O Brasil tem uma dupla tarefa para com a indústria brasileira em meio ao crescimento do protecionismo nas economias desenvolvidas. Uma delas é acertar as contas com o passado, a partir de mudanças na estrutura tributária e melhoras em infraestrutura.
A outra é tentar correr atrás do que outros países já estão desenvolvendo em termos de novas tecnologias, como a indústria 4.0, robotização, inteligência artificial (IA), entre outros. É o que avalia o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rafael Cagnin.
Sem ter uma política industrial como estratégia central, o Brasil terá dificuldades de inserir os produtos manufaturados no comércio global, além da potencial perda de emprego que pode ocorrer no setor, destaca coordenador do curso de economia da FAAP, Paulo Dutra.
Cagnin explica que a guerra comercial entre Estados Unidos (EUA) e China é somente um aspecto do crescente protecionismo. Após um longo período pulverizando suas indústrias pelo mundo, as economias desenvolvidas querem, agora, reinternalizar as suas plantas. Isso porque governos e empresas de países centrais, como os europeus e EUA, acabaram encontrando lacunas no processo de inovação ao separarem a sua produção – que ocorre, geralmente, em países mais pobres – da parte de pesquisa e desenvolvimento, design, marketing, propaganda – etapas que acontecem em território nacional. “É uma nova etapa da globalização, na qual há uma corrida entre os países para ver quem vai liderar o processo de transformação tecnológica”, diz Cagnin.
Há também uma intenção de gerar, internamente, renda e emprego, já que a indústria costuma pagar salários mais altos do que os serviços.
Paulo Dutra, comenta que, além de ter que lidar com essa corrida internacional, a indústria brasileira terá que se acostumar com o novo cenário de retração dos subsídios. Exemplo disso é a mudança do papel do BNDES, por exemplo, que tem cortado financiamento às grandes empresas, além do perfil de maior restrição fiscal do novo governo – o que deve provocar diminuição nos benefícios tributários e fiscais dados às empresas.
Impostos em discussão
Cagnin acrescenta que falta ao Brasil algo muito básico para melhorar a competitividade industrial: uma reforma tributária. “Os países desenvolvidos, e também os emergentes, unificaram impostos em uma única alíquota na década de 1980. O Brasil ainda precisa saldar essa dívida com o passado”, critica Cagnin.
“Não dá para o Brasil pensar em indústria 4.0, robotização, se há oscilação na rede elétrica, entende? Há décadas o Brasil não investe nem para compensar a defasagem na infraestrutura”, acrescenta.
Para Cagnin, enquanto os demais países possuem uma política industrial como estratégia central de crescimento, o Brasil só está focando em política fiscal, o que é importante, mas não resolve tudo.
Dutra ressalta que esse cenário cria dificuldades para o Brasil avançar na exportação de manufaturados. Por outro lado, ele destaca que o Brasil tem uma elevada competitividade na produção de sementes, carne e leite.
Fonte: DCI