Assim como no caso brasileiro, a China é o principal destino das exportações de carne da Argentina, tendo registrado forte alta nos últimos dois anos, após a crise deflagrada pela Peste Suína Africana na Ásia. No acumulado deste ano, o país foi destino de 75% das exportações argentinas de carne bovina e, desde a pandemia de Covid-19, tem buscado pressionar o preço pago pelo produto, numa tentativa de conter a alta no preço dos alimentos em seu mercado interno.
“Devido à forte desvalorização da moeda local frente ao dólar, houve pressões de preço pois, além dos chineses saberem da desvalorização do Peso Argentino, se colocar na ponta do lápis, a remuneração está sendo superior com relação ao ano anterior”, explica Wagner Yanaguizawa, analista do Rabobank Brasil.
Segundo dados da Câmara da Indústria e Comércio de Carnes e Derivados da República Argentina (Ciccra), o preço médio pago pelos importadores chineses pela carne bovina argentina em julho foi de US$ 3.948 por tonelada, valor 11,6% abaixo da média registrada nos sete primeiros meses do ano passado e queda de 17,4% ante o observado entre fevereiro e maio deste ano.
“Cabe destacar que de fevereiro a maio de 2020 o preço médio havia se estabilizado em US$ 4 mil por tonelada (logo depois de ter chegado a uma máxima de quase US$ 5 mil por toneladas no final de 2019), para logo baixar a US$ 3.673 por tonelada em junho e ficar em US$ 3.337 em julho”, aponta a Ciccra em seu relatório mensal.
No mesmo período, por outro lado, os EUA pagaram preços médios de US$ 5 mil a tonelada pela carne argentina em maio, caindo para R$ 4,6 mil em julho – valor 37,8% acima do praticado nas transações com a China. “A mudança de tendência do preço médio pago pela China levou a indústria frigorífica argentina a reorientar suas vendas de cortes bovinos para os EUA”, reconhece a Ciccra. Se em maio os embarques da Argentina para o mercado americano somavam 559 toneladas, em em julho chegaram a 5,7 mil toneladas, aumento de 917,7%.
A volatilidade dos preços pagos pela China foi destaque de um relatório do Serviço Agrícola Estrangeiro do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). Segundo o escritório do órgão americano em Buenos Aires, os preços atuais pagos pela China estão próximos ou abaixo do custo de produção no país. Só no item alimentação, a alta é de 40% no custo médio argentino ante uma alta de 12% no valor dos animais.
“Embora essas variáveis possam mudar rapidamente, a maioria dos agentes de mercado consultados espera que eles continuem sendo relevantes em 2021”, aponta o USDA.
No Brasil, cujas exportações para a China representam 41% de toda carne bovina embarcada este ano, o preço médio também apresenta queda em meio ao aumento dos custos no mercado interno. Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior, em agosto, os chineses pagaram em média US$ 4,16 mil pela tonelada da carne bovina brasileira, queda de 30,3% no acumulado do ano e o menor valor desde fevereiro de 2017. Paralelamente, os custos de produção com recria e engorda no país avançaram 14% no primeiro semestre, segundo cálculo do Cepea.
“O destaque para esse movimento de redução nos preços médios em dólar, é que assim como está acontecendo com o Brasil, os aumentos de preço do animal vivo estão sendo repassados para os chineses desde o último mês e já estão ocorrendo aumentos de pedidos de renegociação de preços por parte da China na tentativa de segurar as altas na oferta do Brasil”, revela Yanaguizawa. No acumulado do ano, contudo, as exportações brasileiras para a China somam alta de 138,5% em valor e de 145,3% em volume.
“Vale lembrar que hoje Argentina e Brasil estão ofertando uma das carnes mais baratas do mundo, então as chances de redução de embarques existem por conta de preços, mas são improváveis”, conclui o analista. (Globo Rural retransmitido pelo BeefPoint)