O decreto assinado na semana passada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, permitindo que as unidades de processamento de carne do país continuem operando durante a pandemia de covid-19, está gerando preocupação entre autoridades locais. O receio é de que a reabertura apressada das fábricas provoque novos picos nas taxas de infecção.

Desde o início do mês de abril, empresas como Tyson, Smithfield, JBS USA e Cargill fecharam algumas das principais unidades de processamento de carne suína, bovina e de frango dos EUA. Esses fechamentos resultaram em escassez de carne nos supermercados e em excesso de animais prontos para o abate em fazendas e granjas.

Algumas autoridades locais de saúde disseram que o fechamento temporário de fábricas ajudou a conter o avanço do vírus, embora a um custo às vezes alto para as economias locais. A reabertura antes de a doença estar sob controle pode provocar outro aumento no número de casos, segundo essas autoridades. “Se eles reabrirem, o vírus continuará se espalhando”, disse Jenna Link, administradora do departamento de saúde do condado de Warren, no Estado de Illinois, onde a Smithfield fechou na semana passada uma fábrica de processamento de suínos. Link está preocupada com a capacidade de seu pequeno departamento de saúde de lidar com os casos. O condado de Warren tem um hospital, mas nenhuma unidade de terapia intensiva.

Embora as empresas digam que os fechamentos das fábricas foram voluntários, muitos ocorreram após ligações de prefeitos e autoridades locais de saúde.

Cerca de 20 trabalhadores de unidades de processamento de carne e alimentos morreram por causa da covid-19, e cerca de 5 mil foram hospitalizados ou apresentaram sintomas, de acordo com o United Food and Commercial Workers International Union, um sindicato de trabalhadores do setor.

O secretário de Agricultura dos EUA, Sonny Perdue, disse em entrevista que o decreto do presidente protege o sistema alimentar do país e que as diretrizes federais de saúde e segurança do trabalho garantirão que os frigoríficos reabram as unidades com risco mínimo de novos surtos. Em alguns casos, ele disse, as plantas foram equivocadamente responsabilizadas por surtos de covid-19.

Em Sioux Falls, Dakota do Sul, o prefeito e a governadora do Estado pediram em 11 de abril que a Smithfield fechasse sua planta de suínos na cidade, após a identificação de mais de 200 casos ligados a ela. A companhia fechou a unidade por período indeterminado em 12 de abril. Segundo o prefeito de Sioux Falls, Paul TenHaken, o número de novas infecções na cidade diminuiu desde então. Ele disse estar nervoso com a possibilidade de um novo salto nas infecções, mas observou que os problemas da indústria de carnes tornou necessária a medida do governo federal. “Eu respeito a posição do governo federal, acho que é correta, mas espero que não seja às custas da segurança dos funcionários”, disse.

A Smithfield está avaliando quando poderá reabrir suas fábricas fechadas e comprando mais equipamentos de proteção enquanto organiza testes de covid-19 para os funcionários. A empresa está fornecendo máscaras e instalando barreiras nas linhas de processamento e nas salas de descanso. No entanto, a companhia admite que o distanciamento social é difícil nessas unidades.

O governador de Minnesota, Tim Walz, disse que seriam necessários mais testes e proteção para os trabalhadores para que uma unidade de suínos da JBS em Worthington retomasse as operações. “Nenhum decreto do presidente vai mudar o fato de que o vírus irá infectá-lo se você não fizer as coisas corretamente”, disse.

Bob Krebs, chefe de operações de suínos da JBS, disse que a empresa está trabalhando para colocar a planta de Worthington novamente em operação. A companhia disse que as medidas de segurança adotadas nas últimas semanas atenderam ou excederam as orientações federais de prevenção à covid-19. (Reuters)