Gustavo Rezende Machado é trainee pela Agrifatto

 

Após os acontecimentos do primeiro semestre envolvendo a cadeia produtiva de carne, alguns países acenderam um sinal amarelo quanto a qualidade da matéria-prima brasileira. Entretanto, os eventos também incentivaram o país a confirmar seu protagonismo no cenário internacional e até ampliar seu mercado consumidor.

Nesse sentido, o mercado árabe destaca-se com 40% das exportações de carne. De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), apenas o Irã foi responsável pelo terceiro maior faturamento com exportações de carne bovina brasileira neste ano, deixando para trás importantes parceiros comerciais como Egito e Rússia.

O país tem sua economia intimamente ligada ao petróleo. Com o fim das sanções internacionais pelo acordo nuclear, seu Produto Interno Bruto (PIB) avançou 7,4% em 2016 e deve terminar 2017 em torno de 4,5% (Agência Estado). Além disso, o país conta com uma população majoritariamente jovem, o que potencializa este mercado consumidor com o aumento demográfico e de renda.

As receitas com exportações de carne para o Irã entre janeiro e novembro cresceram 55,0% na comparação com o mesmo período de 2016. O volume embarcado subiu 44,3% e foi responsável por quase 10% de todo o volume do produto exportado pelo Brasil.

Portanto, o Brasil, que já é uma referência internacional no abate Halal (abate segundo os rituais Islâmicos), deve manter sua competividade nas relações com o mundo árabe e ser ainda mais favorecido por este mercado ao longo de 2018, o que tende a dar um forte suporte aos embarques na próxima temporada.

O gráfico 1 se refere aos principais importadores do produto brasileiro.

A Europa e a Rússia também são mercados a se destacar. As negociações com a Europa têm histórico de longa data, mas houve importante avanço em 2017 entre Europa e Mercosul, e muito embora produtos como o etanol e a carne tenham barreiras protecionistas mais fortes, um acordo desse tipo poderia resultar em aumento de 12% no comércio com a Europa.

Com relação à Rússia, o país já foi o principal importador de carne brasileira, responsável por mais de um terço de todo o faturamento obtido, mas com exceção deste ano, as importações estão progressivamente em queda desde 2008.

Em 2017, o faturamento e o volume embarcado para a Rússia subiram, respectivamente, 27% e 16%, reflexo do início da superação da crise do petróleo.

Portanto, após as sanções contra a carne brasileira, que em última análise causam uma pressão por novos e melhores acordos comerciais entre os dois países, espera-se que em 2018 os embarques sejam retomados e que a Rússia se mantenha entre os principais parceiros comerciais para o produto.

Observe no gráfico 2 a comparação da receita entre 2016 e 2017 aos principais mercados consumidores.

Devido ao crescimento rápido, mudança no estilo de consumo e uma população cada vez mais urbana e monetizada, a demanda pelos países asiáticos é fundamental para o escoamento da oferta mundial e precificação internacional.

Nesse sentido, Hong Kong e China se destacam como os principais destinos da carne brasileira, que contou este ano com variação positiva em média para os dois países de 25% considerando o volume embarcado e de 30% para a receita obtida em relação a 2016.

Segundo os dados parciais do MDIC, entre janeiro e novembro deste ano, os dois países responderam juntos por quase 40% de todo o faturamento e exportações de carne bovina brasileira, sendo a carne bovina in natura o principal tipo de produto enviado aos países asiáticos.

O mais importante é que ainda há espaço para ampliação da demanda oriental, com expectativa que a China ultrapasse Hong Kong e ocupe o primeiro lugar no ranking de países consumidores da carne brasileira ainda nos próximos anos.

Isso porque o apetite chinês pela carne bovina segue em curva positiva, o equilíbrio dos últimos 10 anos ficou em torno de 3,5 kg por habitante a cada ano, mas as estimativas sugerem que este ano se alcance consumo superior a 4,0 kg por habitante.

Desta forma, a ABIEC (Associação das Indústrias Exportadoras de Carne) calcula que em 2018 o número de plantas habilitadas para a exportação aumente em torno de 25 unidades (hoje são 15 frigoríficos). Se confirmadas as aberturas, o faturamento apenas para a China, deve subir em torno de 20% em 2018 e as exportações totais podem crescer ao redor de 15% na próxima temporada (ilustrado no gráfico 3).

Na conjuntura da próxima semana o tema sobre mercado internacional continuará em pauta. Se nesta análise objetivou-se tratar dos principais países consumidores, na análise seguinte o foco será nossos principais concorrentes e como deverá ser a disputa pelo mercado internacional em 2018.