A China está comprando mais carne do mundo inteiro e as cotações da carne bovina, de frango e suína ao redor do planeta estão subindo, enquanto o gigante asiático tenta suprir as perdas em sua oferta doméstica causada pela peste suína africana.
No Brasil, embarques de carne de frango para a China aumentaram 31% em relação ao ano passado e os preços domésticos de peito e coxa de frango aumentaram aproximadamente 16% no varejo. Consumidores europeus estão pagando em média 5% a mais por carne suína, porque a maior parte da carne produzida domesticamente está sendo enviada à China. Preços de carne de cordeiro em lojas na Austrália aumentaram 14%, enquanto carne moída nas prateleiras da Nova Zelândia saem a preços recordes.
Nos Estados Unidos, consumidores locais ainda não sentiram efeito expressivo das compras chinesas em preços, mas isso pode mudar em breve. Futuros de suínos norte-americanos com vencimento em dezembro subiram 4,5% este mês após oficiais chineses afirmarem que o país poderia excluir carne suína e outros produtos agrícolas norte-americanos de tarifas punitivas, embora o presidente dos EUA, Donald Trump, tenha afirmado na sexta-feira que o país não precisa de um acordo comercial completo com a China antes das eleições de 2020.
Diversas companhias norte-americanas de carne viram nos últimos meses concorrentes da Europa e da América do Sul se movimentarem para abastecer as necessidades de carne suína da China. Executivos da Tyson Foods, Smithfield Foods e Sanderson Farms afirmaram que esperam se beneficiar de preços mais altos, com o aumento das importações chinesas consumindo os estoques globais de carne. “Sempre que essa quantidade de proteína é perdida numa perspectiva global, haverá efeito no preço”, disse o CEO da Tyson, Noel White, em teleconferência com investidores em setembro.
Preços de carne suína na China chegaram a subir 50%, e houve tentativas do governo local de racionamento ou de estimular a população a migrar para frango e outras carnes. Entre maio e julho, importações chinesas de carnes suína, de frango, bovina e de ovelha subiram quase 70%, chegando a mais de US$ 5 bilhões em receita e aumentando os preços globais. O Índice de Preços de Alimentos da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) para carne subiu 10% este ano, para o maior nível desde o início de 2015.
A China recentemente aprovou importações de carne de mais 25 plantas brasileiras. A BRF aumentará sua capacidade de exportação de frango e suínos em cerca de 30%, em parte para suprir a demanda chinesa e manter o mercado interno abastecido. Importadores chineses buscam comprar três vezes a quantidade de carne que costumam adquirir, afirmou o vice-presidente Internacional da BRF, Patricio Rohner. Como consequência, consumidores brasileiros estão pagando mais caro por frango, e novos aumentos nos preços são possíveis, disse ele.
Na vizinha Argentina, onde muitos consideram a carne bovina um estilo de vida, alguns locais estão deixando de consumir a carne vermelha com o aumento de preços. A combinação de inflação e aumento das exportações à China – embarques de carne bovina mais do que dobraram este ano, enquanto de frango aumentaram 68% – aumentaram preços da carne em 51% ante um ano atrás, de acordo com dados da indústria.
ElPozo Alimentación SA, uma das maiores companhias de carne suína da Espanha, está precisando tomar decisões sobre o quanto de carne deve ser usada para mercados domésticos e quanto deve ser enviada para a China, onde ela é vendida por maiores valores. Na Espanha, até cortes mais baratos de carne estão ficando em falta no mercado local porque podem ser vendidas por mais na China, afirmou o diretor de Vendas Regionais para a Ásia da ElPozo, John Hickin.
O gerente de exportações na trading Samex Australian Meat Co., Simon Linke, disse que compradores chineses estão mais competitivos do que importadores dos EUA ou do Oriente Médio na disputa pela oferta de carne da Austrália. Fonte: Dow Jones Newswires.