país: arroz, trigo, milho, soja, oleaginosas, algodão, açúcar, legumes, batatas, frutas, carne suína, carne aviária, carne bovina e ovina, ovos lácteos, pescados e rações.
Com relação à soja, o volume de importação deve se manter próximo do patamar atual e crescer em torno de 1% ao ano, até chegar a 110 milhões de toneladas em 2030. A produção crescerá a uma taxa média de 0,7% ao ano no período, até atingir 20,87 milhões de toneladas. Com isso, o atendimento ao consumo interno de soja do país, da ordem de 127 milhões de toneladas em 2030, dependerá majoritariamente das importações. Em 2020, a China comprou no exterior 100,33 milhões de toneladas do grão, 13,3% acima do volume de 2020.
As importações de milho da China crescerão de forma expressiva em 2021, mas a tendência é de desaceleração nos próximos anos. Em 2021, o volume importado do cereal deve alcançar 20 milhões de toneladas, 77% a mais do que os 11,3 milhões de toneladas importadas pelos chineses em 2020. A partir de 2022, contudo, as políticas de incentivo à produção doméstica do grão devem levar a uma gradual redução das importações, até chegarem a 6,5 milhões de toneladas em 2030. Já a produção deve aumentar, em média, 2,4% ao ano pelos próximos anos, atingindo aproximadamente 332 milhões de toneladas em 9 anos.
Com relação à carne suína, ainda que o consumo interno do país deva aumentar 16,5% neste ano, para 52,97 milhões de toneladas, espera-se que o volume importado em 2021 alcance 3,8 milhões de toneladas, 13,4% inferior ao de 2020. Isso porque, neste ano, o estoque de porcos vivos deve retornar aos níveis anteriores aos da peste suína. A perspectiva é de que a produção de carne suína chegue a 49,27 milhões de toneladas, crescimento de 19,8% em relação a 2020.
Em 2025, a previsão é de que a produção de carne suína ultrapasse o volume médio do 13º Plano Quinquenal (2016-2020), alcançando 57,72 milhões de toneladas. Ao longo da década, até 2030, o número de porcos para abate deve crescer, em média, 3,3% ao ano, e a produção de carne, 3,8% ao ano, até atingir em 2030 713 milhões de cabeças e 59,98 milhões de toneladas. Com o aumento da produção acompanhando o consumo – projeção de 58,9 milhões de toneladas consumidas em 2025 e 60,98 milhões em 2030 -, as importações de carne suína tendem a cair para 1,3 milhão de toneladas em 2025 e se manter ao redor de 1,2 milhão de toneladas até 2030.
Para a carne de frango, o governo chinês prevê um crescimento moderado do consumo na próxima década, bem como da produção doméstica, o que deve levar uma graduação diminuição dos volumes importados. O Brasil é hoje o principal fornecedor de carne de aves para a China, conforme o documento, com uma participação de 44,2% nas importações do produto pelo país.
O consumo chinês de carne de frango, de 24,7 milhões de t em 2020 (alta de 8,9% ante 2019) deve chegar a 24,84 milhões de t em 2021, 25,45 milhões de t em 2025 e 25,63 milhões de t em 2030, com uma taxa média de crescimento anual de 1,3% no período. A produção, que no ano passado aumentou 5,5%, para 23,61 milhões de t, em 2021 deve crescer menos, 3%, para 24,32 milhões de t. Para 2025 e 2030, a estimativa é de que a produção de carne de frango atinja 25,27 e 25,55 milhões de t, respectivamente.
Assim, as importações de carne de frango da China devem recuar 35,5% neste ano em comparação a 2020, para 1 milhão de toneladas, depois de terem avançado 93,7% no ano passado em relação a 2019, com 1,55 milhão de t de carne importadas. Nos próximos anos, as compras chinesas de carne de frango tendem a continuar caindo, até chegar a 700 mil t em 2025 e 650 mil toneladas em 2030 – queda anual média de 3,7% nos próximos dez anos.
No caso da carne bovina, ainda que o governo chinês preveja um crescimento contínuo da produção chinesa, decorrente da modernização da atividade no país, as importações também aumentarão para suprir a demanda. Para a produção, a expectativa é de 6,84 milhões de t em 2021, 1,8% a mais do que em 2020. Em 2025, a produção chegará a 7,29 milhões de t e, em 2030, a 7,9 milhões de t.
Paralelamente, com a contínua urbanização na China, o consumo interno deve atingir 8,99 milhões de t em 2021 (ante 8,84 milhões de t em 2020) e 10,3 milhões de t em 2030, com uma taxa média de crescimento anual de 2,3%. Para as importações, prevê-se um volume de 2,15 milhões de t em 2021 e de 2,4 milhões de t em 2030.
Em 2020, as importações chinesas de carne bovina somaram 2,12 milhões de t, aumento de 27,7% ante. Brasil (40%), Argentina (23%), Austrália (12%), Uruguai (11%) e Nova Zelândia (8%) foram os principais exportadores do produto ao país asiático.
“Conhecer as perspectivas econômicas e de produção desse mercado gigante é fundamental para as empresas que já negociam e que querem começar a negociar com o país. O Agricultural Outlook é um documento-chave no planejamento do processo de internacionalização para a China”, afirmou em nota a coordenadora de Inteligência Comercial da CNA, Sueme Mori.
O documento aponta, ainda, que o crescimento médio esperado para a China entre 2021 e 2030 é de 4,9%. A taxa média de crescimento anual da renda disponível per capita urbana e rural está prevista em 3% e 6%, respectivamente, o que alimenta a perspectiva de aumento das importações de alimentos do país, ainda que haja avanços na produção agrícola chinesa.
(AE)