A  interdição de um frigorífico da JBS na última sexta-feira (24/4) em Passo Fundo (RS), por causa de contaminações de coronavírus, reflete uma situação que se repete Brasil afora e preocupa indústria e trabalhadores.

Globo Rural apurou que há casos suspeitos e confirmados de Covid-19 no setor em pelo menos sete frigoríficos em três Estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.

“Os números, e o que tem chegado para as entidades representantes dos trabalhadores, nos acende a luz amarela. É preciso, realmente, trabalhar no controle e prevenção da contaminação”, alerta Artur Bueno de Camargo Junior, vice-presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Indústria de Alimentação e Afins (CNTA).

Segundo ele, já houve casos confirmados em unidades localizadas em Lajeado, Garibaldi e Serafina Corrêa, no Rio Grande do Sul, em Ipumirim (SC) e Paranavaí (PR). “Temos acompanhado a situação e estamos bem preocupados porque o que ocorreu em Passo Fundo não é um caso isolado”, afirma o vice-presidente da CNTA.

Mapeamento dos casos

Desde a semana passada, a entidade tem organizado comitês junto a seus sindicatos locais para levantar informações sobre a presença do vírus da Covid-19 na indústria de alimentação, o que inclui o setor frigorífico.

Ele reconhece que, na atividade de abate e desossa de animais, é difícil manter o distanciamento mínimo entre os trabalhadores e ressalta a preocupação com a segurança em tempos de pandemia. “Entendemos que é uma atividade essencial, mas queremos garantir o mínimo de segurança para estes trabalhadores”, completa o líder sindical.

Reivindicações à indústria

Diante da maior concentração de casos no sul do país, a CNTA tem trabalhado junto ao Ministério Público do Trabalho para a elaboração de acordos ou termos de ajustamento de conduta para garantir compromisso da indústria com as condições sanitárias. “As empresas precisam investir em saber como está a situação na casa do trabalhador, com a família dele”, destaca Junior.

Em nota, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) afirmou que suas empresas associadas adotaram medidas preventivas antes mesmo do início da quarentena, o que incluiu o afastamento de trabalhadores identificados como grupo de risco e o monitoramento
da saúde de funcionários. A entidade acompanha a evolução dos casos na indústria, mas afirmou que não divulgará balanço sobre a Covid-19 no setor frigorífico.

Frangos são mais afetados

Globo Rural também apurou que os casos confirmados concentram-se em unidades de abates de aves, como foi o caso da JBS em Passo Fundo. O motivo para a maior presença da Covid-19 nessas empresas, segundo fontes ligadas ao setor, pode refletir o maior emprego de mão de obra na operação com aves.

Para Thiago Bernardino, pesquisador do Cepea, a oferta nacional de frango só não foi afetada porque a indústria opera com cerca de 30% de ociosidade, o que permite remanejar a operação conforme haja a suspensão pontual em um ou outro frigorífico. Essas interdições têm durado de 20 a 25 dias e, acredita-se, se tornarão mais frequentes conforme a pandemia avance no país.

Realidade diferente dos EUA

Bernardino descarta o risco de o Brasil passar pelos problemas enfrentados pela indústria frigorífica dos EUA, onde o fechamento de unidades provocados pela pandemia já causa o risco de desabastecimento de carne no país.

Além da alta ociosidade da indústria brasileira e da menor demanda interna, a descentralização das operações, com unidades menores quando comparadas às americanas, diluem o risco de um desabastecimento no país.

Com isso, o fechamento de uma única unidade acaba tendo um impacto maior sobre a oferta de proteína animal local no caso dos EUA. “No Brasil, o fato de haver maior ociosidade e também a maior distribuição geográfica pode beneficiar as empresas”, conclui o pesquisador do Cepea. (Globo Rural)