O mercado de câmbio pode continuar sensível à precificação do dólar no exterior, que nesta manhã é de leve alta, em meio a juros mistos dos Treasuries. No entanto, o dólar já está perdendo valor ante o peso mexicano, o que pode limitar um ajuste para cima ante o real. Além disso, com o avanço da inflação interna, as expectativas de alta mais agressiva da taxa Selic em maio ganham apoio, favorecendo ainda um dólar mais fraco. Porém, um pano de fundo de cautela fiscal tende a persistir em meio ao impasse no orçamento de 2021.
Há pouco, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, repetiu, em evento virtual do FMI e Banco Mundial, a avaliação de que o mercado global passa por uma “reflação”, caracterizado por um movimento de alta de preços aliado a uma recuperação da economia. Segundo ele, essa questão está por trás do aumento dos preços internacionais das commodities que têm impactado a inflação no Brasil. Campos Neto lembrou ainda que a maioria dos países emergentes precisaram lançar grandes pacotes fiscais para enfrentarem a pandemia de covid-19, o que elevou a dívida dessas economias. “Então estamos neste ambiente, no qual de repente os mercados passaram a precificar que você precisa elevar os juros, mas você tem uma dívida muito maior. Então os países com maior endividamento tiveram uma desvalorização maior de suas moedas, uma elevação maior dos prêmios de risco no fim da curva. E essa diferenciação ficou ainda maior”, concluiu.
Os investidores vão continuar monitorando ainda as negociações em torno do corte de emendas parlamentares no Orçamento de 2021, que podem demorar até o prazo limite para o presidente sancionar ou não o projeto, em 22 de abril. Mas, a sinalização do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, de que os gastos do governo para enfrentar a segunda onda da Covid-19 deverão, indubitavelmente, superar os R$ 44 bilhões previstos na PEC Emergencial, que foi aprovada em 11 de março, fica no radar. A tendência é de o governo vir a decretar, de novo, estado de calamidade pública, a fim de separar os gastos com a pandemia e evitar um descumprimento do teto de gastos no orçamento deste ano. Segundo ele, a China vem absorvendo uma grande parte dos fluxos de capital que antes iam para mercados emergentes.
Mais cedo, o Índice de Preços ao Consumidor – Classe 1 (IPC-C1) apontou alta de 0,82% em março, depois de subir 0,40% em fevereiro, informou a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Os aumentos nos preços da gasolina (10,90%), do gás de bujão (4,07%) e do etanol (17,11%) pressionaram o indicador no mês passado. Com o resultado, o índice acumulou alta de 1,38% no ano de 2021 e avanço de 6,63% em 12 meses. O IPC-C1 é usado para mensurar o impacto da movimentação de preços entre famílias com renda mensal entre 1 e 2,5 salários mínimos.
Ontem, o dólar à vista fechou com queda de 0,62%, a R$ 5,6798, com relatos de operadores de novos ingressos de capital externo ao Brasil. (AE)