O cenário geral para 2020 segue o mesmo após a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre, analisou o secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida, pontuando que o Ministério da Economia irá manter sua perspectiva de contração da atividade de 4,5% para este ano.
Em entrevista à Reuters, ele também frisou que o dado de poupança divulgado nesta quinta-feira pelo IBGE dá amparo à visão de que a economia terá força o suficiente para engatar em 2021 mesmo sem auxílios do governo. Iniciativa de maior vulto para enfrentamento à crise do coronavírus, o auxílio emergencial terminará em dezembro, ao custo total de 321,8 bilhões de reais.
Sachsida ressaltou que, se de um lado a alta do PIB de 7,7% no terceiro trimestre sobre os três meses anteriores ficou abaixo do patamar de mais de 8% esperado por muitos, por outro, houve revisão da queda no segundo trimestre a 10,9% contra o mesmo trimestre de 2019, sobre 11,4% antes.
“A gente tem que olhar o resultado conjuntamente. Por quê? Porque o segundo trimestre veio melhor também, houve revisão de 0,5 ponto”, disse Sachsida.
“Então quando você olha no conjunto, e acima de tudo com esse dado de poupança, ele nos dá muita convicção de que a economia continua avançando e vai ter a tração necessária para o começo de 2021 sem a necessidade de auxílios governamentais”, complementou.
A própria Secretaria de Política Econômica (SPE) previa que o PIB do terceiro trimestre subiria 8,3%. Na comparação com igual período do ano passado, a perspectiva da secretaria era de queda de 3,9%, percentual confirmado nesta manhã pelo IBGE.
“Quando você olha no conjunto das revisões que ocorreram, o segundo trimestre veio melhor e isso mais ou menos gera o mesmo impacto para o ano. Ou seja, a grande figura para o ano continua uma recuperação forte no terceiro e quarto trimestres”, afirmou Sachsida.
Ele reforçou que, enquanto no terceiro trimestre esse movimento teve protagonismo da indústria e do comércio, nos últimos três meses do ano a maior recuperação virá do setor de serviços.
Segundo o secretário, a previsão da SPE continua sendo de queda do PIB brasileiro de 4,5% para 2020, projeção que foi melhorada no mês passado de um recuo de 4,7% visto antes.
POUPANÇA É CHAVE
Sachsida sublinhou ainda que os dados divulgados nesta manhã pelo IBGE em relação à taxa de poupança também dão confiança quanto à força da retomada para 2021. A SPE prevê que PIB subirá 3,2% no ano que vem.
No terceiro trimestre, a taxa de poupança foi de 17,3% do PIB, maior valor para o período desde 2013 e com elevação de 3,7 pontos sobre igual trimestre de 2019. A SPE ressaltou que esta foi a maior expansão interanual para o período desde o início da série do IBGE.
Para Sachsida, os dados mostram que houve economia generalizada em função das restrições impostas pela pandemia.
“Em outras palavras, várias pessoas que receberam o auxílio emergencial conseguiram poupar parte daquele recurso. Várias pessoas da classe média conseguiram economizar e poupar dinheiro gastando menos com transporte, começaram a trabalhar em home office. Várias pessoas da classe média alta economizaram porque não iam em restaurante. Várias pessoas ricas economizaram mais porque não viajaram”, exemplificou.
“Então você tem uma poupança espalhada por todos os estratos de renda da população, que parte disso vai virar consumo no primeiro trimestre de 2021 e parte disso vai manter a oferta de crédito elevada também. Então isso ajuda na recuperação do primeiro semestre do ano que vem”, previu.
Em relação à agenda de reformas –ponto focal na avaliação do país por agentes de mercado–, Sachsida disse que está ficando claro que a pauta do governo tem parceria com o Congresso Nacional, já que apesar da crise houve a aprovação da nova lei de falências e do novo marco do saneamento, além da apreciação parcial da autonomia do Banco Central e do novo marco para o gás.
Ele reconheceu, contudo, que para a economia voltar a crescer a taxas mais significativas, o Brasil deve insistir na agenda de reformas econômicas pró-mercado e na sua consolidação fiscal.
Vistas como cruciais para o controle das contas públicas e para possibilitar algum remanejamento de gastos sem infringir a regra do teto, as propostas ligadas ao Pacto Federativo, por exemplo, foram enviadas ao Congresso no fim do ano passado, mas ainda não avançaram.
Na visão do secretário, o importante é manter a sinalização de continuidade da agenda.
“A agenda de consolidação fiscal não acaba em 31 de dezembro, não é tudo ou nada, ela vai continuar”, disse. (Reuters)