O conturbado cenário internacional embute diversos riscos para as exportações brasileiras em 2019. Entre eles, o agravamento da guerra comercial entre a China e os Estados Unidos é a principal preocupação para o fluxo de nossos produtos no mundo.

Na avaliação de especialistas consultados pelo DCI, a euforia do mercado financeiro e de câmbio com a eleição presidencial local também ofusca – no momento – a busca de soluções para evitar uma corrente menor de comércio no próximo ano.

“Passada a eleição e a euforia, o dólar deve até subir pois há muitos riscos para o comércio exterior de países emergentes como o Brasil”, afirmou a estrategista de câmbio do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte.

Além da escalada na guerra de tarifas entre os Estados Unidos e a China – nossos principais parceiros comerciais – ontem, o presidente norte-americano Donald Trump também deixou claro, por meio do Departamento de Comércio dos EUA, que possui a intenção de negociar novos acordos com a Europa, Reino Unido e Japão.

“A guerra comercial está longe do fim. Trump está questionando até os pacotes pequenos de produtos da China entregue pelos Correios nos EUA. Ele também teve como alvos, o México, o Canadá, a Turquia e a Índia, e nada impede que o Brasil não seja afetado”, alerta.

Mas, na opinião do professor de economia da Fecap, Joelson Sampaio, a guerra comercial também pode ser uma oportunidade. “Devemos fortalecer nossa relação com os EUA”, afirma.

No caso da negociação americana com o México, os EUA exigiram um percentual maior de produção no território norte-americano. Se antes os mexicanos compravam, por exemplo, peças de automóveis fabricadas no Brasil, provavelmente esse item irá diminuir, pois as peças serão adquiridas no vizinho deles do Norte. O Brasil exportou US$ 4,514 bilhões ao México em 2017, e US$ 3,3 bilhões em 2018 até o final de setembro.

A estrategista lembra que uma provável desaleceração na economia da China impactará nas exportações de commodities em países emergentes, como o Brasil. “Desacelera primeiro a China, e depois desaceleram os Estados Unidos”, adverte Fernanda Consorte sobre o efeito em cadeia sobre no comércio internacional.

O Brasil exportou um volume de US$ 50,173 bilhões para a China em 2017, e US$ 49,32 bilhões neste ano até o final de setembro. Para os EUA, as exportações somaram US$ 26,87 bilhões no ano passado, e ficou em US$ 20,58 bilhões em 2018 até o final de setembro. Outros riscos também estão no radar dos observadores, crises cambiais como vistas em países como a Turquia e Argentina podem se espalhar para outras economias. De forma mais direta, as exportações brasileiras para o principal vizinho do Mercosul também são afetadas, sobretudo como notado no setor automotivo na região.

No ano passado, as exportações brasileiras para os parceiros do Mercosul haviam somado US$ 22,61 bilhões, e neste ano até setembro totalizam volume de US$ 16,8 bilhões.

Fator BolsonaroCom base das últimas pesquisas eleitorais que apontam a vitória de Jair Bolsonaro (PSL) no segundo turno, vale destacar que o programa de governo do candidato prevê que o Brasil possa fazer mais negócios com todo mundo, “mas sem viés ideológico”, o que seria uma crítica ao programa do adversário Fernando Haddad (PT) que propõe a continuidade da integração latino-americana com a África, e o aumento do comércio com os outros países do BRICS – Rússia, Índia, China e África do Sul.

“Ao mesmo tempo que Bolsonaro fala em fazer comércio sem o viés ideológico, declarações dele causam desconforto com a China e os Países Árabes, e com países que ratificaram o Acordo do Clima de Paris”, notou a estrategista.

Ela se refere a repulsa do candidato do PSL por investimentos da China nas áreas de energia e petróleo; da ideia de o Brasil sair do Acordo do Clima, e da proposta dele de mudar a embaixada do Brasil da capital israelense Tel Aviv para Jerusalém. “Essa [última] iniciativa causará um sério problema com os Países Árabes”, diz Consorte. “É uma diplomacia parecida com a de Trump”, completa Joelson Sampaio.

O Brasil exportou US$ 11,67 bilhões ao Oriente Médio em 2017, e até setembro de 2018, US$ 9,9 bilhões à região. (DCI)