É possível que os Estados Unidos recuperem neste ano a posição de maior fornecedor de produtos agrícolas para a China, avalia o embaixador do Brasil na China, Paulo Estivallet de Mesquita. “O comércio agrícola atingiu patamar crucial para a relação Brasil-China. O Brasil se tornou principal fornecedor de produtos agrícolas para China. Neste ano, EUA devem recuperar essa posição em virtude de relações comerciais dos dois países e questões de safra brasileira”, disse Mesquita, ontem (6), durante evento virtual organizado pelo Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) em parceria com o Centro Brasileiro de Relações Internacionais.
Na avaliação do embaixador, contudo, embora o Brasil possa perder o posto de principal fornecedor de produtos agropecuários para a China em 2021, no médio e longo prazo, o cenário é “muito promissor” para a relação agrícola entre os dois países. “Com comercialização expressiva de soja, com valor positivo de carnes. Outros produtos do Brasil como celulose e açúcar continuam tendo mercado favorável na China”, apontou Mesquita.
Segundo o embaixador, mesmo que a China tenha feito grandes avanços para buscar tecnologias e aumentar sua produção agrícola e diversificar a pauta agropecuária, o país tende a continuar adquirindo grande quantidade de produtos agrícolas brasileiros. “Esses esforços da China não são ameaças para a pauta exportadora do Brasil desde que a agricultura brasileira se mantenha competitiva. A China tem fatores naturais como terras e água disponível que limitam a expansão da agricultura local”, comentou Mesquita. Ele também ressaltou que a China tem “dificuldades” para encontrar alternativa ao Brasil no fornecimento de produtos agropecuários, em virtude da grande escala necessária para abastecimento do mercado chinês. “Não tenho preocupação de produtos brasileiros perderem competitividade no quesito de preços”, pontuou Mesquita.
Do lado das oportunidades para ampliação da relação agrícola Brasil-China, Mesquita citou que o aumento da renda per capita do consumidor chinês tem levado ao aumento da procura por produtos de maior valor agregado, como o café. “A demanda por cafés finos na China tem aumentado dois dígitos há muitos anos. Chineses estão adquirindo novos hábitos de consumo de alimentação”, destacou. Mesquita também apontou que a Embaixada do Brasil tem buscado desenvolver mercados para exportação de frutas brasileiras para a China, com alguns acordos em desenvolvimento e outros já firmados.
Frigoríficos – O governo brasileiro está trabalhando junto com as autoridades chinesas para retomar a habilitação de frigoríficos brasileiros autorizados a exportar para o país asiático, afirmou o embaixador do Brasil na China, Paulo Estivallet de Mesquita. “Atuamos em estreita cooperação com o Ministério da Agricultura para buscar a normalização das habilitações. Entre as autoridades sanitárias, estamos em contato com a Administração Geral de Alfândegas da China (Gacc)”, disse Mesquita.
Segundo o embaixador, desde o início da pandemia de covid-19 a China não habilitou nenhum novo frigorífico brasileiro. “Estamos há mais de um ano e meio sem aprovação de nenhum estabelecimento novo. Em virtude da pandemia, houve redirecionamento dos esforços das autoridades sanitárias chinesas, o que atrasou o processo de liberação de indústrias de carnes, não só do Brasil, mas também de outros países”, pontuou Mesquita. Ele ponderou, contudo, que se de um lado a pandemia afetou o processo de liberação, de outro houve ampliação das exportações dos frigoríficos autorizados a vender carnes para a China.
Questionada sobre a possibilidade de aceleração e retomada das habilitações de indústrias de carnes brasileiras, a ministra conselheira de Assuntos Econômicos e Comerciais da Embaixada da China no Brasil, Shao Yingjun, disse que China e Brasil trabalham juntos para promover cooperação e facilitar o intercâmbio de produtos agrícolas e alimentos. “Temos 102 frigoríficos brasileiros aprovados para exportar para a China. Estamos dispostos em facilitar a cooperação empresarial e fortalecer a comunicação institucional”
Mesquita apontou também que outra área em que é preciso avançar na relação bilateral Brasil-China é em protocolos fitossanitários para comércio de frutas. “É fundamental assinar mais acordos com a China na área de frutas. A liberação do melão brasileiro, aprovada no ano passado, demorou muito tempo. Estamos buscando acordos para exportação de uva, limão e abacate do Brasil”, disse o embaixador do Brasil na China.
Valor agregado – A ministra conselheira de Assuntos Econômicos e Comerciais da Embaixada da China no Brasil, Shao Yingjun, avaliou que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) per capita chinês vai impulsionar a demanda por produtos de alto valor agregado. Nessa pauta, podem entrar os produtos brasileiros. “Com o crescimento da economia chinesa, haverá grande demanda por produtos diversificados. Há grande necessidade de importação de produtos proteicos pela China. Café e produtos avícolas também têm potencial”, disse Shao, que participou do evento virtual organizado pelo Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) em parceria com o Centro Brasileiro de Relações Internacionais.
A ministra destacou que a China vem aumentando a quantidade e variedade de produtos importados do Brasil. Entre os produtos, ela citou a liberação da importação de melão brasileiro, aprovada no passado, e o maior volume de carnes brasileiras comercializado à China com 102 frigoríficos habilitados para a exportação. “O comércio de produtos agropecuários entre Brasil e China tem base sólida. Por 15 anos, a China é o maior comprador de produtos agrícolas do Brasil. No ano passado, China importou US$ 34 bilhões em produtos agrícolas brasileiros”, apontou Shao.
Segundo Shao, os dois países trabalham para expandir a cooperação agrícola bilateral, melhorando a comunicação e ampliando a cooperação em áreas como agricultura verde e inteligente. “Ainda temos muito a crescer em cooperação. Brasil e China são parceiros naturais para cooperação agrícola. A relação sino-brasileira no comércio agrícola é mutuamente benéfica e altamente complementar”, destacou.
Na avaliação da ministra da embaixada chinesa, além da ampliação da pauta comercial, Brasil e China podem estender a relação bilateral de investimentos na área agrícola. “Esse caminho se mostra uma tendência. Grandes empresas chinesas investem no Brasil com produção e processamento de grãos e cereais e produção de óleos vegetais”, apontou Shao. Ela citou o investimento da chinesa Cofco no País que aportou cerca de US$ 5 bilhões na operação brasileira e se tornou a quarta maior exportadora de soja do País. “A pandemia limitou um pouco esses investimentos. Acredito que, após a pandemia, as empresas chinesas vão reforçar o investimento”, previu a ministra.
(AE)